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Jorge Gauthier
Publicado em 13 de outubro de 2024 às 05:00
Quando o relógio marcou 10h33 (horário de Roma; 5h33 no Brasil) do dia 13 de outubro de 2019, em latim com sotaque argentino, o papa Francisco colocou o nome de Irmã Dulce para sempre na história da Igreja Católica. Passados cinco anos desta data, a memória de quem esteve entre os 50 mil fiéis de todo mundo - 15 mil brasileiros - na Praça de São Pedro pulsa em alegria pelo momento histórico que presenciou. A canonização de Dulce foi a terceira mais rápida da história (27 anos após seu falecimento), atrás apenas do Papa João Paulo II (9 anos após sua morte) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos após o falecimento da religiosa).
O processo - que passou pelo reconhecimento de dois milagres pelo Vaticano - trouxe o empenho de uma legião de fiéis da freira; do italiano Paolo Vilotta, postulador da causa da baiana de Salvador (uma espécie de advogado da santa junto com Vaticano) - que não cobrou nada pela defesa; doadores anônimos e também de autoridades eclesiásticas.
“No dia eu estava tão preocupada com tudo que iria acontecer que nem me lembro direito de todos os momentos. Eu lembro com saudade desse dia. Eu e minha tia estivemos com o papa por uns 5 segundos antes da cerimônia. A emoção foi tão grande que minha tia nem conseguiu falar. Eu fiquei muito emocionada quando eu cheguei na praça de São Pedro e vi um banner gigante com a foto de Dulce. Foi a certeza que a partir dali a obra dela seria maior”, recorda Maria Rita Lopes Pontes, sobrinha de Irmã Dulce e atual superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce.
O processo, apesar de rápido, foi árduo. “Muita gente se empenhou nessa causa. Muitas pessoas diziam que ninguém da atual geração da nossa família iria ver ela virar santa, mas conseguimos com muitos esforços. Para você ter uma ideia, em um dos momentos que tínhamos que enviar um documento assinado por dom Geraldo Majela de Castro [Arcebispo Primaz do Brasil] para os Estados Unidos. Era o último dia, mas ele não tinha como assinar. A casa onde ele ficava estava trancada e eu fui lá e passei o documento pela janela para ele assinar. Foi um esforço de muita gente”, recorda-se emocionada Maria Rita Lopes Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce. Ela lembra, inclusive, de muitas doações que as obras receberam para custear o processo, incluindo passagens, hospedagem e dinheiro.
Confira memórias de fiéis de Dulce que estavam no Vaticano no dia de sua canonização:
José Maurício (miraculado - era cego e voltou a enxergar pela fé em Dulce)
“A gente sempre achou que ela era santa em vida. Então, os baianos que estavam lá tiveram muita emoção. Eu estava na missa de canonização de Santa Dulce pelo milagre que ela fez comigo [era cego e voltou a enxergar] e diante do Papa eu ainda levei hóstias no ofertório”
Sabino Oliveira Carvalho e Marivane de Carvalho
“Temos 54 anos de matrimônio, quatro filhos, cinco netos e dois bisnetos. Somos voluntários das Osid e lutamos pela canonização viajando pelo Brasil todo e distribuindo santinho. Fomos em um grupo de 18 pessoas para Roma. Foi uma alegria que até hoje bate no meu coração. Me lembro que naquele dia outros 4 santos se canonizaram. Não lembro o nome deles, mas quando anunciou o nome de nossa Dulce, o Vaticano ficou pequeno de tanta emoção. É uma lembrança que eu vou levar até o último dia de minha vida”
Iris Soeiro
“Foi uma celebração linda e inesquecível. Eu sempre digo que essa essa passagem é algo imensurável. Não tem como medir o privilégio de poder estar presente em diversos momentos da trajetória da vida de Irmã Dulce”.
Josecy Peixoto, médica
“Foi através da residência em clínica médica que eu conheci a instituição e tive a oportunidade e a felicidade de conhecer a Irmã Dulce. Fiz questão de acompanhar esse momento lá em Roma, acompanhei aqui todas as festividades também em Salvador e pra mim sempre é uma emoção muito grande porque isso me remete a lembrança de minha mãe, que era uma mulher muito religiosa e quando eu disse a ela que tinha passado para fazer residência nas obras sociais irmã Dulce, ela literalmente jogou o joelho no chão e disse que seria a maior felicidade da vida dela e também da minha”
Joana Arcoverde, devota de Santa Dulce
“A experiência do Vaticano foi extraordinária, porque recordar a memória dela é rememorar também tudo que ela fez aqui. É impressionante o trabalho que essa freira, franzina, tão limitada de saúde, conseguiu fazer. É uma gigante da fé. Santa Dulce é uma gigante da fé, é uma gigante da dedicação ao próximo, é uma gigante do exercício da fraternidade, é uma gigante no exercício do cristianismo”
Manuela Magalhães, médica geriatra que trabalha nas Osid desde 1988
“Foi uma enorme emoção ver o banner de Irmã Dulce lá no Vaticano sabendo que nós conhecemos a primeira santa do Brasil pessoalmente e que acompanhamos a trajetória dela enquanto instituição. O maior milagre dela é vermos que, mesmo depois dela morta, a instituição se mantém viva, crescendo e dando os novos frutos, formando novas pessoas, ajudando milhares de pacientes, não só na cidade de Salvador, mas no estado da Bahia e no Brasil. Então, estar lá foi algo indescritível em termos de emoção e de fé”.
Osvaldo Lima, devoto de Dulce
“Vi passar um filme em minha mente dos momentos de sofrimento que passei com a minha doença e relembrando das dificuldades que a santa tão querida passou no percurso entre nós, mas sempre seguiu em frente, com a certeza de que, como ela dizia, a obra é de Deus e que o que é de Deus permanece para sempre”
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