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Thais Borges
Publicado em 19 de outubro de 2024 às 07:26
Enquanto o Brasil assistiu a uma ampliação de 358% nas vagas de Medicina na iniciativa privada nos últimos 20 anos, as escolas públicas apenas tiveram apenas 64% de crescimento. Segundo o estudo Demografia Médica 2023, apenas 10% das novas vagas criadas desde 2022 estavam em universidades públicas.
Na Ufba, a quantidade de vagas é a mesma desde antes da implementação do Bacharelado Interdisciplinar (BI) - e antes, portanto, do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), lançado em 2007 e que ampliou vagas da maioria dos cursos. Em 2007, o vestibular que selecionou estudantes para ingresso em 2008 já tinha 160 vagas - as mesmas distribuídas hoje.
É um número menor do que todos os outros cursos de Medicina na capital, com exceção da Universidade do Estado da Bahia, que tem 60 vagas anuais. Todas as particulares, que não oferecem estrutura própria de hospitais e contam com mensalidades que vão de R$ 7 mil a R$ 13,8 mil, têm quantitativos maiores de alunos por ano - entre 200 e 300, dependendo da instituição.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Otávio Marambaia, a abertura indiscriminada de escolas médicas, em especial as privadas, denota uma prática que envolve dinheiro, já que uma vaga em um curso de Medicina pode custar até R$ 3 milhões.
"Muitos conseguem, através de medidas liminares, autorização para funcionar e, na verdade, transferem essas vagas num verdadeiro mercado paralelo de instituições que estão sendo subsidiadas por capital privado numa prática absolutamente mercantilista".
Para Marambaia, um aumento no número de vagas na Ufba, diante da situação atual, não seria adequado pela estrutura formativa e de treinamento dos estudantes. "Nós esperamos que a suspensão não seja provisória, mas que ela seja permanente para facilitar o controle do dimensionamento do número de vagas e da qualidade do ensino que deve ser preservada", diz.
A partir de 2025, a UFRB terá 20 vagas a mais por ano. Ao invés das 30 semestrais, serão 40, de acordo com a professora Rosa Cândida, diretora do Centro de Ciências da Saúde da instituição.
Um aumento maior do que esse é considerado complexo por fatores que vão desde à dificuldade em encontrar professores de algumas áreas, como Cirurgia e Neurologia, dispostos a permanecer no interior, até a falta de campos para prática nos estágios e internatos. Atualmente, a maior dificuldade não é a atenção básica, mas atendimentos de maior complexidade. O Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus atende à demanda atual e ao número a partir do ano que vem, mas não seria possível fazer mais do que isso. Seria necessário buscar outras instituições em outras cidades.
"Temos o Hospital da Criança e o Clériston Andrade, em Feira de Santana, que recebem alunos nossos. Mas esse deslocamento também tem um custo", afirma. "A realidade da gente é bem diferente da realidade da Ufba, até na condição socioeconômica dos nossos alunos. Quase 90% deles dependem de auxílio permanência", completa Rosa Cândida.