Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Thais Borges
Publicado em 16 de março de 2025 às 05:00
Quando a escritora Zoe X anunciou o lançamento de seu último livro, Amor Profano, em setembro do ano passado, suas leitoras habituais encontraram algo um tanto diferente. Era um livro mais ‘suave’ do que vinha escrevendo até então. Zoe, com cerca de 20 títulos publicados, ganhou destaque nas ‘bookredes’ - o nicho literário das redes sociais, incluindo TikTok, Instagram e YouTube - pelo chamado dark romance. >
Em 11 dias, Amor Profano teve 11 milhões de visualizações na Amazon. Diante do fenômeno, Zoe fechou contrato com a editora Faro Editorial para o lançamento da versão física, que aconteceu em fevereiro. Agora em sua primeira tour nacional, ela esteve em Salvador na última sexta-feira (14), para uma sessão de autógrafos na livraria Leitura do Shopping da Bahia. A turnê The Trevas Tour, que teve início em São Paulo, ainda deve passar pelo Rio de Janeiro. >
"Minhas leitoras abraçam e confiam muito no meu texto. Eu já saí do dark romance, fui para o romance normal, para o bully romance, para o romance água com açúcar... E as minhas leitoras compraram todas as minhas brigas", contou Zoe, em entrevista ao CORREIO, no início da semana. A primeira tiragem da versão física, de 20 mil exemplares, já esgotou. >
Se você não é do tipo de leitor que acompanha as tendências literárias nas redes digitais, talvez nunca tenha ouvido falar dela ou fique intrigado com o fato de ela não mostrar o rosto. Desde que começou a escrever profissionalmente na internet, há nove anos, Zoe X - que é um pseudônimo - decidiu que, para manter a própria privacidade, resguardaria a própria identidade. >
"Se eu fosse me apresentar, me apresentaria como Zoe X, autora nacional. Não escrevo para todo mundo, mas talvez escreva para você. Uso pseudônimo porque acredito que me dá mais privacidade me dê liberdade criativa para fazer o que precise fazer", acrescenta. >
Amor Profano, inclusive, é considerado por ela uma boa opção para quem quer conhecer o seu trabalho, mas não quer começar pelos mais profundos. O dark romance, por definição, é um subgênero do romance em que a mocinha se apaixona pelo vilão. No entanto, por tratar de temas como violência, traumas e crimes, o gênero recebeu tanto críticas quanto apoio, desde que se tornou uma febre literária. >
Seu novo livro, contudo, nem é considerado por Zoe um representante do gênero que a tornou famosa. Seria classificado como um romance tabu. A obra conta a história de um amor proibido em que a protagonista Victória se envolve com Alexander, o melhor amigo de seu pai e um homem 27 anos mais velho. >
Era uma ideia que ela já tinha em mente e, faltando 40 dias para a Bienal do Livro de São Paulo, em setembro do ano passado, decidiu que escreveria a tempo de lançar no evento. "Se você olhar meu histórico, muita gente diz ‘ah, é a rainha do dark romance’. Mas eu queria que as pessoas tivessem outra ideia minha", diz Zoe. Ainda que o romance de Amor Profano não seja ‘moralmente correto’, nas palavras da própria autora, não é a mesma coisa que no dark. >
"Ela não está botando a arma na cabeça de ninguém. Todo mundo faz porque quer. Ninguém está sendo forçado e é tudo consensual. É um livro de entrada para um leitor que quer entender como eu brinco e ainda não quer botar os dois pés na porta", acrescenta. >
Internet>
Zoe X é uma paulista de 30 anos que sempre gostou de contar histórias. Desde os 13 anos, trabalhou fazendo ‘de tudo’ em um salão de beleza. Foi lá que, em 2016, uma recepcionista que percebeu que ela sempre andava escrevendo em um caderno perguntou por que ela não publicava. >
"Ela lia muita fanfic e me apresentou algumas plataformas. Como eu não escrevia fanfic, não consegui me identificar e fui procurar por outras. Achei o Wattpad", lembra. Na época, ela começou a escrever uma distopia, que nunca foi finalizada. >
Mas logo descobriu a plataforma de autopublicação da Amazon, que é frequentemente usada por novos autores. "Descobri que o que se vendia em peso na Amazon era o romance +18 e que o top 10 de mais vendidos era dominado por mulheres autoras de romance independente. Já imaginou pagar as contas da minha casa e conseguir me manter com a escrita? Passei a estudar aquilo e falei: ‘vou dar o que elas querem ler, mas no meu molde’. Nunca fui leitora de romance água com açúcar, clichê. Foi aí que tropecei no dark romance", explica. >
Ela percebeu que gostava de brincar com as leitoras e falar sobre assuntos que estão embaixo do tapete. No início, quando escreveu ‘Indomável’, achou que era um romance de máfia - outro nicho que também é queridinho nas redes sociais. No entanto, logo percebeu que tinha mesmo escrito um dark romance. "Quando migrei para a Amazon, já fiquei no top 2 de mais vendidos. Desde então, nunca fiquei fora de um top 10", contou. >
Ela admite que o gênero é polêmico, mas defende que seres humanos não são 100% bons ou ruins. A tendência editorial começou nos Estados Unidos. "Muita gente lia por baixo dos panos, porque era muito julgado. A gente apanhou muito no primeiro momento, até quando perceberam que não dava para segurar".>
No entanto, ela critica a popularização do dark romance entre menores de idade. Zoe até bloqueia seus perfis em redes sociais para menores de 18 anos. "Acho que tem coisa que nem todo mundo pode ser. Acredito no gênero e acredito que as leitoras se divirtam lendo. Mas há de se ter um controle melhor de pais sobre os que os filhos estão lendo, porque menores de idade não podem ler todos os assuntos que estão em um dark romance. É legal ver a popularização, mas é triste ver que o dark romance virou uma bolha em que as pessoas acham que a gente escreve pornografia", diz ela, que defende que as obras tragam uma carga ao leitor com avisos de gatilho e de que não devem ser lidas por menores de idade. >
Foi a primeira vinda de Zoe para a Bahia, mas as leitoras de Salvador já tinham um peso grande na sua carreira. "Tem um pessoal que me acompanha desde lá de trás, com o Wattpad. Todas as vezes que estive mal, tinha alguém que era de Salvador para me ajudar. Tenho uma relação de muita gratidão com as leitoras". >