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Carolina Cerqueira
Publicado em 29 de dezembro de 2024 às 13:03
Uma plantação de cacau e banana na Bahia, uma herança suíça, um apego pela sustentabilidade e alimentação saudável. Essa combinação foi a receita para a criação da marca Selva e Paz, de uma barrinha que não é de cereal e nem de proteína. ‘Fruta de bolso’ é como a empreendedora Gudrun Gotsch, de 40 anos, define o que produz na fazenda onde mora, em Piraí do Norte.
São cerca de nove mil barrinhas de frutas e amêndoas desidratadas produzidas todo mês na fábrica de 196 metros quadrados, que tem capacidade para desidratar 150kg de banana por dia. Os sabores são: banana da terra, banana com coco e cacau, banana com cacau, banana com maracujá e banana com cupuaçu.
“A gente precisa se alimentar das florestas. Quanto mais biodiversa nossa alimentação, melhor, mais próxima do natural, mais saúde teremos”, defende a empreendedora baiana.
História
O primeiro sabor foi cacau com banana, criado a partir de um docinho de banana com uma semente prima do cacau chamada pataste que o pai de Gudrun, o suíço Ernst Gotsch, fazia. Ela nasceu na Bahia e os pais vieram da suíça em 1983, em busca de calor e área para desenvolver o amor pela biodiversidade. Os dois sempre tiveram a preocupação de manter uma alimentação saudável e aproveitar o que vinha da roça.
Foi em terras baianas que Ernst construiu um desidratador híbrido para as bananas que plantava em abundância, unindo lenha e energia solar. A necessidade veio por conta da crise do cacau e da desvalorização da banana em natura.
Quando Gudrun comprou a propriedade vizinha a dos pais, foi da desidratação de bananas que decidiu continuar vivendo, mas indo um pouco mais além. As primeiras barrinhas, em 2015, eram vendidas para os vizinhos, amigos, conhecidos. Os produtos eram embalados em papel manteiga e saquinhos de geladinho.
Expansão e propósito
Até que, em 2017, o negócio foi expandido e começou a ficar sério. Em 2023, a fábrica foi inaugurada. O espaço fica na fazenda mesmo, ao lado da casa onde Gudrun mora com as duas filhas, uma de sete e outra de 12 anos. É lá onde é feito todo o processo de beneficiamento. Uma parte das frutas sai da própria fazenda e outra parte das terras de agricultores familiares parceiros.
Gudrun faz parte da Rede de Agroecologia Povos da Mata, que faz certificação participativa de produtos orgânicos e possui três núcleos no Sul da Bahia. São cerca de 850 famílias envolvidas e um milhão de toneladas de alimentos orgânicos produzidos.
“A gente faz tudo em colaboração com a natureza, potencializando as riquezas que ela nos dá. Nada de monocultura. Temos muito cuidado com o solo, a biodiversidade, a questão social. É um cultivo respeitoso mesmo que aprendi com meus pais”, destaca Gudrun.
A fábrica conta com duas colaboradoras fixas na produção, outro colaborador na parte de vendas e mais um responsável técnico. Gudrun conta que se divide entre a parte administrativa e a operacional. “Acordo junto com o sol, tomo café e vou trabalhar. Fico um pouco na produção e um pouco na parte burocrática, que envolve nota fiscal e envio dos produtos, por exemplo”, explica.
Vendas
Ela não revela o faturamento, mas cada unidade da barrinha custa R$5,77. As caixas com 12 unidades são vendidas a R$65,76. Parte das vendas é feita online, através do WhatsApp (73) 9919-0274 e do site selvaepaz.com.br. O perfil no Instagram do empreendimento é @selvaepaz.
Outra parte é feita através de lojas de produtos naturais. “A gente não vende em qualquer lugar porque entendemos que nosso produto precisa ser explicado. Então, vendemos através de pessoas que entendem a nossa proposta”, defende Gudrun.
“Não é uma barrinha de cereal, não é uma barra proteica, tem um valor agregado diferente. Eu digo que é uma fruta de bolso, um fruto desidratado para você colocar no bolso e levar para onde quiser e comer a hora que quiser”, finaliza.