Dona de avião que caiu em São Paulo enfrenta dificuldades financeiras

Causas do acidente são desconhecidas; aeronave perdeu 4 mil metros de altitude em 1 minuto

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  • Flavio Oliveira

Publicado em 10 de agosto de 2024 às 05:00

Queda aconteceu em área residencial da cidade paulista de Vinhedo; não há sobreviventes Crédito: Tv Globo/Reprodução

Um avião com 57 passageiros e quatro tripulantes que saiu de Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, caiu na tarde dessa sexta (9), na cidade de Vinhedo (SP). Não há sobreviventes. É o maior acidente aéreo do País desde 2007, quando 199 pessoas em Congonhas, na capital de São Paulo.

Imagens da aeronave caindo foram registradas por moradores da cidade paulista. O acidente aconteceu em uma área residencial, próximo à rodovia Miguel Melhado de Campos (SP-324). Nenhuma casa foi atingida.

As causas ainda são desconhecidas, mas a caixa-preta da aeronave (equipamento que registra as condições de voo e conversas dos pilotos) já foi encontrada.

Em paralelo às investigações sobre os motivos do acidente, equipes da Secretaria de Segurança de São Paulo vão trabalhar na identificação das vítimas. A lista de passageiros foi divulgada no final da tarde pela VoePass (antiga Passaredo), que operava o voo. Em comunicado, a companhia lamentou o ocorrido e disse prestar assistência às famílias das vítimas e colaborar com as investigações.

A empresa passava por dificuldades financeiras (ver box). A aeronave, ATR-72, fabricada pela Avions de Transport Régional (ATR), uma empresa franco-italiana e apontado como um avião seguro.

No dia anterior ao acidente (quinta, 8), o mesmo avião apresentou defeito no ar-condicionado, segundo relatos da jornalista Daniela Arbex, que estava no voo. Vídeos compartilhados em sua página no Instagram mostram as pessoas se abanando. Um homem chegou a tirar a camiseta dentro do avião.

"Fiquei muito indignada, porque pela terceira vez a aeronave da companhia apresentava problemas", escreveu a jornalista na postagem. "Se o ar-condicionado estava assim, imagina o restante", disse ontem, em entrevista.

Moradores de Vinhedo que testemunharam a queda do avião relataram momentos de desespero. "O avião começou a rodopiar. Aí ele deu a outra volta. A casa tremeu. E a gente não sabia o que fazer. Corria para dentro, corria para fora. Na hora que ele caiu, já explodiu e começou a sair fumaça e muito fogo", contou Nathalia Poiato, de 61 anos. A aeronave caiu muito perto da casa de Delmiro Menezes de Souza, 65 anos. Com o susto, ele sofreu uma queda brusca da pressão arterial "O avião embicou para o meu lado. Pensei: ‘Agora vai matar eu’. Ele girou e, quando eu vi, foi o baque. Eu tenho pressão alta, mas na hora ela baixou demais", disse.

Especialistas acreditam que a queda pode estar relacionada à formação de gelo nas asas da aeronave. O especialista em aviação e perito criminal do Estado de Goiás, Celso Faria de Souza, explicou que as aeronaves do tipo utilizam um sistema de degelo para restabelecer a plenitude do funcionamento de sistemas de voo realizados a grandes altitudes. Segundo Celso, o sistema de degelo pode ter falhado, afetando os sistemas de navegação, levando a uma perda de altitude de forma não controlada. Segundo registros, o avião da VoePass perdeu 4 mil metros de altitude em apenas 1 minuto.

Atraso impede embarque e salva vida de passageiros

Um livramento. É assim que um grupo de passageiros vê nesse momento o atraso que fez com que perdesse o voo que acabou caindo no interior de São Paulo na tarde dessa sexta (9). Todos os ocupantes do avião - 57 passageiros e quatro tripulantes – morreram no acidente.

O atraso aconteceu, segundo afirmaram, pela falta de informações sobre a decolagem no aeroporto e também por uma confusão entre os portões de embarque.

“Quando cheguei aqui (no aeroporto) fiquei esperando o voo, mas os placares e os microfones não indicaram nada. Não tinha ninguém no guichê. Umas 10h41, mais ou menos, o rapaz falou que eu não ia embarcar mais porque era uma hora antes o embarque. Cheguei a discutir com ele, mas acabou que salvou a minha vida”, afirmou Adriano Assis, um dos passageiros que perdeu o voo, em entrevista ao jornal Hoje, da TV GLOBO.

Para o médico veterinário Oswaldo Fernandes Costa Junior, de 53 anos, a diferença entre a vida e morte foi de apenas dois minutos. Quando ele chegou ao balcão da Voepass, o check-in havia se encerrado há 120 segundos. “Às vezes a gente não entende as coisas que acontecem. Mas posso afirmar que Deus nos protegeu”, falou em entrevista à CNN. “Eu cheguei 10h42 para fazer o check-in. Mas eles têm uma regra e eu teria que fazer no máximo até 10h40. Esses dois minutos me salvaram”, completou.

Outros dois homens disseram ao portal de notícias local CGN que se perderam no aeroporto e foram proibidos de embarcar. Eles relataram que após saberem da queda da aeronave, a revolta por não embarcar se transformou em uma sensação de alívio.

“Nasci de novo”, afirmou um deles, sem ser identificado pelo portal de notícias.

Empresa enfrentava dificuldades financeiras

A Voepass tem 29 anos e é considerada a companhia aérea brasileira mais antiga em atividade. Sua história é marcada por diversos reveses econômicos. Ela foi fundada  em julho de 1995 na cidade de Ribeirão Preto (SP), quando a companhia de transporte rodoviário Viação Passaredo criou seu braço aéreo regional, operando, na época, aviões Embraer 120 Brasília.

Após a implantação do Plano Real, em 1994, a empresa expandiu sua frota com dois Airbus A310 e passou a oferecer voos fretados a estados do Nordeste e a ilhas do Caribe em parceria com operadoras turísticas. A desvalorização cambial da moeda brasileira, em 1999, inviabilizou a operação.

Um novo choque veio em 2002, quando a companhia suspendeu todos os voos. As atividades foram retomadas em 2004, em uma operação independente da Viação Passaredo.

Em 2008, a empresa viveu seu melhor momento, com uma frota de 17 jatos da Embraer. Anda assim, as dificuldades persistiam e a companhia entrou em recuperação judicial, concluída em 2017. Em 2019, os controladores da Passaredo adquiriram o controle societário da MAP Linhas Aéreas, formando a nova marca Voepass Linhas Aéreas. Com 15 jatos da linha ATR da Embraer, a empresa é considerada pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) a quarta maior do país, com uma participação de 0,5% do mercado doméstico.

De acordo com a CNN, a Voepass enfrentava novas dificuldades e acumulava dívidas com prestadores de serviço e aeroportos. As fontes ouvidas pela emissora disseram que havia rumores no mercado de que a empresa estava prestes a entrar com um novo pedido de recuperação judicial.

O ATR é considerado um avião seguro. O modelo conta com diferentes tamanhos, com capacidades que variam de 44 a 78 cadeiras. Cerca de 1600 aviões deste modelo foram comercializados para empresas de mais de cem países.

com agências