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Thais Borges
Publicado em 26 de janeiro de 2025 às 07:04
Por quase dez anos, a escritora Rebecca Yarros escreveu romances militares - sendo, ela própria, casada com um militar da reserva nos Estados Unidos. Mas até então, Rebecca era considerada parte da ‘midlist’ - ou seja, aquele grupo de autores que têm obras que até vendem de forma consistente, mas nunca chegam ao status de bestsellers e, portanto, não aparecem nas listas de mais populares entre os leitores. >
Isso mudaria completamente em 2023, com a publicação da romantasia Quarta Asa, primeiro volume da série O Empyriano, e, posteriormente, com a sequência, Chama de Ferro. Desde então, Rebecca não apenas mudou de gênero - foi para a categoria que une romance à fantasia -, mas ganhou um novo status entre os autores de sucesso. >
Apesar de os dois primeiros livros a terem alçado ao posto de número 1 na lista do jornal The New York Times, a última semana, com o lançamento de Tempestade de Ônix, terceiro e mais novo livro da saga sobre cavaleiros de dragões, foi crucial para consolidar esse patamar. O título chegou ao Brasil na última quarta-feira (22), um dia após o lançamento nos Estados Unidos, pela editora Planeta Minotauro. >
Em poucas horas, já era o livro mais vendido da Amazon americana e ficou em terceiro lugar na loja brasileira. Outros rankings devem ser divulgados em breve, já que contam números semanais. A Planeta confirmou que acompanha vendas significativas desde antes do lançamento e que há "expectativa de presença imediata em listas de mais vendidos". >
Mas as imagens que tomaram as redes sociais - em especial, o TikTok - não foram apenas de resenhas e vlogs de leitura, mas de filas quilométricas dos americanos na porta de livrarias como a Barnes & Noble e lojas de departamento, como a Target. Os estadunidenses deram início a um movimento ainda incomum no Brasil: as ‘festas de lançamento’ do livro à meia-noite, com direito cosplays dos personagens. É quase como ir a uma exibição de filmes como Harry Potter, Crepúsculo e Homem-Aranha à meia-noite, mas, ao invés do cinema, estar numa livraria. >
Pelo alcance nas ‘bookredes’ - os perfis em redes sociais dedicados a falar de literatura -, ela tem sido comparada a Stephenie Meyer, justamente a autora da saga Crepúsculo, que levou à febre dos vampiros nos anos 2010. No ano passado, Rebecca deu mais um passo nesse sentido: vendeu os direitos de adaptação de Quarta Asa para uma série do Prime Video. A showrunner será Moira Walley-Beckett, que tem Breaking Bad no currículo. >
"Há muitos autores de fantasia excelentes no mercado. Cada um tem seus méritos em algo particular: linguagem, construção de personagem e de universo ficcional, capacidade de surpreender e engajar o leitor com a história, etc. A experiência de Rebecca como autora de romances românticos é um de seus maiores diferenciais, pois é justamente esse ‘tempero’ que sedimentou o novo (e já tão potente) gênero da romantasy no campo da ficção especulativa", analisa o editor do livro no Brasil e gerente editorial da Planeta, Mateus Duque Erthal. >
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A escrita entrou na vida de Rebecca Yarros quando seu marido foi enviado ao Afeganistão, depois de ter sido ferido no Iraque. Mãe de seis filhos, ela começou a escrever para lidar com o que sentia pela distância. "Quando eu estava escrevendo Quarta Asa, sentia que não tinha encontrado meu público ideal. Tinha pessoas que me amavam, mas não estava crescendo. Ou você cresce ou entra em declínio, não é?", contou, em entrevista à revista Elle, publicada no último dia 15.>
Apesar da entrada na fantasia, de certa forma, as Forças Armadas não deixam de estar presentes na série Quarta Asa. No livro, a protagonista Violet Sorrengail é obrigada pela mãe, uma general, a entrar no Instituto Militar Basgiath, onde vai passar por um treinamento altamente mortal para se tornar cavaleira de dragão. Lá, ela conhece Xade Riorson, que virá a ser o interesse romântico. Como um bom ‘enemies to lovers’ (inimigos a amantes), no livro, Xaden seria capaz de matar Violet simplesmente por ser filha de quem é. >
Em Tempestade de Ônix, Violet se vê em meio a uma guerra, um ano e meio depois de ter entrado no instituto. De acordo com a sinopse oficial, a personagem estará disposta a tudo para salvar sua família, sua casa, seus dragões e Xaden, após os acontecimentos do final de Chama de Ferro.>
O terceiro livro traz questões que ficaram pendentes nos anteriores, segundo Mateus Duque Erthal, da Planeta. "Tempestade de Ônix expande o universo ficcional criado pela autora e aprofunda a construção de personagens muito queridos. Tudo fica mais grandioso, complexo e com proporções ainda mais épicas – sem no entanto perder a atenção às personagens, algo bastante importante no gênero da Romantasy. Há dragões e poderes, mas igualmente relevantes são relações de amizade, intriga e amor (e sexo)". >
Como é comum nas romantasias e nos chamados livros ‘new adult’ (‘novo adulto’, que tem personagens entre 18 e 30 anos), as cenas de sexo são muito descritivas. No início do mês, o youtuber Felipe Neto provocou polêmica depois que chamou os momentos sensuais dos dois primeiros livros de ‘pornô sem qualquer necessidade’. Ele recebeu críticas de leitores e influencers literários. >
À revista Elle, Rebecca Yarros diz que costuma rir quando escuta os comentários de que os livros têm muito sexo. "Eu digo: ‘bom, se você está mais preocupado com o sexo, eu entendo, mas tem assassinato. Tem muito assassinato. Eu esperaria que pessoas que tem entre 20 e 25 anos, a faixa do new adult, estejam fazendo mais sexo do que assassinatos", retrucou. >
Na série, a protagonista Violet é descrita como alguém que ‘se quebra com facilidade’ - tem articulações e ossos frágeis. São sintomas da síndrome de Ehlers-Danlos, a mesma doença crônica que a própria Rebecca tem, assim como seu filho. Ter uma protagonista com uma doença crônica, inclusive, é um dos aspectos lembrados para falar da representatividade na obra da autora. Além disso, na série, há tanto personagens de diferentes etnias quanto orientações sexuais e de gênero, incluindo uma pessoa não-binária.>