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‘A segurança é uma das áreas em que buscamos cooperar’, diz novo cônsul-geral dos EUA

Em sua primeira visita à Bahia, o diplomata conversou com o CORREIO sobre possibilidades de parcerias no estado

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 30 de novembro de 2024 às 08:00

O novo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands, em sua primeira visita à Bahia
O novo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands, em sua primeira visita à Bahia Crédito: Marina Silva/CORREIO

O Brasil sempre fascinou o novo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands. Nascido em Nova York, o diplomata cresceu na Califórnia e acompanhou o encerramento da carreira de Pelé. "Tenho uma camisa dele no Cosmos", contou, referindo-se ao antigo time de futebol New York Cosmos.

Nesta semana, Rowlands fez sua primeira visita à Bahia, que faz parte da área de atuação do consulado, assim como o Espírito Santo. Em Salvador, participou do fórum Bahia Avança, promovido pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (AmCham) na Bahia e da reinauguração oficial da Agência Consular dos Estados Unidos em Salvador.

"Só de saber que somos duas das maiores democracias e que desempenhamos um papel tão importante no mundo, eu estava muito animado para vir", contou, em entrevista exclusiva ao CORREIO, na última quarta-feira (27), no Palacete Tira-Chapéu.

Ele ainda encontrou o prefeito de Salvador, Bruno Reis; o governador do estado, Jerônimo Rodrigues, e o secretário estadual da Segurança Pública, Marcelo Werner. "A segurança é uma das áreas em que procuramos cooperar com autoridades em todos os níveis - federal, estadual e municipal", explicou. Na entrevista, ele falou ainda sobre relações diplomáticas entre os dois países e sobre oportunidades de projetos em conjunto.

O novo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands, em sua primeira visita à Bahia
O novo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands, em sua primeira visita à Bahia Crédito: Marina Silva/CORREIO

O senhor participou da reunião da AmCham. Que parcerias foram discutidas no encontro?

A AmCham é uma parceira muito importante para nós e representa os laços comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil. Por isso, uma das reuniões importantes que eu quis garantir que teria aqui era com a entidade e com seus membros. Existem muitas maneiras pelas quais nossas economias estão interligadas.

No ano passado, a Bahia exportou cerca de US$ 900 milhões em bens para os Estados Unidos e eles também importaram muitos produtos dos Estados Unidos, especificamente fertilizantes, carros e diferentes investimentos foram feitos na área de energia.

Mas, além desses laços comerciais, é muito importante que esses negócios sejam oportunidades de crescimento para toda a população. Queremos ver, nos dois países, mais mulheres trabalhando e mais de nossas comunidades afrodescendentes e outras comunidades marginalizadas fazendo parte da economia. Se não oferecermos oportunidades para toda a população, é o mesmo que jogar uma partida de futebol com só sete jogadores. Precisamos ter certeza de que estamos maximizando o talento, a inteligência e a criatividade de toda a população.

Neste mês de novembro, o presidente Joe Biden veio ao Brasil e fez uma série de anúncios relacionados ao clima e à economia. Quais são os próximos passos da relação entre o Brasil e os Estados Unidos neste sentido?

O presidente Biden foi o primeiro presidente dos EUA em exercício a visitar a Amazônia e ele fez da proteção ambiental parte central de sua administração. O investimento em tecnologias para energias renováveis ​​explodiu nos Estados Unidos e empresas também estão olhando para isso.

Acreditamos que pode haver ainda mais laços entre nossos setores de energia. O Brasil é um líder global e a Bahia é uma líder no Brasil em tecnologias renováveis. É incrível o que o governo conseguiu realizar em conjunto com o setor privado. Precisamos continuar essa inovação e essa criatividade para garantir que estamos construindo o melhor futuro possível e protegendo nossos recursos naturais.

Outro propósito da sua viagem foi a reabertura oficial a Agência Consultar dos Estados Unidos aqui em Salvador. O que essa reabertura representa? É possível que, no futuro, a agência receba pedidos de vistos?

No momento, não. A agência consular está aqui para dar suporte aos mais de três mil americanos que vivem no estado da Bahia, que é um estado importante para nós. Como cônsul geral no Rio, temos responsabilidade pelo Espírito Santo e pela Bahia, além do Rio de Janeiro.

Um dos principais propósitos dos nossos consulados, assim como os consulados de vocês nos Estados Unidos é garantir que nossos cidadãos tenham os serviços que precisam. Isso inclui o registro de nascimento de crianças, informação sobre como participar da votação, garantir o pagamento de impostos e qualquer ajuda que relacionada a eventos que tenham ocorrido no Brasil.

Essa é a função principal, mas também é uma fonte de informação sobre vistos se as pessoas tiverem dúvidas. No entanto, o processamento de vistos continuará a ocorrer no Rio, ainda que as pessoas na Bahia tenham a opção de ir a qualquer um dos outros consulados ou à embaixada também, se for mais conveniente para elas.

O novo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands, em sua primeira visita à Bahia
O novo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands, em sua primeira visita à Bahia Crédito: Marina Silva/CORREIO

Este ano, os EUA e o Brasil estão celebrando 200 anos de parceria. No próximo ano, teremos um novo presidente americano (o republicano Donald Trump) no cargo. O que podemos esperar do futuro e do relacionamento entre os dois países?

Como você apontou, 200 anos são um relacionamento longo e forte. Nós e o Brasil tivemos muitos presidentes durante todo esse tempo. A base do nosso relacionamento está no crescimento econômico, na parceria em aspectos como os direitos humanos e em uma amizade compartilhada entre os dois países. Esses são os três pilares que dão a base para o nosso relacionamento e eles não mudaram em 200 anos.

Passamos por muita coisa. Haverá algumas pequenas diferenças? Claro, isso acontece o tempo todo, quando há uma mudança de administração. Mas, particularmente, quando olho para os campos de energia algo em que o mundo está trabalhando junto agora; quando olho para a inovação e tecnologia e o crescimento que está acontecendo nesse setor e a maneira como o Brasil e o estado da Bahia estão investindo em educação, vejo muitas áreas para parceria.

E, novamente, volto a dizer que os dois precisamos fazer melhor, garantindo que o crescimento econômico que buscamos inclua toda a nossa população. É absolutamente importante que as mulheres e as comunidades afrodescendentes em ambos os países sejam incluídas nos planos para o futuro.

Há algum projeto novo que pode ser citado?

Uma área que temos para desenvolver é o inglês, porque atrairá mais empresas. O inglês é a língua do comércio global e também é a língua do turismo global. Não importa se é chinês, italiano, francês ou americano. Quando eles vêm aqui, eles falam inglês e reconhecem que essa é a maneira pela qual podem se conectar tanto com a comunidade empresarial quanto com a comunidade cultural, que é tão rica e tem uma história tão maravilhosa aqui.

Sabemos que vocês promovem muitos programas para ensino da língua inglesa para comunidades marginalizadas, para jornalistas e professores.

Temos o programa Youth Ambassadors, que está em vigor há mais de 20 anos e 41 baianos já participaram. Outros dois baianos participarão no ano que vem. Essas pessoas são impressionantes. Mais de seis mil pessoas se candidatam para essas bolsas para ir para os Estados Unidos e você consegue acompanhar o trabalho que eles estão fazendo depois. Tem um ex-participante que está estudando em Harvard e fala sobre as mudanças que pode fazer quando voltar para o Brasil. Isso deu a ele a oportunidade de interagir com um grupo maior de pessoas inteligentes e esse tipo de networking é inestimável. Ter essas conexões e ter essas experiências são uma parte realmente importante do que fazemos e continuaremos a fazer isso.

O senhor teve reuniões com o prefeito de Salvador (Bruno Reis), com o governador da Bahia (Jerônimo Rodrigues) e com o secretário da segurança pública (Marcelo Werner). O que foi discutido nesses encontros?

Foi maravilhoso saber que nossa população afro-americana representa um segmento enorme dos turistas que vêm para a Bahia e aprender sobre as conexões que já existem, mas que podem ser fortalecidas. Nós falamos sobre energia. Ouvir os planos para o desenvolvimento da energia e das capacidades na Bahia foi muito interessante. Eu não sabia que o estado tem silicone de qualidade que pode ser usado em painéis solares da mais alta qualidade. São o tipo de coisa que atrai a atenção das empresas dos EUA.

O desafio é você garantir que a força de trabalho esteja pronta para preencher esses empregos. Quando investimos - e somos a maior fonte de investimento estrangeiro direto no Brasil -, empregamos brasileiros. Colocamos a talentosa força de trabalho aqui para trabalhar como parte do que fazemos.

Foi uma escolha de vocês encontrar o secretário da segurança pública do estado? Porque o senhor provavelmente ouviu que temos enfrentado problemas nessa área.

Nós trabalhamos juntos, buscamos oportunidades para fornecer treinamento. Tinha membros da nossa equipe de polícia nesta visita e, como eu mencionei, temos três mil americanos morando no estado e um número enorme que vêm como turistas.

Assim, a segurança é uma das áreas em que procuramos cooperar com autoridades em todos os níveis - federal, estadual e municipal. Foi uma conversa interessante. Acho que Bahia fez um excelente trabalho ao usar a tecnologia na segurança pública. Eu sei que existem desafios aqui. Eles existem no Rio e eles existem em Washington (DC). Quanto mais pudermos aprender uns com os outros e quanto mais pudermos colaborar, melhor para nós.

É fundamental garantir que não estamos demonstrando preconceito ou discriminação racial na segurança e, assim como estamos trabalhando nisso nos Estados Unidos, queremos ter certeza de que nossos parceiros brasileiros também estão.

Já tem algum projeto oficializado a partir desta reunião?

Foi só o começo da conversa. Temos um excelente contato regular. Nossa equipe de segurança está muito bem conectada com a equipe de segurança daqui.

Esta é minha primeira visita à Bahia para aprender sobre a maneira como as coisas são feitas também.

Quais foram as impressões?

As pessoas em todos os lugares têm sido tão amigáveis ​​e consigo ver por que o turismo é realmente popular aqui. Consegui assistir a um show do Balé Folclórico e é incrível. Eles fizeram mais de 280 shows nos Estados Unidos e deveriam fazer mais shows no Brasil. Eles contaram que só visitaram nove cidades no Brasil, mas nós (americanos) não deveríamos ser os únicos sortudos a ver o quão talentosos eles são.

Seria maravilhoso se eles fizessem mais apresentações por todo o país porque eu nunca vi um grupo mais talentoso. É realmente espetacular, lindo.

Outra coisa que os turistas sempre falam sobre a Bahia é a comida. O senhor já experimentou?

Eu provei acarajé. Fiquei realmente feliz com a comida. É picante e eu cresci na Califórnia. Vários dos meus amigos eram mexicano-americanos, então eu amo comida picante. Nem é tão apimentada, na verdade. Eu já estive em Brasília, em São Paulo. Mas, aqui, tem tempero para valer e eu definitivamente gostei.

Moqueca também é fantástico. Mas eu comi no Rio porque, francamente, o país inteiro se orgulha das contribuições que a Bahia deu para sua cultura geral. É o coração da cultura brasileira. Eu ouvi isso antes e eu acredito agora.