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Thais Borges
Publicado em 7 de abril de 2024 às 11:00
No anúncio de venda, o livro vem com um aviso. “Os conteúdos são muito sombrios, com situações de gatilho, como CNC e consentimento duvidoso entre os personagens principais, violência, tráfico de pessoas, perseguição, tráfico infantil e situações sexuais explícitas. Há também fetiches específicos, como jogo com armas, sonofilia, bondage e humilhação”. O CNC é a sigla inglesa para ‘Consent non-Consent’ (atividades não-consensuais consentidas, em tradução livre).
É assim que Assombrando Adeline, obra da americana H. D. Carlton, é vendido na Amazon e nos sites das principais livrarias do país. O título é um dos principais expoentes de uma nova linhagem do chamado dark romance - um subgênero dos livros de romance que tem conquistado leitores (em especial, leitoras) cada vez mais jovens e que tem crescido vertiginosamente no Brasil. Em Adeline, a protagonista é estuprada com uma arma pelo par romântico. Como esse livro, a maioria das obras dessa corrente literária são acompanhadas por alertas do tipo, além de classificação indicativa 18+.
O movimento do dark romance, que caminha com conteúdos nas plataformas digitais, também tem alçado uma geração de escritoras brasileiras ao topo das vendas. Nos últimos cinco anos, o Google Trends, ferramenta que mostra as tendências de pesquisa no buscador, identificou que, desde 2022, o interesse pelo gênero tem aumentado de forma quase ininterrupta, tendo ficado mais visível a partir do no passado. Mas o auge das pesquisas foi justamente em fevereiro de 2024. Só no TikTok, são mais de 1,5 milhão de vídeos publicados com a hashtag ‘darkromance’, sem contar suas variações. As visualizações na tag passam de 8,4 bilhões.
"Os personagens de romances clichês são descritos como pessoas boas e sem erros muito graves, enquanto no dark romance encontramos justiceiros e homens dispostos a matar e morrer por sua amada. Essas histórias também têm o seu público e agradam muita gente. É um mundo totalmente diferente do que estamos acostumados", diz a criadora de conteúdo Camila Jambeiro, 21 anos. Ela própria teve o primeiro contato com o gênero há dois anos, depois de ter visto um vídeo de resenha no TikTok. Desde então, passou a ser leitora de dark romance.
Embora seja apaixonada pelo gênero, Camila também é crítica de alguns caminhos que têm chamado a atenção, criado polêmica e despertado revolta de alguns. Para parte das leitoras e dos leitores, o dark romance cresceu tanto que muitas obras recentes teriam esquecido o romance, bem como todas as características que o fazem ser o que é, e passado a romantizar a violência contra a mulher em suas diferentes formas. Por sua popularidade, Assombrando Adeline é uma das mais lembradas neste caso, mas está longe de ser a única.
Mudança
Em fevereiro, um dos tweets de Camila viralizou na comunidade literária justamente por fazer uma crítica a um livro que trazia um feminicídio. "Acabei de ver um reel (vídeo do Instagram) sobre um dark romance onde ele taca fogo e mata ela no final. Aí eu te pergunto: cadê o romance? Feminicídio não é dark romance, gente. E é por livros assim que o dark é tão crucificado", pontuou, na publicação que teve mais de 15 mil curtidas e despertou um debate na rede.
Mas não é difícil encontrar debates semelhantes acontecendo quase semanalmente em diferentes plataformas. "Dark romance original eram livros de máfia e coisas do tipo, onde o cara matava e torturava pessoas, mas era sempre apaixonado pela mulher dele e lambia o chão que ela passava. O que estão fazendo agora é romantização da violência contra a mulher", escreveu uma usuária no X, em um post com 61,6 mil likes, em fevereiro.
No TikTok, um dos maiores virais é Corrupt, livro da americana Penelope Douglas da saga Devil’s Night e que tem mais de 18 mil avaliações na Amazon e nota média de 4,5 (de 5 estrelas).
As reações são extremas: desde milhares de vídeos exaltando cenas dos protagonistas até alguns que vão no sentido oposto. Um dos vídeos críticos usa um áudio viralizado de outra situação em que uma mulher imita a voz de outra dizendo ‘ah, mas sabe que apesar de tudo isso, ele gosta de mim’. A mesma mulher responde: ‘Esse homem te odeia, minha filha. Ele odeia você’.
A estudante de direito Beatriz Gomes, 21, começou a ler dark romance aos 18 anos, mas foi iniciada na literatura aos oito anos, com a saga Harry Potter. "Sei que fui uma das poucas que leu (dark romance) já maior de idade", acredita, citando as idades de outras leitoras do gênero. Naquele momento, Beatriz queria ler livros sobre máfia e foi assim que conheceu a primeira obra - um nacional considerado ‘mais leve’ por ela. Na trama, o protagonista é traficante.
Beatriz define o gênero como um livro de romance em que o vilão e a mocinha se apaixonam. Debaixo desse guarda-chuva, porém, há uma grande divisão de temas, como os de tabu, os de harém reverso (em que muitos homens se apaixonam pela protagonista), os de stalker e os de ‘age gap’, que é a diferença de idade
"Tem livros normais, mas elas (autoras) estão perdendo a mão no tabu, que são os de incesto", avalia. "Acho que tem muitos livros, então algumas autoras tentam ousar para ter algo diferente e acabam fazendo com que fique demais".
No início, ela via o dark romance mais como uma literatura nichada. Algo mudou, contudo, quando a saga Devil’s Night, de Penelope Douglas, se tornou popular. "Isso fez com que adolescente lesse. Estourou a bolha e mais pessoas começaram a indicar outros livros, como Assombrando Adeline, até para crianças de 10 anos". Para ela, bons exemplos de dark romance são o nacional Nebulosos, de Tay Ferreira, e a série Twisted Love, de Ana Huang.
Já a criadora de conteúdo e leitora Camila Jambeiro, cita o livro Bad Lies, da brasileira Bianca Pohndorf. Para quem quer começar a ler livros do gênero, ela defende que a proposta do dark romance é incomodar e ser moralmente incorreto. Além disso, nesse universo, é possível amar alguns livros e desprezar outros. E, de forma geral, todos vão abordar temas polêmicos que incluem uso de drogas, sequestro, abuso sexual, abuso psicológico, tráfico e outros crimes.
"Mas, na minha opinião, hoje em dia estão vendendo terror psicológico como dark romance. Não é para o par romântico abusar sexualmente dela ou matá-la. É para ser um romance complicado e problemático, mas acima de tudo romance", enfatiza. "Em algum momento nos últimos anos perderam a mão deliberadamente e passaram a gabaritar o Código Penal nos livros. Pra mim, não há romance se eu não torcer para os dois ficarem juntos", acrescenta.
Essa mudança gradual no gênero também é apontada pelo pesquisador Matheus Lima, mestrando em Estudos de Linguagens e criador no perfil literário @desleitor. Saiu o foco na dinâmica entre o vilão e a mocinha para os aspectos apontados como normalização da violência contra a mulher.
"É uma mudança significativa e preocupante. Essa mudança pode refletir uma busca por narrativas mais intensas e provocativas, mas também levanta questões sobre a responsabilidade dos autores em retratar relações saudáveis e respeitosas, especialmente quando se trata de temas sensíveis", reflete.
Definição
É difícil definir todas as arestas do romance, enquanto gênero, justamente por se tratar de algo múltiplo. Por isso, até mesmo a certeza de que, em um romance, o casal fica junto no final não é uma caraterística fechada, segundo a pesquisadora Gisele Moreira, professora da rede estadual da Bahia e doutoranda em Estudos da Tradução na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Ela cita o clássico Orgulho e Preconceito, livro de Jane Austen, e o filme homônimo de 2005. Elizabeth e Mr. Darcy, o casal de protagonistas, não trocam nem um beijo em nenhuma das duas obras. Nos extras do DVD do filme, porém, há uma cena bônus de beijo para os fãs. "Isso mostra o quanto nós, leitores, precisamos desses selos de que vai estar tudo bem e que o casal vai estar junto. Mas dependendo do estilo do romance, esse momento não vai estar presente, assim como talvez o casal ficar junto é essa ideia que a gente tem muito dos romances mais tradicionais e os mais clássicos, como os de Jane Austen", opina.
A nomenclatura é uma das grandes novidades do dark romance, na avaliação da editora-executiva da Verus, selo do Grupo Editorial Record com foco em romances. Ela cita, inclusive, 50 Tons de Cinza como um dos exemplos mais famosos que já poderia ser incluído nesse subgênero. A possibilidade de autopublicação, que teve um boom graças à plataforma de publicação independente da Amazon, também, teria sido importante para o surgimento de obras com viés de BDSM (práticas consensuais de dominação e submissão).
"É curioso como, em geral, o romance com pegada mais erótica feito para mulheres sofre muito preconceito por si só, como uma subliteratura, como um romance de banca. Mas essa literatura sempre existiu e sempre fez parte do ecossistema que leva pessoas a ler e forma leitores", pondera.
Para ela, essa publicação independente pode ser responsável pelo tratamento que algumas escritoras têm dado a temas sensíveis. Muitos chegam às lojas digitais - e, principalmente, ao Kindle Unlimited, o ‘streaming’ literário - sem passar pelo olhar de um editor. Assim, cenas muito violentas ou até escatológicas, que dificilmente seriam publicadas em uma obra que sai por uma editora tradicional, passam mais facilmente no modelo independente.
"Às vezes, passa do ponto porque tem violência doméstica e coisas desse gênero. Mas é um movimento que está acontecendo para os leitores e eu acredito que uma publicação que seja um pouco menos polêmica ou menos gráfica pode ser publicada, como já vem acontecendo em algumas linhas editoriais. E isso é válido, porque a gente lê muito thriller, muito livro de serial killer e isso não é apologia a assassinato. É literatura de entretenimento como qualquer outra", analisa.
Desde que o gênero explodiu não apenas no Brasil, Rafaella vem observando a tendência. Ela não descarta publicar dark romance pela Verus, mas explica que ainda não encontrou nenhum título para o catálogo da editora. Para ser considerada para publicação, ela defende que a história deve se sustentar. Ou seja, não basta ser um amontoado de cenas gráficas, polêmicas e sexuais.
"Estou analisando algumas obras e não tem nada engatilhado, mas não tenho preconceito. Esse preconceito vem muito por conta da falta de edição, de não ter alguém ali dizendo ‘se esse personagem fizer isso, ele vira um vilão’, porque de forma alguma a gente quer romantizar relacionamento abusivo ou violência", diz, reforçando que as obras são destinadas a adultos, ainda que sejam lidas por adolescentes.
"Mas a gente não deve subestimar o adolescente, porque muitos veem novelas e filmes com uso de drogas ou consome coisas que a gente pensa que era forte. Claro que se o livro for publicado, a livraria tem que sinalizar, a editora tem que sinalizar, mas a escola e os pais devem acompanhar o que esses adolescentes estão lendo".
Apelo
A maioria dos títulos de dark romance está incluída no Kindle Unlimited, que é a Netflix de livros digitais da Amazon. Assim, leitores têm acesso a muitas obras do gênero pagando apenas a mensalidade de R$ 19,99. Além disso, as versões digitais têm preços acessíveis, que chegam a R$ 2,99. Não é incomum, portanto, que muitos dos livros fiquem nos mais ‘vendidos’ da plataforma.
Por isso, para o pesquisador Matheus Lima, não há como desconsiderar a relação entre o preço dos livros e sua popularidade. "Acho que as duas coisas estão completamente intrincadas, já que o acesso fácil e econômico a uma ampla variedade de títulos de dark romance através dessas plataformas torna mais fácil para os leitores explorarem o gênero e descobrirem novos autores e histórias".
Ainda que pareça contraditório, o apelo do dark romance vem da necessidade de consumir histórias românticas e de ver um casal passar por obstáculos até ficar junto, na visão da pesquisadora Gisele Moreira, da UFSC.
Questionar a abordagem dos temas, porém, é válido para ela. "A gente sabe que temas como suicídio e violência para adolescentes são temas muito delicados e precisam ser tratados com responsabilidade. Então, dependendo da faixa etária desse leitor, algumas mensagens podem ser entregues de forma distorcida pela imaturidade. Talvez a pessoa não tenha essa maturidade de fazer a distinção e queira replicar esse tipo de comportamento para a vida dela".
É possível, inclusive, abordar esses tópicos de uma forma que seja possível fazer uma análise crítica dessas representações, como lembra o pesquisador Matheus Lima. "Pensando no público mais jovem que consome esse tipo de literatura, por exemplo, deve ser incentivado a desenvolver habilidades de pensamento crítico e a avaliar o impacto das histórias que consomem".
Nesse mesmo sentido, a contribuição do TikTok - através do nicho BookTok, dedicado à literatura - pode ter contribuído positivamente como também de forma negativa. Autora de Carnificina, um dark romance lançado em março e já com mais de 600 avaliações na Amazon, a escritora Emma S. Grey acredita que a plataforma ajudou a popularizar o gênero de forma ‘errada’.
"Começaram a disseminar que todo livro que aborda temas controversos são de dark romance, e para mim, tem muitas autoras que classificam seus livros de maneira errada também, afinal dark romance vende muito bem", pondera.
Para Emma, muitos leitores mais jovens esperam que temáticas difíceis sejam apresentadas de forma ‘mastigada’, em suas palavras. "Sinto que algumas pessoas não querem pensar, não querem ter reflexões, não querem analisar essa moral duvidosa que os personagens nos apresentam. Gosto muito de ter a ideia que somos responsáveis por tudo que escrevemos, pelo tom que damos, pela profundidade do que queremos apresentar mas acho que o controle do acesso de adolescentes desse livro tem que ser feito pelos próprios pais e não por quem escreve".
Em março, a escritora Emma S. Grey lançou seu primeiro livro - o dark romance Carnificina, que já tem mais de 600 avaliações na Amazon e nota média de 4,6 de 5 estrelas. Aos 23 anos, a escritora já vinha lançando contos desde 2021, todos disponíveis no Kindle Unlimited.
Para Emma (que usa um pseudônimo e ainda divide a escrita profissional com o trabalho como desenvolvedora de software), muito da popularidade do gênero vem de um desejo de mulheres de consumir produtos feitos para elas. "São histórias escritas de mulheres para mulheres, onde a gente sabe expressar os desejos e vontades íntimas que só nós saberíamos como descrever", diz ela, que é uma das representantes da nova geração de autoras no Brasil.
Ela conta que escolheu o dark romance justamente para falar sobre a moral cinza que os personagens do gênero costumam ter. Com o dark romance, Emma diz que consegue explorar a personalidade desses personagens que considera intrigantes."Sou obcecada pela ideia de que as pessoas podem ser ruins, dependendo da perspectiva de quem está contando a história e principalmente, que até os anti-heróis mais sombrios podem amar sem deixar de serem o que são ou precisar se moldar para se encaixar em algo".
Isso não significa que ela não fique receosa quando escuta alguém dizendo que o dark romance não tem limites e deveria explorar tudo. Por isso, ela critica quem coloca estupradores e pedófilos como protagonistas, por exemplo, já que reforçariam violências vividas por mulheres.
"Se são livros escritos por mulheres para mulheres, por que retratar algo que violenta a gente diariamente? Eu nem acredito que exista uma linha tênue. Acho que a linha do limite é bem óbvia e as pessoas fecham os olhos pra isso".
Sonho
Para muitas autoras dessa geração, o dark romance ajudou a concretizar o sonho de escrever. Esse é o caso da escritora Dani Moraes, 48 anos, que lançou títulos como a série Máfia Deck of Cards e, antes disso, trabalhava na área empresarial. Ela já tinha experiências em blogs e começou a publicar no Wattpad em 2019.
"Meu primeiro romance foi um drama, aliás, os três primeiros foram drama. A série era ambientada na Itália, o que me levou a criar histórias com anti-heróis mafiosos, o tipo de personagem comum no dark romance", conta ela, que tem mais projetos em outros gêneros.
Dani também pensa que a possibilidade de autopublicação tornou possível que novos autores sejam lidos no mundo todo. Hoje, ela tem leitoras em países como Canadá, França Itália - algo que julga que seria permitido apenas a autores em grandes editoras.
Os avisos de gatilho, na avaliação dela, são uma forma de evitar a romantização e de ter responsabilidade. "Como autora, eu crio ficção onde os limites são flexíveis, porém, não necessariamente louváveis. Não é possível ter controle sobre quem vai ler e a interpretação é individual".
Desde que não seja romantizado, ela defende que temas sensíveis podem se encaixar em qualquer gênero. "As mulheres têm fantasias e o livro permite que elas realizem tudo na sua imaginação. Quando encerra a leitura, ela sabe que está segura, não está em risco. No mundo real, elas não querem se envolver com o mafioso e, como autora, não incentivo a buscarem isso.
Contexto
Outro nome conhecido no mercado brasileiro de dark romance é o de Zoe X, autora de Bad Prince. Apresentada como um ‘bully romance’ (subtema do dark que tem início com o bullying entre os protagonistas), a obra tem mais de 12,5 mil avaliações na Amazon. Zoe, também um pseudônimo de uma jovem de 29 anos que deu os primeiros passos na escrita ainda criança, escolheu nunca mostrar seu rosto. Sempre que participa de eventos literários, ela aparece cobrindo o rosto.
Mas Zoe se descobriu no dark romance por acaso. Ela nunca tinha consumido algo do gênero e soube do que se tratava quando outras pessoas lhe apontaram, durante a escrita de Indomável, um de seus livros lançado em 2018.
Segundo ela, o livro, que foi publicado inicialmente no Wattpad (plataforma que permite publicação de histórias), teve um milhão de visualizações na época e estreou no top 2 quando entrou na Amazon. Para Zoe, isso foi justamente porque, naquele momento, ainda não se via tanto dark romance.
"Mas eu não escrevo só dark romance, apesar de ter a veia. Tenho clichês, fantasias sombrias, comecei com uma distopia… Acredito que boas histórias devem ser contadas, independente do gênero", analisa.
Zoe também refuta que ter situações de estupro e bullying significam que autores concordem ou propaguem a ideia de que está tudo certo. "Muitas vezes, dentro do contexto inserido dessas situações todas, pelo menos nas minhas histórias, há sempre o questionamento de que isso é errado, seja o personagem questionar o ato do que fizeram com ele ou que ele fez com o outro. Isso não significa que seja perdoável, mesmo que o personagem tenha perdoado. Isso não significa que na vida real isso seja aceitável", enfatiza;
Ela destaca o poder da literatura e que o que funciona para um leitor pode não funcionar com outros. Isso não se aplicaria, porém, pessoas com menos de 18 anos. Zoe reforça que é contrária a leitores mais novos leiam seus livros e, por isso, costuma filtrar grupos de divulgação e colocar avisos de gatilho da leitura.
"Enquanto eu tenho muita gente apontando o que eu escrevo como problemático, tenho o dobro de pessoas me agradecendo por terem enxergado problemas nos próprios relacionamentos. Ou então por mexer em dores que ninguém nunca havia tocado sem julgamentos", pontua. "Sei que o que escrevo não é nem para todo adulto, quem dirá um adolescente que ainda está formando sua visão de mundo?", argumenta.
Zoe diz esperar que, no futuro, o dark romance seja visto como qualquer outro gênero literário - e, se não é para alguém enquanto leitor, que esse alguém não leia. Para ela, é possível dialogar com temáticas sensíveis e contar histórias de superação e transformação. Ao mesmo tempo, ela pondera que nem todo mundo respeita livros que falam sobre tesão e fetiches. Daí, abriria-se uma porta que nem todo mundo respeitaria. Ela cita os kinks, que são as práticas sexuais não convencionais, desviantes ou peculiares. Tudo isso, para a autora, pode ser explorado no dark romance com uma profundidade que pode incomodar.
"O que se confunde muito é achar que, dentro do gênero, um personagem estuprar o par romântico é algo sem contexto, jogado, ou sem consequências, além de querer olhar para enredos que já avisam serem extremamente problemáticos com uma régua moral que ali dentro não cabe", diz.