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Marcio L. F. Nascimento
Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 11:53
- Atualizado há 2 anos
Este é o nome da composição lançada na última semana de 2017, e que estourou nas rádios e internet no verão de 2018, elaborada pela cantora e compositora brasileira Jordana Gleise de Jesus Menezes, mais conhecida como Jojo Todyinho.
Curiosamente, duas semanas antes do lançamento deste hit de grande sucesso, já havia uma resposta, bastante fundamentada e apresentada numa defesa de doutorado no Programa de Pós-graduação em Engenharia Industrial da Universidade Federal da Bahia. A tese, defendida com brilho pelo agora doutor Igor Dantas dos Santos Miranda, orientado pelos professores Antonio Cezar de Castro Lima e Nicolas Julien Sébastien Hervé, foi apresentada com título: “Sistema de Detecção de Disparos de Arma de Fogo de Baixo Custo Utilizando Microfones MEMS e Conversores Sigma-Delta”.
Embora a humanidade tenha evoluído bastante nas últimas décadas, os homicídios infelizmente ainda continuam sendo uma triste realidade. O país teve em 2015 uma taxa de 29 óbitos a cada 100 mil habitantes - o que representa um aumento de 10,6% desde 2005. Apenas para se ter uma ideia, isto significa quase 7 óbitos a cada hora. Boa parte destes números envolve o uso de armas de fogo, configurando portanto uma cultura da violência, sendo a principal causa de morte não natural no Brasil.
Pelo fato do índice de elucidação de crimes de homicídio ser baixíssimo no país, fortalecendo cada vez mais a certeza de impunidade e a desvalorização da vida humana, urge a necessidade da presença, suficiência e qualidade de provas para elucidação destes mesmos crimes. Além do uso de câmeras, a implementação de sistemas de detecção e localização de disparos de armas de fogo tem se mostrado mais uma importante ferramenta tecnológica com o objetivo de combater a criminalidade.
A partir desta triste realidade, o trabalho consistiu no desenvolvimento de um novo sistema de detecção e localização de tiros baseados em monitoramento acústico. Existem soluções comerciais disponíveis desde a década de 1990, a maioria de custo relativamente elevado (entre 16 e 60 mil dólares por quilômetro quadrado). A proposta visou reduzir o número de sensores (microfones) e implementar formas de processamento digital de sinais (softwares) mais rápidos e de baixo custo. Métodos de reconhecimento de padrões foram utilizados para distinguir eventos quaisquer (como o bater de portas, martelos ou a explosão de fogos de artifício) de outros, caracterizados como eventos impulsivos de alta intensidade, vinculados a tiros por armas de fogo.
Vale lembrar que a primeira arma de fogo de repetição, constituída por um tambor que revirava (ou revolvia) cartuchos de bala, foi desenvolvida pelo inventor e industrial americano Samuel Colt. Colt concebeu uma primeira patente, inglesa, de número GB 6,909 em 22 de outubro de 1835, com o título: “Certain Improvements Applicable to Fire Arms” (“Certas Melhorias Aplicáveis a Armas de Fogo”). Sua segunda patente, americana, foi concedida em 25 de fevereiro de 1836, sob número US 9,430X, de título: “Improvement in Fire Arms” (“Melhoria em Armas de Fogo”).
Assim, tal tese, bastante concisa, bem escrita e fundamentada, é portanto de enorme relevância e interesse para a engenharia e para sociedade. Um protótipo foi elaborado, tornando possível patentear tanto o sistema quanto registrar o software desenvolvido. Tal trabalho, de combater a violência com inteligência, não pretende resolver a insegurança diária sofrida pelos brasileiros, mas tende a auxiliar no monitoramento e na elucidação de crimes - um importante passo, mas não o único. Espera-se portanto que num breve futuro seja apenas uma mera lembrança a brincadeira de se desmaiar de repente ao ouvir a canção “Que Tiro Foi Esse”.
Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA