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'Faraó Divindade do Egito', um dos maiores clássicos da música baiana, completa 35 anos
Marcio L. F. Nascimento
Publicado em 8 de março de 2022 às 21:00
- Atualizado há um ano
“Deuses, Divindade infinita do Universo...” são os primeiros versos de um dos mais belos hinos momescos. O Carnaval de 1987 foi marcado por uma explosão avassaladora de sons e cores via uma batida característica misturada a um ritmo de percussão e guitarras diferente e contagiante. E lá se foram 35 anos de um dos maiores sucessos que a Bahia, o Brasil e o mundo já revelaram.
Desde aquela época, algo de espetacular ocorre a quase todo(a) baiano(a) quando começa a cantarolar “Ê, Faraó”. Difícil explicar como, desde 1987, esta inesquecível canção ainda domina e fascina corações e mentes numa explosão avassaladora de sons.
A batida que pulsava corações sob os vigorosos tambores do Olodum literalmente rodou o mundo. Depois de tanto tempo, curiosas histórias não param de surgir. Por exemplo, o poeta, jornalista e produtor musical James Martins mostrou em seu Instagram documentos da letra original, submetida ao moribundo Departamento de Censura da Ditadura Militar que, acreditem, funcionava ainda em 1987. A gloriosa canção foi avaliada dia 27 de janeiro, e liberada dia seguinte, solicitada pela Rádio Itaparica FM.
O estrondoso sucesso já havia estourado, primeiro boca-a-boca, e depois na mídia. A Rádio Itaparica apressou-se na corrida daquilo que agitava as multidões do Centro Histórico. Assinada por um jovem chapista, seu título protocolar de solicitação da avaliação era diverso daquele que ficou mundialmente conhecido, que tratava de uma longa narrativa de criação do universo envolvendo “Deuses, Cultura Egípcia e Olodum”.
Este grande sucesso musical, que recebeu o título de “Faraó (Divindade do Egito)”, é da lavra de Luciano Gomes dos Santos (n. 1966). Tal canção foi lançada por Djalma Oliveira (c. 1958) e foi imortalizada na bela voz de Margareth Menezes (n. 1962). Tal história foi contada, entre outras tantas, no belíssimo documentário do publicitário e cineasta Francisco Mascarenhas Kertész (n. 1980) – “Axé: Canto do Povo de um Lugar” (2017), que contou ainda com esmerado roteiro do mesmo James.
Poucos se lembram, mas coincidentemente houve um raro e espetacular evento cósmico chamado Supernova. Tal colossal explosão estelar ocorreu naquela semana de pré-carnaval, terça, 24 de fevereiro, ao tempo em que rufavam os tambores olodunicos.
Toda supernova consiste numa titânica explosão – literalmente, a morte de uma estrela. Este evento foi a mais brilhante explosão estelar registrada desde a invenção do telescópio. Após seu dramático e catastrófico colapso, foi denominada Supernova 1987A.
Estrelas nascem de nuvens de gases e poeiras dispersas no oceano cósmico que existem desde o Big Bang ou ainda dos restos de outras estrelas que não mais existem. De tempos em tempos, em algumas regiões do espaço estes gases se concentram, formando aglomerados, em geral de hidrogênio e hélio. A gravidade auxilia, atraindo cada vez mais a matéria, e ao longo de milhões de anos, quando há muita matéria, os átomos começam a se fundir, colidindo uns contra os outros, e liberando energia na forma de luz e calor, promovendo o primeiro brilho da fornalha estelar. Após longo tempo, ao consumir todo hidrogênio por fusão, núcleos de outros átomos são formados. Há, portanto, um balanço de forças gravitacionais, atraindo a matéria em direção ao centro da estrela, e as forças nucleares agindo ao contrário, pela expansão, dentro da longa noite cósmica. Quando o combustível estelar cessa, a estrela pode explodir numa supernova.
Existe hoje uma melhor compreensão da formação do universo graças a registros de fenômenos como a Supernova 1987A. Não restam dúvidas que os ecos desta explosão estão umbilicalmente associados aos coloridos e ritmados tambores do Olodum bem como ao seu primeiro grande sucesso: Faraó.
*Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química da UFBA e membro do Instituto Politécnico da Bahia