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Marcio L. F. Nascimento
Publicado em 21 de maio de 2018 às 17:41
- Atualizado há 2 anos
Falsa notícia, ou “fake news”, é assunto desde sempre. De fato, notícias falsas têm sido objeto de maior destaque exatamente nestes tempos de redes sociais e pós-verdades. Grosso modo, consistem em desinformação ou boatos distribuídos deliberadamente através de quaisquer mídias, principalmente as ditas sociais.
Tal termo foi popularizado pelo empresário e presidente americano Donald Trump durante a campanha presidencial de 2016. No Brasil podem-se destacar dois importantes momentos: a reeleição da economista Dilma Rousseff em 2014 e seu impeachment dois anos depois, onde foi possível verificar claramente a presença de notícias falsas. Tais notícias fabricadas são publicadas com a intenção de enganar, em geral vinculadas à possibilidade de algum ganho, seja monetário ou mesmo político, e se diferenciam da sátira ou mesmo da galhofa ou paródia, que não tem intenção de prejudicar.
O termo viral, que em geral acompanha as falsas notícias, é bastante significativo, pois estas se espalham como se fossem vírus, atingindo centenas, às vezes milhares ou mesmo milhões de pessoas. Os cientistas que analisam tais dados observaram que o comportamento da propagação de notícias falsas se assemelha a modelos matemáticos usados para rastrear doenças, e a partir disto podem compreender melhor tal fenômeno.
Como as pessoas estão cada vez mais conectadas em redes sociais, e as informações, verdadeiras ou falsas, são elos que as conectam, é possível desenvolver modelos que descrevem tais comportamentos em várias situações. Por sinal, o termo rede não é um acaso: sugere que cada nó está conectado aos demais. Desta maneira, cada nó representa alguém, e as relações entre as pessoas, expressas por trocas de mensagens, podem ser vistas como conexões ou ainda as linhas entre um e outro nó.
Em termos virais, uma infecção, seja uma simples gripe, ou mesmo o recebimento de uma falsa notícia, pode se propagar por meio desta rede, atingindo pessoas, seja ao se cumprimentar ou mesmo partilhando tais fake news, estabelecendo um contágio.
A dificuldade de distinguir verdadeiro de falso não é algo novo... O filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596 - 1650) afirmava que a matemática seria a única ferramenta desenvolvida pela humanidade em que seria possível distinguir a verdade do erro, e assim escreveu as regras fundamentais que orientam seu “Discurso do Método”, fonte da ciência e da matemática modernas.
Como exemplo recente, publicado na revista Science em 9 de março de 2018, pesquisadores liderados pelo cientista da computação turco-americano Sinan Aral comprovaram, por meio de dados de redes sociais, que noticias falsas se espalham de forma mais rápida, fácil e ampla na internet do que notícias verdadeiras, sejam estas boas ou ruins.
Esta pesquisa de ampla escala analisou aproximadamente 126 mil breves histórias compartilhadas por uma rede social de mensagens curtas referentes a 3 milhões de pessoas, que as repetiram 4,5 milhões de vezes durante o período entre 2006 e 2017. Tais notícias foram validadas enquanto verdadeiras ou falsas usando informações de até seis organizações independentes de verificação de fatos: snopes.com, politifact.com, factcheck.org, truthorfiction.com, hoax-slayer.com e urbanlegends.about.com. Estas organizações exibiram informações classificadas em termos de veracidade com uma margem de segurança entre 95 e 98% de certeza. A predominância de falsas notícias eram mais de cunho político, seguidas de lendas urbanas, finanças, terrorismo e guerras, ciência e tecnologia, entretenimento e desastres naturais, nesta ordem.
Vale lembrar os impressionantes números de outra rede social, que em cada minuto de 2018 havia 2 bilhões de pessoas compartilhando até 10 bilhões de conteúdos, entre mensagens, fotos, vídeos e áudios. Tais dados constam do livro “The Hype Machine” (“A Máquina Publicitária”, numa tradução livre), do mesmo professor Aral.
Embora aparentemente fria e austera, a matemática pode avaliar um crescente volume de informações efetuados em tempos cada vez mais curtos. Ela possui ferramentas para se checar fatos e apresentar soluções em termos quantitativos para validação de notícias falsas. Assim, o uso de princípios, procedimentos e algoritmos matemáticos deverão continuar, cartesianamente, servindo para distinguir o verdadeiro do falso, a verdade dos fatos, e principalmente os fake news, estes verdadeiros venenos da mente. O antídoto mais eficaz e de conhecimento de todos: educação, principalmente educação cientifica de qualidade.
Concluindo, se o antigo ditado dizia que “notícia ruim vem a cavalo”, notícia falsa chega comprovadamente muito mais rápida...
Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA