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Gabriel Galo
Publicado em 12 de novembro de 2018 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
A mística de um clássico é carregada no mantra das certezas e verdades individuais. No Ba-Vi, o maior clássico das galáxias – quem questionar é bairrista –, a preparação já apontava caldo grosso e saboroso. No dia onze do mês onze. Fosse o gestor do ludopédio um defensor do alinhamento estelar, botava apito inicial às onze horas e onze minutos e deixa pros deuses. Com essas coisas não se brinca, ora!
O misticismo era alimentado pela data comemorativa dos 32 anos da inauguração do Barradão. Nele seria sacrilejado o tal do futebol, entre pernas-de-pau de um enfadonho e desesperado rubro-negro contra o organizado e saciado tricolor.
Quer melhor oportunidade que um Ba-Vi para recuperar a autoestima do pré-sal da alma desiludida? Ou então para enterrar de vez a cabeça do avestruz no buraco da Série B?
A torcida atendeu ao apelo, mesmo contra o prognóstico. E o que é torcer senão alimentar a barriga do auto-engano e da vã esperança?
A bola rolou quadrada, mas mesmo quando ainda muitos se espremiam buscando sua entrada sempre dificultada nas dependências do Barradão, Léo Ceará estufou as redes para abrir o placar. A nação rubro-negra vibrava em êxtase. Era possível!
Ao selecionado – com alto grau de aceitação de pífia qualidade – vermelho e preto, desprovido de técnica e qualidade, restava a opção da garra, da luta, do empenho. Coração no bico da chuteira. Lembrando que para os pés dos de baixo quilate, tudo é bico.
O querer em excesso suprimia a técnica-nenhuma contra um Bahia que pouco almeja. Só que o onze tricolor é mais forte e organizado. E mesmo em terreno desfavorável, sapecou o empate, calando os desconfiados da arquibancada.
Intervalo, hora de apelar sentimento ao santo de sua prática, reforçar a simpatia, verificar se o processo de garantia de intercedência do universo estava em andamento por que cada um fez o que dele se esperava.
Na volta ao segundo tempo, o resto de tática foi enterrado para dar lugar a chutões e chorões que, desequilibrados, sacolejavam sem parar em pé. E foi num passe em profundidade que a zaga tricolor falhou e Léo Ceará, o iluminado da tarde, fez 2x1.
O Barradão ergueu-se como maior centroavante da história rubro-negra que é. Que festa! Mas o senhor do universo, talvez buscando nivelar pedidos de aqui e acolá, levantou placa de substituição, saindo a empolgação, entrando a realidade. Sem nem deixar o bolo esfriar, em medonha esculhambação ensaiada, outro empate.
O vai-não-vai não há quem aguente!
Por fim, o empate se encaixa no discurso conciliador do yin-yang maior-que-nós. 2x2 no onze do onze. O que deixa pensa a gangorra são os 10 jogos sem triunfo pro lados de Canabrava. Sinal de que não há efeito místico nem estádio-centroavante que monte frente a uma superioridade tão acachapante de um rival que vê seu adversário lá do alto.
Gabriel Galo é escritor