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Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2021 às 05:02
- Atualizado há 2 anos
Pronta para mais um dia, já não sei qual a função que exerço, antes da quarentena eu era apenas uma professora, agora me sinto uma plantonista de WhatsApp, que por sinal acaba de tocar. Antes de visualizar, penso que pode ser a direção da escola me convidando para mais uma reunião para discutirmos sobre as estratégias metodológicas para o ensino híbrido ou os áudios dos alunos ou dos pais, mensagens que não têm hora para chegar. Eu sei que o momento está exigindo outras habilidades, que até então eram desconhecidas, espera aí, que “momento”? Acho que se esqueceram que nós professores também estamos vivenciando a pandemia e precisamos de acolhimento, suporte, e, em especial, sermos consultados se estamos preparados para o retorno híbrido, mas é como se fôssemos “um peixe” fora d'água.
É dessa forma que a classe docente se sente diante desse contexto pandêmico, onde o Brasil registra aproximadamente 3 mil mortes por dia; é assustador, mas o trabalho desses profissionais precisa seguir, como se nada estivesse acontecendo! Mas, como fazer para desvincular a minha vida profissional dos diferentes contextos: políticos, saúde, educacional, cultural e pessoal? Procuro respostas, mas não encontro, principalmente quando penso na ausência da autonomia na execução do nosso trabalho no atual cenário político brasileiro.
O Censo Escolar, responsável por coletar dados da Educação Básica em todo o Brasil, mostrou em 2019 que temos mais de 2 milhões de professores atuando na educação básica, e a maioria desses profissionais trabalha em mais de uma escola para complementar a carga horária e a renda, imaginem a situação desses professores que lecionam disciplinas diferentes, em escolas diferentes, para planejarem as suas aulas visando à acessibilidade para esse retorno híbrido.
Em 2020, eu e o professor Diego Ramon Souza Pereira (DS/UFSCar) iniciamos uma pesquisa sobre “Trabalho docente: metodologias de ensino-aprendizagem em tempos de pandemia”. Os resultados mostraram que 63% dos professores que participaram da pesquisa não se sentiam preparados para atuarem no ensino híbrido. As justificativas foram diversas, tais como: dúvidas, principalmente quanto ao planejamento das atividades que contemplassem à acessibilidade; não se sentirem preparados para trabalhar em tempos de crise, e que se sentiam pressionados por parte de instâncias superiores e pais dos alunos para voltar a ensinar no presencial.
Preciso elucidar, que não é a nova forma de ensinar que nos está adoecendo, é o sistema que nos exclui cada vez mais da profissionalização. Tudo isso nos provoca um estresse acentuado e gera um esgotamento emocional, pois não temos acompanhamento psicológico e não fomos consultados sobre esse retorno híbrido, por isso, “nos sentimos um peixe fora d'água”.
Andreia Cristina Freitas Barreto é professora da UNEB/CAMPUS XVIII, doutoranda em Educação da UFBA - [email protected]