Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2013 às 08:45
- Atualizado há 2 anos
"A Bahia é da magia, dos feitiços e da fé”. “O baiano não gosta de trabalhar”. Eis alguns dos mitos cultivados há tanto tempo em torno de uma terra e de um povo, que nem dá para culpar o cantor Rogério Flausino, do Jota Quest, de ter inventado coisa no último sábado, no Wet’n Wild. Para manter o pique da plateia, ele falou que todos poderiam virar a noite ali, pois “aqui em Salvador a galera já não trabalha e domingo, então, nem fudendo”.
O público vaiou o mineirinho, que deveria ter ficado quieto. Ele se desculpou e falou que no seu estado ri com piadas sobre conterrâneos comedores de pão de queijo. Flausino provocou uma plateia com potencial para o mercado de trabalho, que pagou a inteira a até R$ 160.
E futucou no doído tema da depreciação que ronda baianos e, de forma geral, nordestinos, que no século passado passaram a dispor mão de obra barata no Sudeste. Numa comparação grosseira, eram vistos como incompetentes por concorrentes como os médicos cubanos chegando ao Brasil de 2013.
Mas, voltando ao passado, a fórmula da “baianada” teve incremento lá atrás, com Dorival Caymmi. O cantor e compositor que pegou um ita no Norte, serviu, com seus balangandãs e sua ode à vida junto ao mar, à proposta de identidade nacional de Getúlio Vargas. Com as simplificações sobre o estilo de vida que ele cantava, o próprio artista observou que se solidificava o mito da preguiça.
Seu depoimento foi registrado por Marielson Carvalho no livro Acontece que Eu Sou Baiano: “As pessoas sempre dizem isto. Dizem até que sou a própria vida baiana, dengosa, mole e devagar (...) Mas tem milhares (de baianos) que dão um duro danado”.
O preconceito com o baiano remonta ao tempo em que senhores ficavam nas janelas dos seus casarões gritando com escravos que seguiam para o centro de Salvador subindo a montanha, penando com suas cargas. Era a Ladeira da Preguiça, de uma época, como entoava Elis Regina, que se amarrava cachorro com linguiça.
Dados contemporâneos sobre a indolência baiana surgem em tese defendida na Universidade de São Paulo (USP), em 1998, pela antropóloga Elisete Zanlorenzi. Ela constatou, entre outras coisas, que no Carnaval de 1994 uma empresa do Polo Petroquímico de Camaçari teve menos faltas de funcionários do que sua filial de São Paulo.
Ou seja, quando há trabalho bem remunerado e boas condições, o baiano trabalha. Com taxa de desemprego caindo em julho para 19,1%, Salvador ainda caminha para desfazer preconceitos.
Assista###YOUTUBE###