Chiclete com Banana, meteoros e cometas em Salvador

Meteoros, chamados erroneamente de 'estrelas cadentes', são mais comuns do que se imagina

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  • Marcio L. F. Nascimento

Publicado em 8 de março de 2018 às 13:20

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“No Mistério das Estrelas / Tento Sonhos Desvendar / Entre Lumes e Cometas / Vou ao Espaço Procurar”... Foi exatamente com esta bela canção, “O Mistério das Estrelas”, do álbum “Energia”, lançada em 1984, que surgiu o primeiro grande sucesso da consagrada banda Chiclete com Banana, rendendo o primeiro disco de ouro. Segundo grupo musical que mais vendeu discos, CDs e DVDs no país, esta particular canção contou com a primorosa letra de Edmilson “Missinho” de Amorim Ferreira e a carismática voz de Washington “Bell” Marques da Silva.

Ao observar os mistérios das estrelas, cientistas tentam desvendar, entre lumes e cometas, exatamente como disse o poeta, um assombroso evento ocorrido na noite de 20 de fevereiro de 2018 na Bahia. Astrônomos procuram respostas no espaço referentes à possível queda de um meteoro, seguido de uma espetacular e brilhante explosão, bastante visível aos moradores da cidade de Salvador. O fenômeno, um lume celestial, registrado por várias câmeras, conseguiu ofuscar por alguns segundos o belo brilho do luar que encobria a cidade.

É importante esclarecer algumas diferenças entre meteoros e cometas. Meteoros são objetos celestes que rompem a atmosfera, provenientes do espaço, e se desfazem no ar. Quando atingem o solo, são denominados meteoritos. O mais conhecido foi denominado como Pedra de Bedengó, toda feita de ferro, pesando 5260 quilos, que caiu em Monte Santo, sertão baiano, há mais de duzentos anos (existe uma réplica no Museu Geológico da Bahia). Vale lembrar que ano passado, mais precisamente no dia 26 de março de 2017, pela manhã, foi observado um belíssimo risco nos céus, seguido de estrondo, tremores e clarões, devido provavelmente à passagem de outro meteoro.

De fato, os meteoros, chamados erroneamente de “estrelas cadentes”, são fenômenos mais comuns do que se imagina, ocorrendo com grande frequência ano a ano. Maiores detalhes podem ser obtidos acessando dados da rede colaborativa EXOSS (http://press.exoss.org), que identifica e mapeia tais eventos em conjunto com o Observatório Nacional (www.on.br).

Já os cometas, verdadeiras carruagens de luzes, são viajantes interplanetários que nos visitam de tempos e tempos, mas nunca atingem nossa atmosfera. Ao se aproximarem do sol em trajetórias precisas, determinadas pelo genial físico, matemático e astrônomo inglês Isaac Newton (1643 - 1727) em 1687, costumam exibir uma coma e uma cauda, que em geral são feitas de resíduos liberados pela passagem dos próprios cometas. Desta forma, estes particulares astros iluminam os céus com belos riscos por várias horas (ou mesmo dias).

Curiosamente, uma parte dos dados astronômicos utilizados por Newton surgiu a partir das informações publicadas pelo matemático, astrônomo e padre jesuíta tcheco Valentin Stansel (1621 - 1705), que observou um cometa passando pelos céus da Bahia a partir do bairro do Pelourinho há 350 anos, mais precisamente no dia 5 de março de 1668. Esta pode ser considerada como a primeira observação precisa e cientificamente registrada no país, efetuada por um professor do Collegio do Salvador da Bahia, também conhecido por Colégio dos Jesuítas, localizado onde hoje se situa a Catedral Basílica do Salvador, a Faculdade de Medicina da Bahia e a Praça da Sé.

Como tudo em ciência, há a necessidade de se comprovar e coletar mais informações, até se ter uma certeza sobre a possível passagem deste recente e enigmático bólido. Portanto, no silêncio do luar, cientistas vão tentando encontrar respostas sobre este misterioso e magnífico evento, exatamente como previsto pelo poeta.

Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA