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A Península de Itapagipe - um território negro

  • D
  • Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2021 às 05:44

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

A Península de Itapagipe - um território negro urbano -, suscita narrativas sobre mobilização social, resistências e enfrentamentos para garantir que suas demandas sejam atendidas pelo poder público. São associações, igrejas, povos e comunidades de terreiro, grupos culturais organizados e empresários que reivindicam melhorias para esse conjunto de bairros. Essas organizações buscam garantias de direitos sociais, políticos e civis, os quais constantemente não são efetivados nos territórios negros de Salvador.

O território compõe de forma indissociável a reprodução dos grupos sociais, com suas relações sociais espacial ou geograficamente mediadas. Milton Santos afirmou que cada indivíduo “vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor, consumidor, cidadão, depende de sua localização no território”.

Compreende-se a identidade negra como uma construção relativa que é individual e coletiva, a partir de marcadores socioculturais e simbólicos. Festas populares e religiosas, grupos de São João, hip hop, capoeira, samba e pagode, teatro, poesia, música; uma potente economia criativa. São territórios urbanos produzidos socialmente, por meio das histórias e memórias coletivas vinculadas a uma realidade concreta e vivida cotidianamente, onde é possível identificar espaços impregnados de afetos, sensações e lembranças ancestrais e diaspóricas.

Para entender os territórios negros, um elemento fundamental é a identidade negra, resultado de uma construção racial utilizada pela colonialidade para estabelecer hierarquias de poder. O Movimento Negro brasileiro ressignifica e fortalece a ideia de identidade negra como estratégia de combate à narrativa da mestiçagem homogeneizadora, fruto da política de embranquecimento racial no Brasil, onde a contribuição da população negra é tratada como acessório e folclore, e não como aspecto estruturante da sociedade.

Portanto, os poderes públicos precisam dialogar com os que pensam e vivenciam Itapagipe com sua identidade negra, com planejamento, estratégias e investimentos para que as demandas dos itapagipanos sejam consideradas na elaboração e implementação de políticas públicas. Essa península, variando de espaço a espaço e de função a função, variou também no tempo, aproximou-se mais da cidade, diminuiu o seu recôncavo e reúne as famílias no pôr do sol, à beira mar, na sorveteria da Ribeira, atraindo turistas e soteropolitanos.

Leomar Borges dos Santos é consultor da AfroAscendente Gestão da Diversidade, membro da Junta Definitória da Irmandade da Igreja do Rosário dos Pretos, membro do grupo de pesquisa ÌTÀN – Poéticas da imagem: outras grafias, narrativas insurgentes do Pós-Afro/UFBA.