Saiba quais suplementos alimentares podem causar danos ao fígado e rins
Os riscos foram relatados em uma pesquisa da Universidade Federal da Bahia
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Vitor Rocha
vitor.leandro@redebahia.com.br
Utilizados para complementar a falta de nutrientes na dieta e auxiliar na busca por uma vida mais saudável, suplementos alimentares como compostos proteicos, determinadas frutas e óleos podem causar lesões hepáticas no fígado e, em alguns casos, danificar os rins. É o que relata um estudo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em conjunto com instituições universitárias do Uruguai, da Argentina e da Espanha. O levantamento observou casos de 468 pacientes, ao longo de dez anos, distribuídos entre dez países na América Latina.
De acordo com o hepatologista e coordenador do estudo na Ufba, o professor e médico Raymundo Paraná, um dos mais conceituados na especialidade, produtos que auxiliam no ganho de proteína e creatina podem sobrecarregar os rins. Ele explica que os compostos em excesso, quando consumidos por pessoas que não têm necessidade do complemento, prejudicam o processamento dos nutrientes pelo órgão. “Quando tem doença associada a esses suplementos no fígado, o que não é raro, é porque muito provavelmente contém substâncias tóxicas que não estão descritas nos rótulos”, explica.
Recentemente, nove sites tiveram de suspender a venda de 48 marcas de "whey protein" por conta de informações enganosas nos rótulos. Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad) apontou que, em 2020, 59% dos lares brasileiros registravam ao menos uma pessoa consumindo este tipo de suplementos alimentares.
Frutas e óleos recomendados para emagrecimento, controle de colesterol e diabetes também estão dentro do recorte da pesquisa. Raymundo Paraná aponta alguns tipos de frutas como garcínia cambogia e noni, e os óleos aloe vera (babosa) e óleo de cártamo como causadores de inflamações no fígado.
“Primeiro começamos a ver os casos. A partir da suspeita de causa-consequência, vamos estudar a erva e os suplementos. Vemos se já tem relatos médicos, depois avaliamos os princípios ativos e aplicamos um algoritmo de validação para começar a relatar. É um longo caminho, poucos se dedicam a isso. Para a sorte de quem vende e sofrimento de quem usa”, destaca.
Coordenador dos ambulatórios de Hepatotoxicidade e de Nódulos Hepáticos e Câncer de Fígado da Ufba, Vinícius Nunes explica que os produtos, metabolizados através do fígado, podem causar a intoxicação a partir de três tipos, identificados conforme o jargão dos cientistas: dose-dependência, interação medicamentosa e a forma idiossincrática.
“A dose-dependência é quando o indivíduo consome uma alta quantidade do produto. As mais comuns são interações medicamentosas, em que as substâncias, ao interagir entre si, geram toxicidade. No caso da idiossincrática, é uma sensibilidade natural do indivíduo as substâncias, como se fosse uma alergia”, esclarece.