'Tiro é a última opção', diz corregedora da polícia sobre abordagem a ator
Membro do Bando do Teatro Olodum foi baleado na Av. Sete; policiais estão 'arrasados'
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Inquérito já foi instaurado pela delegada Kátia Brasil para apurar conduta de policiais civis (Foto: Divulgação/Polícia Civil) A Corregedoria da Polícia Civil disse que não foi correta a conduta do policial que resultou em um ator do Bando de Teatro Olodum baleado nessa quarta-feira (13), no Centro de Salvador. "Não é a orientação que a gente tem na academia. O tiro é sempre a última opção", declarou a corregedora-chefe da Polícia Civil, delegada Kátia Brasil, durante coletiva à imprensa na manhã desta quinta-feira (14), no prédio-sede da instituição, na Piedade.
Na tarde desta quarta-feira, o ator Leno Sacramento, 42 anos, foi atingido na perna por um estilhaço de projétil disparado da arma de um dos quatro policiais da Polícia Interestadual (Polinter).
A assessoria do Bando de Teatro Olodum, ao qual o ator pertence, informou ao CORREIO que Leno estava passando de bicicleta com um amigo pela Avenida Sete de Setembro, perto do Forte de São Pedro, por volta das 16h, quando foi abordado pelos policiais civis. Leno deixa a delegacia e entra em carro sem conversar com a imprensa (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Imobilização A corregedora mencionou o procedimento correto que deveria ter sido adotado pelos policiais. "Um deles teria que ter abordado fisicamente, imobilizá-lo. Mas estou falando de uma forma geral", ponderou.
"As coisas aconteceram em fração de segundos. É um policial que estava no exercício de sua função. Por isso que temos que ouvir o ator, testemunhas e ver imagens de câmeras. Eu sei o quanto é dificil o trabalho de campo. Eu já fui do Draco (Departamento de Repressão de Combate ao Crime Organizado)", completou Kátia Brasil.
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Arrasados A corregedoria disse que o ator será ouvido na próxima sexta-feira (22). Ela disse que a data foi marcada pelo advogado de Leno. Mas a corregedora-chefe já ouviu os quatro policiais envolvidos na abordagem.
“O policial que efetuou o disparo está arrasado. Ele me disse que não queria atirar para atingir o ator. Os demais policiais também estão arrasados com o que aconteceu”, contou a corregedora-chefe.
Racismo Quem também já foi interrogada foi a vítima do roubo, relatado pelos policiais e que, conforme contaram, fez com que o ator fosse confundido com um suspeito. Ela prestou depoimento na 1ª Delegacia (Barris). “Mas ainda não tivemos acesso às declarações da vítima do roubo”, pontuou Kátia Brasil.
Perguntada sobre a repercussão da abordagem policial – tratada como um caso de racismo –, a corregedora-chefe respondeu:“A investigação ainda está embrionária, logo, não podemos nos antecipar, mas a princípio não detectamos isso e os próprios policiais são negros”, citou.Panturrilha A delegada Kátia Brasil disse que os agentes da Polinter foram cumprir mandados de prisão – ela não soube dizer quais – quando populares disseram que uma mulher tinha acabado de ter sido assaltada por dois homens numa bicicleta.
“Então, dois dos quatro policiais foram abordar dois homens que passavam de bicicleta. Um deles parou. Então um policial atirou para o chão e o projétil resvalou e atingiu a panturrilha do ator”, relatou a corregedora-chefe.
Inquérito O ator foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE). “Ele permaneceu por duas horas no hospital e levou dois pontos”, disse a corregedora-chefe.
Um inquérito já foi instaurado para apurar a conduta. “Os policiais deverão responder criminalmente e administrativamente por esse fato”, explicou a delegada. A arma usada pelos agentes, uma pistola ponto 40, foi apreendida e passará por perícia.
Os policiais continuam trabalhando em suas funções. “Qualquer procedimento será adotado no decorrer da investigação. Ainda é prematura adotar qualquer medida”, finalizou Kátia Brasil.