Suspeito de matar recepcionista tem características de psicopata, diz delegada
João Paulo disse que foi com vítima a motel, mas negou crime; testemunhas viram desova de corpo
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Tailane Muniz
tailane.muniz@correio24horas.com.br
Preso em flagrante pela morte da recepcionista Marília Matércia Andrade Sampaio, 32 anos, o comerciante João Paulo Castro Moreira, 30, negou a autoria do assassinato e disse que conheceu a vítima no dia do crime. Marília, que trabalhava em um edifício comercial na Avenida ACM, morava em Itapuã e foi encontrada morta, com marcas de esganadura, na manhã de sábado (30), na estrada do CIA-Aeroporto (BA-526), na Região Metropolitana de Salvador. "Um homem muito frio, com características de um psicopata", disse ao CORREIO a responsável pela investigação, delegada Simone Moutinho.
Preso no lava a jato do qual era dono, no bairro de Mussurunga, cerca de 12 horas após o crime, João Paulo disse em depoimento que ofereceu carona à vítima e, juntos, seguiram para um motel. No local, funcionários relataram uma situação de violência envolvendo o comerciante. Além disso, testemunhas presenciaram a desova de um corpo, na CIA-Aeroporto, feita pelo ocupante de um veículo de características semelhantes ao usado pelo comerciante, e denunciaram à polícia."A história que ele conta é uma história absurda. Foi um crime que deixou muitos indícios, por isso chegamos rápido à autoria", pontuou Simone Moutinho.A Polícia Civil também investiga se João Paulo, que é casado e pai de duas crianças, de 2 e 3 anos, é o responsável pelas mortes da comerciante Nadjane Santos de Jesus, 30, e de uma mulher, ainda não identificada, que também foi encontrada esganada, na manhã de sexta (29), no Bairro da Paz, em Salvador.
Além da proximidade dos locais cujos corpos foram encontrados, as três foram mortas por esganadura, sendo que Nadjane foi encontrada sem as roupas e com sinais de violência sexual na CIA-Aeroporto, em julho. Não há informação sobre as condições em que a terceira vítima foi encontrada.
"A gente ainda não pode concluir essas informações. Existem várias coisas que precisamos ter para bater o martelo sobre isso. A polícia não pode fazer ouvidos moucos para estas 'coincidências', mas também não pode afirmar categoricamente sem as provas periciais", explica Simone Moutinho.
Embora a Secretaria da Segurança Pública (SSP) tenha indicado preliminarmente que Marília tinha indícios de violência sexual, a delegada afirmou, nesta segunda-feira (2), durante apresentação do preso à imprensa, que a vítima estava fardada."O cadáver estava de calcinha, sutiã e farda. Estava completamente vestida, portanto, não há nada que nos leve a afirmar que houve violência (sexual). Apenas os exames podem atestar isso", comentou a delegada.Motel Segundo o suspeito, ele conheceu a vítima em um ponto de ônibus em frente ao supermercado Bompreço, na Avenida Dorival Caymmi, em Itapuã. Ele afirmou que era por volta de 5h quando Marília entrou no carro que ele dirigia, uma Hilux Sw4, segundo a SSP, pertencente a um cliente do seu lava a jato.
A versão, porém, não convenceu a polícia. "É uma história cheia de contradições. A família afirma que a moça saiu de casa às 6h30, para ir ao ponto de ônibus, de onde seguiria para o trabalho", pontuou a delegada.
A partir de depoimentos de funcionários do Ricks Motel, na Avenida Dorival Caymmi, próximo de onde a vítima morava, a Polícia Civil confirmou que o suspeito esteve no local nas noites de quinta (28) e sexta-feira (29).
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"Ele foi interrogado no sábado à noite. Confessou que estava no motel com ela, mas disse que deixou a vítima em casa. Ao mesmo tempo que chegou a informação de um corpo encontrado no CIA, concomitantemente chegou a informação de que havia uma situação de violência em um quarto de motel, relacionado a um cliente assíduo", contou a delegada.
João Paulo, segundo mostraram as investigações, frequentava o motel e era conhecido dos funcionários. "Existem locais mais fáceis e mais difíceis para se apurar um crime. Neste caso, além de termos refeito o percurso nas imediações, tivemos a identificação da placa do carro. Isso nos levou ao dono do carro que, por sua vez, nos levou a João, que é dono de um lava a jato", explicou a investigadora.
Ainda segundo a delegada, a denúncia recebida pela polícia "era a de que uma Hilux teria descartado um corpo feminino no CIA". "Existia uma cena de crime no motel. Um lençol cheio de sangue e, ainda, testemunhos de que quem estava naquele apartamento tinha saído naquele veículo. Além de tudo isso, no dia anterior a este crime, ele teria estado no motel com outra moça, e havia ocorrido uma situação de violência", completou Simone Moutinho, afirmando que a Polícia Militar chegou a ser chamada, mas não encontrou o suspeito.
As câmeras de segurança do motel não estavam ligadas, mas a polícia pretende verificar imagens de estabelecimentos da região. Corpo de recepcionista foi encontrado no mesmo local onde outra vítima foi achada, em julho (Foto: Acervo Pessoal) Outro corpo Na sexta (29), porém, ao sair do estabelecimento, João Paulo foi surpreendido por uma falha no veículo."O carro morreu, precisando de um tombo. Algumas pessoas viram uma moça ferida no rosto, agachada no interior do veículo. Pior, testemunhas presenciaram um homem sair do porta-malas para ajudar a empurrar o carro", comentou. A delegada explicou, porém, que não é possível afirmar que a mulher vista no carro seja a mesma que teve o corpo descartado no mesmo dia, no Bairro da Paz, em Salvador. "Não se sabe quem é a moça. Já o cara que estava na mala, foi ouvido e liberado. Ele alegou que estava escondido porque eles estariam com duas adolescentes", pontuou. Até as 15h desta segunda, a vítima ainda não havia sido identificada.
Na tentativa de sondar se há relações entre os crimes, a delegada questionou João Paulo sobre as mortes."Ao final que ele narrou a história dele, perguntei: 'duas moças foram encontradas com os mesmos sinais de violência e você disse que estava no motel com duas pessoas diferentes, nos mesmos dias. Ele respondeu 'deve ser uma coincidência, os veículos devem estar clonados'", relatou a delegada."O que a gente pode dizer sobre isso é que as vítimas foram encontradas em lugares próximos (na CIA-Aeroporto), com os mesmos sinais de esganadura. É o mesmo local de desova, mesmo modus operandi. Não posso assegurar a violência sexual, mas a esganadura. O motel tinha sangue, mas a médica disse que a esganadura pode causar sangramentos por orifícios do corpo. A polícia vai investigar", complementou.Álibi Para a polícia, João Paulo não só desconfiou que foi flagrado desovando o corpo da recepcionista, como também tentou construir um álibi. Dono de um lava a jato em Mussurunga, tinha o hábito de sair com os veículos dos clientes, conforme a Polícia Civil."Carrões. Ele pegava os carros e saía. O que aconteceu é que no mesmo sábado, por volta de 11h, ele tirou foto de uma Hilux, mandou para o proprietário e disse: 'acho que seu carro foi clonado'. Ele fez um pré-álibe, mandou isso já pensando que seria uma maneira de fugir das responsabilidades", pontuou a delegada."Tanto que quando os policiais chegaram ao lava a jato, ele se escondeu e disse que só se apresentaria com advogado. Ele se escondeu lá. Ele não estava armado e nenhum pertence de Marília foi encontrado com ele. O que eu perguntei para ele era sobre o uso e drogas e ele afirmou que usou cocaína durante a noite inteira", comentou Simone Moutinho. Ainda segundo ela, o suspeito disse também que "as pessoas costumam dizer que ele fez coisas que não se lembra depois". A comerciante Nadjane de Jesus foi sequestrada em Itapuã e encontrada morta na CIA-Aeroporto, em julho (Foto: Reprodução) Acima de suspeitas Embora não tenha demonstrado sentimento com relação às vítimas, João Paulo é uma pessoa de convívio social aparentemente bom, de acordo com a polícia. Em depoimento na delegacia, a mulher do comerciante contou que ele é um excelente marido e bom pai, mas que atualmente estavam vivendo uma crise no relacionamento.
Casado há dez anos, ele, por sua vez, contou aos investigadores que passou a trair a mulher há 15 dias, ao ser questionado sobre envolvimento na morte da comerciante Nadjane Santos de Jesus. A delegada esclareceu ao CORREIO que apenas provas periciais, como exames, podem atestar o envolvimento dele nos outros casos.
"Para a polícia, há indícios de que ele matou Marília. Há indícios de autoria. É uma história absurda. O que me chamou mais a atenção foi a coisa da foto do veículo que ele mandou para o dono do veículo que havia sido clonado", ponderou Simone Moutinho. O suspeito foi conduzido à audiência de custódia e está à disposição da Justiça.