Série do CORREIO sobre empregadas domésticas confinadas na pandemia repercute em todo o país
Situação das trabalhadoras exposta por reportagens especiais alertou o poder público e pautou debate nacional
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Da Redação
redacao@correio24horas.com.br
A série de reportagens do CORREIO sobre a realidade das empregadas domésticas durante a pandemia pautou o Brasil ao longo das últimas semanas, desde o seu início, nos dias 10 e 11 de abril. Expondo situações como confinamento das trabalhadoras, abusos e falta de direitos trabalhistas, a série – que segue até 1º de maio - deu início a uma sequência de denúncias e relatos de situações relacionadas, ativando uma reação imediata do poder público. Segundo a Superintendência Regional do Trabalho na Bahia (SRTB/BA), em abril, 150 empregadores domésticos estão sendo notificados para comprovar a regularidade de diversos atributos trabalhistas.
Em função das matérias, o MPT abriu um procedimento composto por algumas fiscalizações e busca ativa de eventuais situações de descumprimento das leis trabalhistas. “O quadro apresentado é grave, mas não tem materialidade, uma vez que nenhum dos empregados domésticos que contatou o sindicato se dispôs a apresentar denúncia formal”, lamenta a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) Manuella Gedeon.
Já a Inspeção da SRTB/BA informou que os empregadores domésticos estão sendo notificados para comprovar a regularidade dos atributos trabalhistas, como registro, FGTS, salário família, registro de ponto, salário e 13º salário. Segundo a auditora fiscal do trabalho Liane Durão, chefe do Setor de Fiscalização do Trabalho, essas notificações fazem parte da estratégia da nova gestão, que teve início em janeiro, em atuar de forma mais efetiva na fiscalização.“Eu acho que a série de reportagens é essencial nesse momento. Foi uma ideia brilhante trazer esse assunto ainda mais para a discussão. O CORREIO fez esse papel, plantou a semente. Logo depois, outros jornais e veículos foram atrás disso. O ‘time’ de publicação da série também foi perfeito, pois logo hoje temos o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Doméstica. Esse é um assunto que a sociedade precisava entender e a gente precisa atuar nessa área. Casando as duas coisas, se torna uma oportunidade pra divulgar informações e receber mais denúncias”, avalia Liane Durão.Diretora da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) e secretaria geral do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia (Sindoméstico/Ba), Milca Martins disse que o trabalho do CORREIO é um forte aliado na luta da categoria. “Nosso desafio é enorme e não temos uma comunicação que nos permita alcançar tantas trabalhadoras. Através dessa relação com vocês, a gente consegue ir além. Chegamos em realidades que existem no interior e outros municípios, por exemplo. Rapidamente outras trabalhadoras domésticas conhecem o nosso trabalho e sabe que tem um sindicato que luta por seus direitos. Até empregadores aprendem e percebem que a lei está aí para ser cumprida”, diz Milca Martins. A própria Fenatrad divulgou uma nota de repúdio ao confinamento ilegal que alguns empregadores têm obrigado como condição para permanência no emprego e prometeu acionar o Ministério Público do Trabalho (MPT). Este, por sua vez, ao lado de instituições como a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre), a Inspeção para o Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho (SRT) e Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB/BA), também abordaram o tema durante a reunião mensal da Câmara de Valorização do Trabalho Doméstico, realizada na última quarta-feira em Salvador.
Mídia Ao ser publicada, a matéria impactou rapidamente a Bahia e, posteriormente, o Brasil. Entre algumas das repercussões feitas sobre o tema, estão publicações e posicionamentos da coluna da jornalista Cristina Serra, no jornal Folha de S.Paulo, nos portais CartaCapital, UOL, Metrópoles e iG. A série também foi compartilhada pelo ex-presidenciável Guilherme Boulos e por figuras públicas como Xico Sá, Dom Phillips, Leandro Demori, Lilian Tahan, Maria Bopp – a Blogueirinha do Fim do Mundo - e Thiago Amparo, entre outros.
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O conteúdo também sensibilizou a apresentadora do telejornal Bahia Meio Dia, da TV Bahia, Jéssica Senra, que tratou do tema na última quarta-feira e, também, compartilhou em suas redes sociais, trazendo mais visibilidade ao assunto.
"O serviço doméstico é um dos mais importantes da nossa vida e na nossa sociedade, seja feito por nós mesmos ou por uma pessoa contratada. [...] Serviço doméstico é um serviço pesado, que exige muitas habilidades. São complexos, veja, muitos homens dizem que nem sabem fazer, largam nas costas das mulheres. Quem quer que o execute merece no mínimo respeito, e no mínimo admiração", afirma Senra durante o editorial, cujo vídeo pode ser assistido no player abaixo.
Vale destacar que o CORREIO ressalta a importância de outros veículos de comunicação se juntarem a esta campanha de conscientização.
Por fim, os números da série de reportagens também mostraram o seu impacto nos meios digitais, sendo um sucesso de audiência em todas as plataformas em que foi publicada, em especial, o Instagram, canal escolhido para viabilizar a denúncia de novos casos de abusos contra trabalhadoras domésticas.
Ao todo, nesta rede social, as publicações sobre a série de reportagem alcançaram mais de 12,7 mil curtidas até esta segunda-feira (26). O vídeo sobre a série, também postado no Instagram, teve mais de 42,6 mil visualizações. Já no site correio24horas.com.br, as matérias da série tiveram, ao todo, mais de 53,9 mil visualizações até esta segunda.
Vale lembrar que, caso você tenha alguma denúncia ou conhece alguma situação relatada, pode denunciar através dos canais de contato do CORREIO a qualquer momento.
Bastidores Responsável pela elaboração e desenvolvimento da reportagem Empregadas são obrigadas a ficar na casa dos patrões 'enquanto a pandemia durar’, a repórter Fernanda Santana destaca a importância desse tipo de pauta que dá voz para quem mais precisa. Além disso, ela também ressalta os maiores desafios para a elaboração da série como a dificuldade em fazer essas pessoas falarem sem medo de represálias. "Está sendo uma apuração complicada, pois muitas dessas mulheres ainda têm muito medo de falar, e, além disso, elas acabam sendo muito dispersas, pela própria informalidade, diferentemente de outros setores que são mais politizados e unidos. A série de reportagens cumpre sua função social. Espero que tenha um impacto muito maior do que somente a repercussão, e que ela incentive essas mulheres a denunciar", afirma Fernanda.“Uma das saídas encontradas foi conseguir com o sindicato o levantamento com base em uma lista de denúncias que eles tinham recebido. Ele foi feito ‘exclusivamente’ pelo CORREIO, já que ele não havia sido compilado antes”, explica a repórter sobre o desenvolvimento da apuração, que contou com a ajuda do Sindicato de Empregadas Domésticas da Bahia.
Editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra destaca a importância da série de reportagens para fomentar o debate público, além da relevância do jornalismo profissional como agente atuante na sociedade.“Obtivemos depoimentos fortes, e é um problema que afeta a categoria das empregadas no Brasil inteiro, atingindo muitas pessoas. Além disso, acho que a série também tem uma importância muito grande, pois expõe uma ferida social. O CORREIO tem pautado conteúdos importantes, como foi a campanha das baianas de acarajé, mostrando a crise do dendê; o 'roça' office, mostrando o comportamento das pessoas que estão buscando o campo nessa pandemia; ou mesmo a série que discutiu os desafios da educação neste período pandêmico”, avalia a editora-chefe. “Encontramos de cara, logo após a publicação da reportagem, um depoimento de uma doméstica atestando tudo aquilo que foi exposto. O jornal tem esse papel de dar voz a todos, afinal, somos plurais. Percebemos ali que dava para contribuir mais um pouco, motivando que as trabalhadoras fizessem relatos de suas experiências. Isso segue acontecendo. Continuamos recebendo esses depoimentos, e esperamos que os órgãos públicos competentes possam resolver essa situação”, complementa.
Mariana Rios, editora do jornal, ressalta a interdisciplinaridade da série de reportagens, que foi desenvolvida em cerca de um mês e contou com a “participação especial” do ilustrador e roteirista Leandro Assis e da roteirista Triscila Oliveira, criadores da história em quadrinhos 'Confinada', que relata situações cotidianas de abusos e preconceitos sofridos pelas empregadas domésticas, muitos deles cheios de supostas “boas intenções”. “A matéria foi desenvolvida ao longo de quase um mês. Foi uma aproximação difícil, pois essas mulheres, em geral, são vulneráveis, que têm muito receio de falar. Ela teve que fazer todo um trabalho de convencimento para conseguir alguns depoimentos. Além da vulnerabilidade, há a situação de dependência do trabalho, é algo que pode até parecer simples, mas definitivamente não é. Foi um tema muito sensível, muito interessante, que resultou em uma pauta robusta, complementada pelo trabalho incrível de Leandro Assis e Triscila Oliveira”, conclui Mariana. Além de trazer as denúncias de exploração, a série de reportagens também mostrou bons exemplos de patrões que “fazem a diferença”. A repórter Priscila Natividade contou a história de empregadores que não cumprem somente com o essencial, mas também agem com solidariedade e senso coletivo, sem provocar perdas salariais para a doméstica. Flexibilização de horários, rodízio e cuidados com locomoção da empregada foram algumas das medidas apresentadas para manter a prestação do serviço na pandemia.
E se você quer mais reportagens originais da série sobre as empregadas domésticas, não esqueça de comprar a edição de Final de Semana do CORREIO nesse sábado (1º), Dia Internacional dos Trabalhadores, e domingo (2º), ou acessar o site correio24horas.com.br. Você também pode conferir a série completa aqui.
*Com a supervisão do editor Jorge Gauthier