Sem óleo, fluxo de banhistas no Porto da Barra aumenta e lucro do comércio sobe 30%
'O pessoal vem aqui porque não tem', diz vendedor sobre petróleo cru que já sujou 17 praias de Salvador
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Da Redação
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As manchas de óleo chegaram na praia do Farol da Barra em 17 de outubro. Logo ao lado, o Porto da Barra permanece intacto e se configurou como um refúgio para quem quer curtir o dia de sol sem se preocupar - tanto - com o resíduo. O local virou point de quem não abre mão de um bom banho de mar e, de quebra, fez o lucro dos comerciantes disparar.
O município de Mata de São João foi o primeiro a receber os resíduos na Bahia, no dia 1º de outubro. Também foi há cerca de 30 dias que o comerciante Afonso Alban, 56 anos, percebeu uma melhora no movimento do Porto e nos lucros também. Segundo ele, até hoje, houve uma aumento de aproximadamente 30% no ganho com o comércio de praia.“Depois que o óleo apareceu, a procura aumentou. Teve até um pessoal de Stella Maris e Ipitanga, que eram meus clientes quando tinha estacionamento perto do Porto, que estão voltando para fugir do óleo”, disse.Afonso trabalha no local há 27 anos junto com a esposa, Ilma Galo, 55, conhecida como Dinda do Porto. Comerciantes, Afonso e Ilma estão empolgados com aumento no movimento (Foto: Betto Jr/CORREIO) A autointitulada "madrinha da praia" está confiante para o Verão. O prognóstico é de que os meses mais quentes do ano vão trazer muita gente para o Porto da Barra. “Acho que esse ano vai bombar. O Verão nem começou e o movimento já está bom. Por aqui não ter óleo, é uma das praias mais movimentadas”, contou.
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Apesar de reconhecer a maior movimentação no Porto, Alison Pires Queiroz, 21, que trabalha no Acarajé da Simone, revelou que a lotação ainda não refletiu em mais lucro. “Quem aluga cadeira ganha mais. Em dias lotados, a cadeira chega a ficar R$ 10”, falou.
Segundo ele, os finais de semana e feriados concentram a maior movimentação. Aparecem até pessoas que moram mais distante, como em Itapuã. “A praia que não deu óleo foi essa e o pessoal vem mais aqui porque não tem”, avaliou.
Alison não tem certeza se o movimento tem relação com as manchas em outras praias da capital. “Há três anos era melhor, tinha muito gringo. Mas isso não tem relação com o óleo", afirmou. Ainda, assim, não descartou que o piche possa ter contribuindo com o incremento do público no local. "Está ajudando mais ou menos, porque algumas pessoas ainda estão com medo”, concluiu. Lucro aumentou para quem trabalha no local (Foto: Betto Jr/CORREIO) Turismo Os turistas também estão se refugiando no Porto da Barra para fugir do petróleo cru que já sujou 17 praias da capital baiana, além de praias em outros 27 municípios do estado. A professora gaúcha Aline de Oliveira Cardoso, 35, pensou em cancelar a viagem para a Bahia quando soube da mancha de óleo, mas decidiu vir e ficar apenas no Porto.“Perguntamos para os nossos amigos daqui e decidimos vir para Salvador. A gente sempre vem para cá e passa uns dias em Morro de São Paulo. Dessa vez, vamos ficar só em Salvador”, disse.Mesmo com o aviso do amigo, Aline ficou com medo de entrar no mar. Ela preferiu curtir a praia apenas na areia. “Ficamos aproveitando na sombra para não ficar dentro no hotel”, contou.
Há uma semana, o enfermeiro Xavier Francisco, 29, saiu de Guanambi para trabalhar em Salvador. Na folga, ele não teve coragem de ir à praia. Nesta quarta-feira (7), ele voltou para a capital para curtir o Porto da Barra depois de um amigo afirmar que o local estava limpo.“Quando alguém daqui me indicou, eu vim com tranquilidade. Eu ainda não entrei no mar, mas pretendo. Eu vou fazer isso com receio, mas com o aviso do morador, fico com certa segurança”, ponderou.Para o turista, era necessário que houvessem mais informações sobre a contaminação das águas para que fosse possível ir para a praia totalmente tranquilo. O Inema encomendou ao Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Ceped) um estudo para identificar a presença de hidrocarbonetos no mar. O prazo para os resultados não foi informado.
Entretanto, a resolução nº 274 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) apontou que rios e praias destinados ao lazer humano são considerados impróprios para banho sempre que for identificada a presença de óleos, graxas e outras substâncias capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação. Banhistas curtem Porto da Barra despreocupados (Betto Jr/CORREIO) Correntezas Para o vendedor de acarajé, Alison, a praia do Porto não recebeu óleo por ser “praticamente uma piscina”, ou seja, ser mais difícil o resíduo entrar no local. De certa forma, a hipótese do jovem está correta do ponto de vista científico. O oceanógrafo Rogério Lapa explicou que as correntes marítimas foram responsáveis por “salvar” a praia do petróleo cru.
O pesquisador informou que a corrente marítima se afasta do Porto da Barra, fazendo com que o local fique confinado. Segundo Lapa, a troca de água nesta parcela do mar é pequena, portanto, o óleo visível, e que afasta os turistas, não adentrou a região que vai do Forte de São Diogo até o de Santa Maria.“Pela menor troca de água, o Porto não tem onda e a atuação de correntes. Atrás do farol, a corrente passa muito forte, mas depois ela se afasta do Porto”, pontuou.Mesmo sem registro de óleo no Porto da Barra, o pesquisador ressaltou que o mar pode não estar seguro. “É importante olhar a parte química da água. Componentes do óleo estão misturados com o mar e é preciso analisar a quantidade. O óleo tem agentes cancerígenos e se dissolve na água. Isso deveria ser analisado de uma forma mais séria”, afirmou.
*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier