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Protesto no Farol da Barra pede agilidade para resolver poluição nas praias


 

Manifestantes pintaram os rostos, faixas e cartazes

  • Gil Santos

Publicado em 26/10/2019 às 19:39:00
Atualizado em 20/04/2023 às 10:46:05
. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

O preto que desde o começo do mês está manchando as praias do litoral da Bahia foi parar, neste sábado (26), nas camisetas de um grupo de manifestantes que se reuniu no Farol da Barra para protestar e cobrar mais agilidade das autoridades na resolução do problema.

O grupo Guardiões do Litoral se posicionou em frente ao Farol, ao lado do letreiro com o nome da cidade, e estendeu faixas e cartazes com palavras de ordem. Integrantes de outras organizações de proteção ao meio ambiente, como o Greenpeace, se juntaram a eles.

O engenheiro civil Arthur Sehbe, 34 anos, foi um dos organizadores do evento. Ele contou que o nome do grupo Guardiões do Litoral surgiu no dia 16 de outubro, cinco dias depois de um conjunto de voluntários de mobilizarem para recolher o óleo encontrado nas praias do litoral norte do estado.

“O grupo começou com cerca de 45 a 50 pessoas. Nós estabelecemos alguns líderes de praia e eles mobilizaram outras pessoas. Chegamos a 500 voluntários. Hoje, estamos fazendo esse ato para cobrar mais agilidade das autoridades em resolver o problema das manchas de óleo nas praias, mais transparência nas informações e ações imediatas para atender a população que depende dessa atividade para sobreviver", afirmou.

Os manifestantes estenderam uma grande faixa que dizia “Não agir = poluir”, e logo outros cartazes surgiram como “Maior crime ambiental do Brasil”, e uma que questionava “Vai deixar o óleo virar câncer?”.

A psicanalista e arte educadora Patrícia Lopes, 50 anos, pintou a cartolina na hora da manifestação. Ela contou que é engajada com a proteção do planeta desde que era menina e que transferiu essa mesma preocupação para a filha e as outras crianças da família. Durante o ato deste sábado, a professora não conteve as lágrimas.

“Minha alma chora junto com o planeta, mas vou confiar na resistência do amor. O amor vai vencer. Ele tem que vencer”, disse.

Alguns manifestantes levaram máscaras e luvas. Outros pintaram as mãos e os rostos de preto para mostrar indignação. O ato durou cerca de 2h e atraiu a atenção de um movimentado Farol da Barra. Não faltaram flesh e vídeos de baianos e turistas, como a dentista Catarina Lima, 32 anos, que está visitando Salvador pela primeira vez.

“Como carioca, eu adoro o mar. Ficamos muito tristes com as notícias das manchas de óleo no litoral do nordeste e esperamos que as autoridades resolvam logo o problema, mas é muito gratificante ver que a sociedade está se organizando para cobrar respostas”, contou ela, enquanto fotografava o protesto.

O grupo Guardiões do Litoral está presente em 17 praias da Bahia, mas esse número é atualizado constantemente já que o óleo continua avançando pela costa. Todo o petróleo recolhido está sendo entregue as autoridades responsáveis pela coleta em cada município.

No começo, todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como máscaras e luvas, eram comprados pelos voluntários. Mas o aumento na quantidade de praias atingidas fez com que eles precisassem de uma vaquinha. Eles arrecadaram R$ 57 mil e é com esse recurso que o grupo está comprando e distribuindo os materiais em Salvador, e nos litorais norte e sul do estado, como em Moreré e Barra Grande.

Quem quiser participar pode acompanhar a lista de praias alvos dos voluntários através das pagina dos Guardiões do Litoral no instagram. Até o momento, foram recolhidas 280 toneladas de petróleo cru, apenas na Bahia, e 41 animais foram encontrados mortos no estado. No total, 238 localidades de 88 municípios, nos nove estados do Nordeste, apresentaram manchas de óleo na água ou na areia.

Petróleo As primeiras manchas de óleo começaram a aparecer no litoral do Nordeste no final de agosto. Na Bahia, elas chegaram no início de outubro, pelo Litoral Norte, mas logo chegou também em Salvador, na Ilha de Itaparica, e continua descendo a costa. O desastre já foi registrado nas praias paradisíacas de Morro de São Paulo, Garapuá e, mais recentemente, em Ilhéus, no Sul do estado. Até está quinta-feira (24), foram recolhidas 237 toneladas de óleo na Bahia

Preocupados, os trabalhadores que dependem da pesca e das praias para sobreviver, além de moradores e outros voluntários, estão fazendo mutirões e trabalhando ao lado dos órgãos competentes para recolher o petróleo. Alguns deles não tomaram os cuidados devidos e estão começando a apresentar problemas de saúde.  

Na terça-feira (22), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o governo fará um monitoramento de longo prazo dos impactos do derramamento de óleo na população que está tendo contato com a substância. A iniciativa será similar à de Brumadinho, em Minas Geiras. Mas ele não explicou como essas pessoas serão identificadas e de que forma esse trabalho será realizado.

O Governo Federal ainda não identificou o que está causando o aparecimento das manchas de óleo no litoral do Nordeste. Até o momento, o que se sabe é que ele foi produzido na Venezuela. Na quinta-feira (24), a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) afirmou que vai auxiliar a Marinha e a Polícia Federal na investigação das causas do desastre.