Pai promete entregar filho após apelo desesperado da mãe nas redes sociais
Catharina conta histórico de relacionamento abusivo
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Carolina Cerqueira
carolina.cerqueira@redebahia.com.br
Catharina Galvão Bastos, de 23 anos, poderá, finalmente, ter seu filho de volta. Seu ex-namorado e pai da criança, o advogado Paulo Roberto de Aguiar Valente Júnior, de 38 anos, informou que vai devolver a criança de 3 anos aos cuidados da mãe nesta quarta-feira (21). Catharina levou a público, na última segunda (19), que Paulo, que não possui a guarda do menor, estaria com a criança desde abril, impedindo o contato dela com a mãe. “Eu não tenho dúvida de que ele está fazendo isso por vingança. Depois do término, ele ficou me perseguindo e tentando me afetar de todas as formas e nunca conseguiu. Aí ele começou a usar meu filho”, diz a jovem.
De acordo com Mônica Santana, advogada de Catharina, Paulo informou nesta terça ao oficial de justiça que acompanha o caso que devolverá o filho do casal aos cuidados da mãe. Mônica contou que vinha tentando contato com Paulo, sem sucesso. “Estávamos no comando da Polícia Militar na hora porque íamos tentar novamente cumprir o mandado de busca e apreensão para pegar a criança no endereço dos avós. Paulo garantiu ao oficial de justiça que iria entregar o menino e ficou de retornar informando o horário e local”, disse a advogada.
Mônica ainda ressaltou que Paulo, que é advogado, tentou, através do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), derrubar o mandado de busca e apreensão, mas o pedido foi negado. “Essa atitude dele coloca em dúvida se ele quer, de fato, entregar a criança. Mas nós esperamos que ele devolva o menino porque ele está descumprindo uma ordem judicial”, acrescenta.
Relacionamento abusivo
Segundo Catharina, no começo do relacionamento, tudo corria bem. Paulo era atencioso e tranquilo, mas tudo mudou com o decorrer da gravidez. Ela diz que Paulo não aceitava as cobranças feitas para que ele desse o apoio necessário e que foi vítima de violência psicológica e tentativa de agressão física.
O casal se conheceu em agosto de 2017 e, logo depois, Catharina descobriu a gravidez. Mas o que era para ser um momento especial, representou o começo de diversas frustrações. De acordo com Catharina, ela não recebia o devido apoio de Paulo. “Eu cheguei na reta final da gravidez e ele não se preocupava em comprar nada. Quem pagou o enxoval todo do meu filho fui eu e minha mãe. Minha mãe que pagava meus exames, minhas consultas, nós que procuramos um obstetra”, conta.
Ela também diz que enfrentou problemas com a ex-sogra. “O principal ponto era a mãe dele, que queria controlar tudo, a minha gravidez, o tipo de parto que eu iria ter, criava muito problema comigo. Eu engravidei com 19 anos, eu tinha acabado de entrar na faculdade de Direito, estava muito sensível porque são muitos hormônios agindo. Foi muito difícil”, acrescenta.
Quando a criança nasceu, em junho de 2018, os problemas com o companheiro aumentaram. Catharina afirma que desenvolveu síndrome do pânico e ansiedade e sempre aconteciam discussões entre o casal pela ausência de Paulo em relação aos cuidados com o filho. “Meu filho nasceu e eu que cuidava dele o dia todo sozinha, quem me ajudava era minha mãe e meu irmão. Ele chegava tarde do trabalho, queria descansar, ia fazer exercício no tempo livre e nunca trocou uma fralda do meu filho. A gente discutia muito sobre isso, eu não tinha ajuda. Ele dizia que não tinha tempo, que era para eu deixar meu filho com a minha sogra”.
Até o nascimento da criança, Catharina ainda morava com a mãe, mas, após cerca de dois meses, passou a morar com Paulo por conta de ameaças que sofria dele. “Ele me ameaçava, dizia que, se eu não fosse morar com ele, iria fazer da minha vida um inferno, que ia tirar meu filho de mim porque ele é advogado e ia conseguir fazer isso”, diz ela.
O período debaixo do mesmo teto também foi conturbado. Uma amiga de Catharina, que preferiu não se identificar, conta o que presenciava. “Eu vi um pai que saía 8h e chegava 22h. Quando ele chegava, a criança ia atrás dele, batia na porta do quarto chamando ‘papai’ e Paulo começava a gritar com Catharina dizendo que estava cansado e precisava dormir e que era para ela ir pegar a criança. Um dia, Catharina estava conversando perto da porta com Paulo e a criança foi correndo na direção deles e acabou tropeçando e bateu a cabeça num móvel. Na mesma hora Paulo começou a gritar com Catharina, fez um escândalo, culpando ela”, diz.
“Ela passava o dia inteiro sozinha com a criança se não tivesse uma amiga ou parente dela lá. E Paulo dizia que tudo que acontecia com a criança era culpa dela, apontava o dedo, torturava psicologicamente ela com isso, sendo que ele mesmo não fazia nada para ajudar. Qualquer coisa era motivo dele gritar com ela e isso foi ficando cada vez mais abusivo. Catharina tinha medo dele porque ele gritava na frente de qualquer um; todas as amigas dela já presenciaram cenas assim. Além disso, ele sempre ameaçava, dizendo que ia tirar a criança dela, desde que ele nasceu”, acrescenta.
Uma outra amiga também fala dos comportamentos abusivos de Paulo. “Pouco tempo depois da criança nascer, Paulo começou a se mostrar mais, fez a cabeça dela para se afastar de muita gente, inclusive de mim e da família. Mais de um ano depois, voltamos a nos falar e ela me contou que ele era extremamente abusivo em um nível que ela tinha medo. Ela conseguiu sair da relação, voltou para casa da mãe e a partir daí voltei a acompanhar novamente a rotina dela com a criança”, expõe.
Março de 2020 foi a gota d’água para Catharina e o relacionamento chegou ao fim. Ela conta que desconfiava de traições do companheiro e que, nesta época, o confrontou sobre mais um caso. Segundo ela, Paulo então teria tentado agredi-la fisicamente. “Além disso, ele me ameaçou perguntando se eu queria levar um murro na cara. Eu saí de lá com meu filho e fui direto para a delegacia registrar a ocorrência e peguei a medida protetiva”.
Paulo Roberto teria ainda outra medida protetiva em aberto, acionada por sua ex-noiva. A Polícia Civil confirmou que, em 2014, ele chegou a ser levado por policiais da 12ª Companhia Independente da Polícia Militar para a delegacia, após tentar entrar em contato com a ex-companheira em uma boate, no bairro do Rio Vermelho.
Por conta da medida protetiva pedida por Catharina, Paulo precisa manter distância física dela e também não pode ter contato por telefone, por exemplo. Hoje, o intermédio é feito entre a mãe e o avô da criança, o pai de Paulo. A guarda é de Catharina e o pai tem direito a visitas regulares com supervisão de uma acompanhante.
Três meses longe do filho
Durante uma dessas visitas, em 16 de abril deste ano, Catharina foi comunicada pelo avô da criança de que seu filho não seria mais devolvido. Foi aí que a dor de mãe começou e ela precisou recorrer à Justiça. Mas, até hoje, não conseguiu encontrar novamente com o filho.
Catharina diz que tem poucas notícias sobre a criança e só conseguiu contato por chamada de vídeo uma única vez. O Dia das Mães, o aniversário do filho e o seu próprio aniversário foram marcados pela saudade. “A única vez que eu falei com meu filho por ligação de vídeo foi no dia 4 de junho, quando meu filho dizia que queria me ver e começava a chorar. Foi aniversário dele no dia 20 de junho e eu não pude falar, passei o dia das mães sem meu filho, passei o meu aniversário longe dele”, diz ela. Catharina conta que, somente no dia 24 de junho, recebeu um retorno da Justiça. No dia 13, foi expedido o mandado de busca com força policial para que seu filho fosse devolvido à ela. “Fomos com um oficial de justiça para cumprir essa ordem, mas não conseguimos contato nenhum com Paulo e nem com o advogado dele. Nesta segunda (19), a gente tentou de novo e não conseguimos mais uma vez. Paulo diz que meu filho está na casa dos avós, mas já fomos lá, inclusive, novamente nesta terça, e meu filho não está lá”, afirma.
A partir daí, Catharina decidiu expôr o caso através das redes sociais, pedindo apoio e cobrando uma solução. “Eu não queria expôr o caso porque envolve meu filho que acabou de completar três anos e não tem noção do que está acontecendo. Eu fui aguentando tudo isso e toda semana achava que finalmente a agonia ia acabar. Mas não acabava e isso é muito angustiante. Eu não durmo direito desde que meu filho saiu da minha casa, eu acordo várias vezes durante a noite e não como direito”, justifica.
“Quem vê de fora pensa que meu filho está com um bom pai, um pai presente e cuidadoso. Mas não é assim. Se ele fosse um pai cuidadoso e amoroso jamais estaria tirando o direito do filho de ter contato com a mãe. Não tem justificativa para isso. E eu não fiz nada para ele estar fazendo isso comigo e com meu filho. Mesmo com todo o trauma que ele e a família dele me causaram, com o término, eu busquei fazer o acordo de visita porque eu acreditava que meu filho tinha que ter o direito de ter contato com o pai dele”, ressalta Catharina.
Acusações
Também através das redes sociais, Paulo acusou Catharina de ter se recusado a entregar a criança em um dia de visita regular. “Em abril, quando meu filho deveria passar o dia comigo, a mãe negou esse direito. E a babá que trabalhava na casa dela, funcionária dela, noticiou que era porque meu filho estava com marcas roxas pelo corpo e vomitando. Logo busquei a Dercca e quando pude estar com meu filho não permiti o retorno dele para a casa da mãe com o enorme receio desses fatos que me foram passados”, alega.
Sobre isso, a mãe nega que o filho estava vomitando e com marcas pelo corpo e rebate: “No acordo de visitas, está estabelecido que, para meu filho ir para a casa do pai, é preciso estar na presença de um acompanhante. Paulo sempre criou problemas com essas acompanhantes e eu tinha que substituí-las. Em momento nenhum eu me recusei a entregar meu filho ao pai quando era dia das visitas. O que aconteceu é que, numa quarta-feira, era dia de visita, mas eu não consegui contratar uma acompanhante a tempo. Como no acordo existia essa condição, eu fui orientada por advogados a não permitir a ida e Paulo foi comunicado. Assim que eu consegui a acompanhante, meu filho foi para a visita normalmente”, alegou Catharina.
O pai da criança também acusa Catharina de maus-tratos contra o filho e afirma que prestou queixa contra ela junto à Delegacia Especializada de Repressão a Crime contra a Criança e ao Adolescente (Dercca). A queixa foi motivada por queimaduras que apareceram na mão e joelho da criança, em dezembro de 2019.
Catharina se defende e explica o que teria acontecido e ressalta que, na época, ainda morava com Paulo. “Eu virei as costas para pegar a sacola do meu filho e, num piscar de olhos, ele foi direto no ferro, que tinha sido deixado no chão ao lado da cama pelo pai, não foi por mim, eu nunca faria isso. Eu ouvi gritos de que eu era irresponsável, que eu não cuidava do meu filho direito, sendo que nem foi culpa minha”, afirma ela. Em vídeo publicado em seu perfil pessoal na rede social Instagram, após repercussão do caso, Paulo confirmou ter ciência do mandado de busca e apreensão que determina a devolução da criança aos cuidados da mãe. Ele alegou ter estado, desde a última sexta-feira (16), em um hotel localizado em Mangue Seco, uma vila turística na cidade de Jandaíra, município baiano que faz divisa com o estado de Sergipe, para onde foi com a atual namorada para celebrar o aniversário da companheira. O filho teria ficado com seus pais. “Não existe mandado contra mim, seja de busca ou de apreensão para que eu seja considerado foragido, mas tenho conhecimento que existe um mandado de busca e apreensão para que a mãe de meu filho pegue ele de volta”, diz. Paulo também publicou em suas redes sociais, no último dia 19, uma nota à imprensa assinada por seu advogado, Alex Barbosa. Confira na íntegra:
“A defesa de Paulo Valente Júnior informa que, a despeito das fotos e vídeos que circulam em redes sociais com sua imagem atribuindo-lhe a condição indevida e distorcida de foragido da justiça, não tem conhecimento e não foi intimado de qualquer ordem ou determinação judicial de prisão ou busca e apreensão expedida contra si, seja com relação a fatos envolvendo seu filho menor, ou sua ex-companheira, mãe do seu filho. Informa ainda que, quanto aos fatos e processos, correm em sigilo judicial por expressa previsão e determinação legal, sendo necessário esclarecer apenas a existência de requerimento de representação de medida protetiva expedida pela Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e Adolescente - DERCCA em favor do menor, e em desfavor da sua genitora em razão da apuração de maus-tratos, cuja apuração e condução se encontram a cargo da Justiça”
Paulo ainda publicou que está tomando “as devidas providências” em relação à “difamação” que sofreu por Catharina através das redes sociais com a exposição do caso. “Venho através deste informar que as devidas providências já estão sendo adotadas, uma vez que eu, minha família, amigos e pessoas que não tem nada haver com o processo estão sendo vítimas de ataques maldosos. Destaca-se, ainda, que cada comentário feito no meu Instagram está sendo rastreado e que providências também estão sendo tomadas”, afirma.
A Polícia Civil e o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) foram procurados para confirmar as informações sobre a denúncia de maus-tratos, o pedido de busca e apreensão e a medida protetiva, mas informaram que o caso corre em segredo de justiça. O CORREIO não conseguiu contato com Paulo Roberto nem com seu advogado.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro