Nas alturas: preços das passagens aéreas disparam depois da crise da Avianca
A viagem para São Paulo, no começo de maio, pode sair por R$ 3 mil
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Gil Santos
gilvan.santos@redebahaia.com.br
Com voos cancelados, guichês da empresa estavam vazios nessa quarta-feira (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Desde que a companhia aérea Avianca entrou em recuperação judicial, em dezembro do ano passado, uma turbulência sacode o setor de compra e venda de passagens. Os preços dispararam. Em Salvador, viajar para alguns destinos está custando o dobro se comparado ao período antes da crise.
Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Jorge Pinto, os destinos mais impactados saindo da capital baiana foram Rio de Janeiro e São Paulo. Neste último, o valor dos trechos mais que dobrou.“É a regra simples da oferta e da procura. Houve uma diminuição do número de voos oferecidos, então, eles ficaram mais caros. A gente (agências de viagens) está sentindo o impacto, mas esperamos que seja passageiro”, afirmou.“No caso do Rio de Janeiro, as únicas companhias em Salvador que tinham voos diretos para o estado eram a Avianca e a Gol. Agora, temos apenas a Gol. As outras companhias fazem escalas, o que encarece o valor das passagens”, contou Jorge.
E no pacote da crise da empresa, foi anunciado nesta quarta (24) que, a partir de segunda-feira (29), a Avianca vai operar em apenas quatro aeroportos do país: Congonhas (SP), Santos Dumont (RJ), Brasília (DF) e Salvador. Passagens para Rio de Janeiro e São Paulo dobraram de valor (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) O CORREIO fez uma pesquisa que mostra que quem pretende comprar a passagem de ida e volta para São Paulo, para a próxima semana, vai ter que desembolsar de R$ 1,8 mil a R$ 3 mil. Caso a viagem aconteça no final de maio, a variação fica entre R$ 700 e R$ 2,2 mil. Já quem se planeja para julho vai pagar de R$ 900 a R$ 2,6 mil.
A maioria dos voos para São Paulo são diretos para os aeroportos de Congonhas ou Guarulhos, bem diferente do que acontece quando o destino é o Rio de Janeiro. Quem pretende ir e voltar da capital carioca vai precisar ter paciência. Há voos com até três escalas.
Para a próxima semana, os valores para o Rio variam de R$ 1,6 mil a R$ 2,7 mil. No final de maio, as passagens custam de R$ 700 a R$ 2,5 mil e, em três meses, de R$ 1,2 mil e R$ 2,8 mil. Antes da crise, o percentual variava de R$ 600 a R$ 800.
Os voos para o Nordeste também registraram alta. Uma viagem de ida e volta para Fortaleza (CE), na próxima semana, pode superar os R$ 2 mil. A mais barata custa R$ 800. No caso de Recife (PE), a variação é de R$ 800 a R$ 2,9 mil, quando antes era de R$ 400 a R$ 500. Nessas duas cidades, os preços ficam mais em conta se os passeios forem planejados. É possível encontrar passagens por cerca de R$ 600 no final de maio ou julho.
Voo antecipado Na tarde desta quarta (24), o movimento nos guichês da Avianca era tranquilo no Aeroporto Internacional de Salvador. O operador de máquinas Antônio Marcelino, 63 anos, era um dos poucos passageiros aguardando pelo voo da empresa com destino a Guarulhos. Ele chegou no terminal seis horas antes do embarque. Antônio teve voo antecipado em duas horas e não foi informado (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) “Cheguei cedo porque fiquei com medo de enfrentar problemas para embarcar. Vi as notícias e fiquei assustado. Comprei a passagem uma semana antes de começar essa confusão, mas, se soubesse, teria escolhido outra companhia. Meu voo foi antecipado em duas horas e eu só fiquei sabendo porque liguei para saber se estava tudo certo”, contou.Imagine, agora, chegar duas horas antes do voo, pegar uma fila enorme e descobrir no guichê do aeroporto que outra pessoa embarcou no seu lugar. Foi o que aconteceu com a engenheira Alicia Laura Novaes, 47 anos.
Ela estava viajando com o marido e as duas filhas, de 15 e 8 anos, de Salvador para o Rio de Janeiro. O voo estava marcado para as 10h50 de terça-feira (23), mas a família só conseguiu chegar em casa às 5h de quarta (24), de ônibus.
“Estivemos no aeroporto no domingo porque o site dizia que o voo tinha sido cancelado, mas a reserva dizia que ele estava mantido. Como não conseguimos contato pelos canais da Avianca, tivemos que ir pessoalmente ao aeroporto, onde a atendente explicou que o voo mudou de número, mas que estava mantido”, contou.
A família não conseguiu embarcar porque outros voos da companhia foram cancelados, e os passageiros precisaram ser realocados para o de Alicia. Às 13h55, eles conseguiram embarcar para Confins (MG) e, depois, seguiram de ônibus até o Rio de Janeiro, com passagens pagas do próprio bolso.“Tudo que está acontecendo poderia ser minimizado com uma fiscalização mais decente e com um gerenciamento de crise mais eficiente. Faltou planejamento. Foi ridículo”, afirmou ela.Alicia pagou pelas passagens de ônibus cerca de R$ 200 por pessoa, mas informou que vai correr atrás do prejuízo. Ela também solicitou o pagamento de uma multa por parte da Avianca por conta dos transtornos que a família enfrentou (confira quais os direitos do consumidor nesse tipo de situação aqui).
Procurada, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou, em nota, que não interfere na política comercial das empresas aéreas.
“Cabe à Agência realizar o acompanhamento permanente das tarifas comercializadas – correspondentes aos bilhetes de passagem efetivamente vendidos ao público em geral – pelas empresas em todas as linhas aéreas domésticas de passageiros. Esse levantamento pode ser consultado nos Relatórios de Tarifas Aéreas no site da Agência”, informou a nota.
Turismo já sente impacto A Avianca movimenta cerca de 2,1 milhão de passageiros no Aeroporto Internacional de Salvador por ano, sendo 400 mil turistas, segundo a Secretaria Municipal de Turismo (Secult).
Com isso, a crise também está sendo sentida pelos hotéis, restaurantes e demais setores ligados ao turismo. É o que afirmam os empresários. Em março e abril, eles se reuniram com representantes da Avianca e dos governos estadual e municipal para discutir o problema. Os dois encontros foram na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA).
O coordenador da Câmara de Turismo da Fecomércio, José Manoel Garrido, acredita que a saída para a crise é a isenção do ICMS sobre os combustíveis e a autorização para que companhias estrangeiras possam operar no país.
“A Avianca voou bastante durante abril, então, o impacto maior será sentido agora”, afirmou ele, que ainda não tem um levantamento do número de cancelamentos de reservas e pacotes, “mas eles estão ocorrendo”.
Fiscalização A Anac informou que fiscaliza constantemente a atuação da Avianca diante dos passageiros e segue acompanhando a execução das ações para a manutenção da segurança das operações.
Em nota, a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz-BA) informou que está acompanhando os desdobramentos da crise e a possibilidade de outras companhias assumirem o espaço deixado pela Avianca.“Vale lembrar que o estado oferece um pacote de incentivos no âmbito do ICMS, relacionados à ampliação de voos regionais, nacionais e internacionais baseados em aeroportos baianos. Assim, a companhia que agregar os voos da Avianca, passando a ter maior movimento na Bahia, poderá se habilitar a ter maiores incentivos”, afirmou a pasta.A Secretaria Estadual do Turismo (Setur) afirmou que “é expressivo” o interesse de três companhias em operar nas rotas e horários da Avianca e que isso deve ser definido em maio, quando acontece o leilão da empresa.
A Secult afirmou que também acompanha a crise da Avianca e que, no início de abril, o gestor da pasta, Claudio Tinoco, participou da World Travel Market (WTM) Latin America, em São Paulo, e conversou com representantes das companhias aéreas que demonstraram interesses em participar do leilão.
“A Secretaria tem conversado com as principais operadoras nacionais, para estimular voos charters (operações cujo horário, local de partida e destino são ajustados em função da demanda) em Salvador, e com a Vinci Airports, com o objetivo de captar novos voos internacionais”.