Moradores de Fazenda Grande do Retiro relatam momentos de terror em confronto entre criminosos
A Rua Diva Pimentel virou zona de guerra por uma hora durante a madrugada desta segunda-feira (23)
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Wendel de Novais
wendel.novais@redebahia.com.br
Casas com marcas de balas, pontos comerciais com estrutura danificada e moradores amedrontados pela violência. Foi assim que a Rua Diva Pimentel, localizada em Fazenda Grande do Retiro, amanheceu nesta segunda-feira (23) após se transformar em uma zona de guerra entre criminosos da região e outro grupo da Rocinha do IAPI. Segundo relatos dos moradores, o confronto durou cerca de uma hora e foram ouvidas rajadas potentes e contínuas de tiros.
O CORREIO esteve no local para conferir os estragos deixados pelo tiroteio nas residências e conversou com moradores que, com medo de represálias, preferiram não se identificar, mas descreveram a sensação de insegurança e o medo de que episódios como este voltem a acontecer. Em Valéria, a madrugada também foi de tiroteio. Tiros marcaram paredes, danificaram portões e destruíram vidraças (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Um morador da Fazenda Grande contou que o barulho dos tiros foi mais forte do que tudo que já tinha ouvido, o que passou a ideia de que os criminosos portavam um armamento pesado. "Começou à meia-noite e meia, todo mundo estava dormindo lá em casa e foi acordado. A gente deu um pulo da cama porque o barulho era muito alto. Não é a primeira vez que ouço troca de tiros e, dessa vez, parecia que eles estavam com armas mais potentes porque eram tiros rápidos e que não paravam, parecia metralhadora", conta.
A impressão do morador foi confirmada por outra fonte. O rapaz, que também reside na região, contou ao CORREIO que seu vizinho conseguiu ver um dos criminosos, que carregava uma submetralhadora nas mãos. "No meio de toda confusão, a gente procurou se proteger, mas um vizinho me contou que, depois que os tiros pararam mais, ele conseguiu espiar o lado de fora e viu um cara carregando uma submetralhadora. Nesse momento, as coisas tinham se acalmado, mas foram cerca de 50 ou 60 minutos em que eles não paravam de atirar", relatou.
Uma moradora explicou o motivo do confronto. Segundo ela, há uma desavença entre o grupo de criminosos da Fazenda Grande do Retiro e outro grupo do IAPI. "Eles estão em guerra. Não sabemos o motivo disso, se é disputa por ponto de droga, se é ordem de presídio. A realidade é que uma facção quer acabar com a outra e ficam se enfrentando. A gente, que tá no meio disso tudo, fica sofrendo e mal fecha o olho de noite já pensando no pior. Depois de hoje, ficamos com mais medo ainda", disse. Confronto teria acontecido por causa de uma disputa entre grupo de criminosos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Insegurança A sensação de insegurança revelada pela mulher também é compartilhada pelo primeiro morador entrevistado pelo CORREIO. Ele conta que vizinhos também entraram em desespero com a situação. "Uma hora inteira de tiros, a gente entrou em desespero. Ficamos apavorados dentro de casa, não tem como ficar tranquilo com aquele som terrível de tiro na frente da nossa casa. Tem uma pessoa que mora perto de mim que chegou a passar mal com a situação, de tanto desespero. Como é que consegue ficar em paz assim? Ninguém consegue, vivemos com medo", afirma.
O outro morador declarou que segurança é um artigo de luxo, que está longe de estar presente no cotidiano dos moradores da Rua Diva Pimentel. "Que segurança? Quem mora aqui nem sabe o que é isso. A gente sobrevive, meu filho. Sobrevive amparado por Deus porque a ajuda dos homens não vem. Infelizmente, virou costume viver com medo de uma bala perdida atingir você ou qualquer pessoa que você ama nessa região aqui. Estamos no meio disso tudo e não dá pra sair", lamenta.
Além de falar da ausência de segurança, o morador criticou a ineficiência das autoridades de segurança no combate ao crime na região. "A gente vê as autoridades de segurança afirmando que está tudo sob controle, que eles estão trabalhando para melhorar a segurança para nós. Mas a realidade é completamente diferente. O que se vê aqui e em outros bairros pobres é o crime tomando conta. E, quando tem confusão entre esses caras, quem sofre somos nós que não vemos nenhuma mudança concreta feita por quem deveria nos dar segurança que é a polícia", reclama. Moradores reclamam de falta de segurança (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Sem resposta das autoridades Os moradores que relataram a situação não fizeram registro da ocorrência por medo dos criminosos da região. Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Civil (PC) afirmou que só saberia informar se houve registro da ocorrência em uma de suas unidades se fosse informado do registro de ocorrência e o momento em que foi feita. Perguntada se tinha ciência do caso e se estava realizando investigações para apurar a motivação e a identidade dos criminosos envolvidos no confronto, a PC pediu que a reportagem entrasse em contato com a Polícia Militar (PM), responsável pelo policiamento ostensivo.
O CORREIO tentou contato com a PM, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro