Laudos indicam que 12 suspeitos foram executados no Cabula
Maioria foi alvejada ao menos 5 vezes e com tiros de cima para baixo e nas mãos
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Os laudos cadavéricos realizados pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) nos 12 corpos baleados em uma operação das Rondas Especiais (Rondesp), na madrugada do dia 6 de fevereiro, na comunidade Vila Moisés, no Cabula, trazem indícios de execução na ação policial. As informações foram obtidas com exclusividade pelo CORREIO, a menos de uma semana de o caso completar dois meses.Comunidade de Vila Moisés, no Cabula, ficou marcada por mortes de 12 suspeitos de assalto a banco durante ação da Polícia Militar em fevereiro (Foto: Evandro Veiga / Arquivo Correio)De acordo com as análises, parte dos disparos foi realizada de cima para baixo. Além disso, alguns mortos apresentam perfurações na palma da mão, braços e antebraços, sendo que apenas quatro baleados tinham vestígios de pólvora nas mãos. Os laudos também apontam que a maioria apresentava pelo menos cinco marcas de tiros — alguns deles disparados a curta distâncias, de menos de 1,5 metro. Em um dos casos, as perfurações em um dos suspeitos (segundo a polícia, o grupo planejava realizar um assalto, quando houve enfrentamento) indicam que o projétil entrou na base da cabeça e saiu pelo queixo. Além disso, em alguns casos, foram identificados tiros que atravessaram simultaneamente antebraços e braços e um dos baleados levou um tiro na palma da mão. Consultada, uma fonte ligada à investigação do caso afirmou que disparos desse tipo indicam que as vítimas foram mortas em posição de defesa e afirmou que há “sinais evidentes de execução”.O caso é investigado por meio de inquérito pelo Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), da Polícia Civil, além de Inquérito Policial Militar (IPM) e procedimento investigatório do Ministério Público do Estado (MPE).PolíciaProcurado pelo CORREIO, um perito baiano, que pediu anonimato, também vê indícios de execução. Sobre os disparos de cima para baixo, ele disse que “isso indica que a pessoa morta está numa região mais baixa do que quem atirou”. “Isso subentende que a pessoa baleada estava deitada, agachada ou ajoelhada”, complementa. Em relação aos corpos com marcas de perfurações no antebraço e braço, o especialista deduz que a pessoa deve ter sido “pega de surpresa e que por isso elevou o braço”. Procurada, a Polícia Militar se posicionou por meio de nota, informando que o inquérito instaurado pela Polícia Civil está em fase de finalização. “Dezenas de pessoas já foram ouvidas, entre policiais, sobreviventes, testemunhas e profissionais direta ou indiretamente envolvidos na ação”, diz a nota. Em outro trecho do comunicado, a PM afirma que “qualquer investigação só pode ser concluída depois que todos os elementos estiverem disponíveis: laudos periciais, declarações dos envolvidos e confirmar, na prática, o conjunto de informações na reconstituição do caso”. A assessoria da PM também sustenta que qualquer informação interpretada isoladamente pode gerar equívocos ou conclusões que não correspondam à verdade. “A apuração está sendo feita de forma transparente e uma equipe formada por quatro delegados foi designada, exclusivamente, para conduzir a investigação, que também está sendo acompanhada pelo Ministério Público”, finalizou.Perito Procurado pelo CORREIO, o presidente do Sindicato dos Peritos Criminais de São Paulo, Eduardo Becker Tagliarini, ponderou que o fato de corpos apresentarem perfurações de tiros de cima para baixo “apenas indicam que a vítima se encontrava em nível inferior ao do atirador, quando foi alvejada” e que isso, por si só, não atesta que houve execução. Sobre um dos mortos cujo tiro entrou na base da cabeça e saiu na região do queixo, “indica que o tiro entrou pela região posterior da cabeça, com característica de ser um trajeto nivelado, logo, atirador e vítima poderiam estar no mesmo nível quando do disparo”, analisa Tagliarini. Em relação aos vestígios de pólvora nas mãos de quatro corpos, o especialista comenta que isso não quer dizer, necessariamente, que os oito demais não efetuaram disparos, “pois deve ser levado em consideração o tipo de arma utilizada”. Já sobre o disparo na palma da mão de um dos mortos, ele comenta que a informação, sem a orientação do disparo e a descrição do ferimento, não atesta tentativa de defesa, “pois ele (vítima) pode ter sido atingido na mão exatamente porque estava segurando uma arma e efetuando disparos”. Tagliarini afirmou, ainda, que 1,5 metro é “longa distância”.“Sem informações da topografia do local, posição dos atores, armamento utilizado, vestígios, sede e orientação das lesões e dos danos no local, não temos elementos suficientes que permitam propor uma hipótese para o ocorrido”.Cronologia6 de fevereiro: Uma troca de tiros deixa 12 mortos e mais quatro feridos – entre eles, um policial militar. Segundo a PM, tiroteio aconteceu entre um grupo com cerca de 30 homens e uma guarnição das Rondas Especiais (Rondesp Central). 7 de fevereiro: Um homem que mora próximo ao local do confronto conta outra versão. Ele afirma que os 12 homens foram executados.8 de fevereiro: O procurador-geral da Justiça Márcio Fahel designa quatro promotores para apurar as circunstâncias da ação policial. 9 de fevereiro: Após afirmar que nove dos 12 mortos tinham passagem, a Polícia Civil recua e confirma que apenas duas vítimas tinham antecedentes criminais. 26 de fevereiro: Confusão marca audiência promovida pela OAB-BA que discutiu a ação policial no Cabula.5 de março: CORREIO identifica três famílias de suspeitos mortos que, temendo represálias, deixaram a comunidade. Ao todo, cinco das 12 pessoas mortas na operação da Rondesp Central, viviam no local.