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Gabriel Amorim
Publicado em 28 de outubro de 2019 às 15:39
- Atualizado há 2 anos
Uma jovem de 21 anos, identificada como Beatriz Santos Pereira, morreu nesta segunda-feira (28) após um suposto confronto com troca de tiros entre bandidos e a Polícia Militar (PM-BA), no Conjunto Bosque das Bromélias, na Cia-Aeroporto, onde ela morava.
A jovem foi atingida no peito depois que a bala atravessou a porta de sua casa e passou por sua mãe, Maria Eledilva, ferindo-a de raspão, no abdômen.
Socorrida pelos vizinhos para o hospital Menandro de Farias, em Lauro de Freitas, Beatriz não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade de saúde. Segundo Iuri Barreto, marido de Beatriz, contou ao jornal Bahia Meio Dia, da TV Bahia, a filha do casal, uma bebê de 11 meses, por pouco não foi atingida também pelos disparos. Tia da jovem morta estava consternada (Foto: Betto Jr./CORREIO) Relatos de vizinhos dão conta de que a vítima e outros moradores buscavam água em um tanque externo ao prédio onde a jovem morava, quando foram abordados por policiais. O condomínio estava sem água há seis dias e os moradores se abasteciam no tanque externo.
"Eles chegaram perguntando por um traficante que estaria aqui também. Aqui é assim, a polícia já chega atirando", contou um morador que preferiu não ser identificado por temer represálias.
Ainda conforme os moradores do condomínio, com a chegada da polícia, a vítima voltou para dentro de casa, justamente para não ficar no fogo cruzado, pois a polícia já teria entrado no condomínio atirando. Os policiais, então, teriam disparado na direção da casa de Beatriz, acreditando que algum suspeito também havia entrado no apartamento da moça.
Beatriz foi socorrida pelos próprios vizinhos, acompanhados pelos policiais militares. A porta do apartamento dela, no andar térreo do edifício, exibia uma única marca de tiro, por onde teria passado a bala que a acertou. "Eles dizem que foi uma troca de tiros. Com um tiro só!? Uma mãe de família!?", questionou indignada outra vizinha da vítima. (Foto: Betto Jr./CORREIO) Resposta da PM Em nota enviada ao CORREIO, a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) lamentou a morte de Beatriz Santos Pereira e informou que irá investigar o ocorrido.
"A Polícia Militar lamenta a morte de uma senhora na manhã desta segunda-feira, 28, no Parque das Bromélias (sic), durante o atendimento de uma ocorrência. O Comando de Policiamento da Região Metropolitana de Salvador (RMS) já tomou as devidas providências e vai instaurar um Feito Investigatório para apurar as circunstâncias do fato", diz a nota da PM. Ainda de acordo com a nota oficial da corporação, a ação no Bosque das Bromélias aconteceu depois que equipes de policiais que transitavam pela rodovia BA-526, no sentido Lauro de Freitas, visualizaram um veículo branco, com quatro indivíduos "em atitude suspeita".
"Durante a abordagem, os suspeitos fugiram e entraram no Condomínio Bosque das Bromélias, quando os policiais foram recebidos a tiros por mais um grupo de homens armados. Houve revide, mas os suspeitos conseguiram fugir por um matagal. Em seguida, a PM tomou conhecimento de que uma senhora ficou ferida, foi socorrida por populares, acompanhados pelos policiais militares, ao Hospital Menandro de Farias, onde ela não resistiu", continua o texto da nota.
Durante a tarde, a perícia técnica da DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) esteve no condomínio Bosque das Bromélias para coletar indícios que possam identificar a origem do disparo que matou Beatriz. Um inquérito policial será instaurado para investigar o caso.
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Protesto e revolta Depois de socorrer Beatriz, os moradores do Bosque das Bromélias realizaram um protesto pedindo por justiça e punição para o autor do disparo que matou a jovem.
"A gente queria pedir justiça. Não estamos reclamando porque pegaram um bandido. Aqui mora gente de bem também. Mataram uma mãe de família. Estamos cansados de viver com medo nas nossas casas", disse uma moradora.
Durante a manifestação, que ocorreu por volta das 10h, os moradores chegaram a bloquear a via principal atravessando um caminhão na pista. A polícia retirou o bloqueio e, ainda segundo os moradores do condomínio, teriam disparado balas de borracha para dispersar os manifestantes.
"A gente botava os piquetes e eles tiravam. Até que começaram a atirar para despistar a gente" (sic), contou uma moradora, que disse ainda ter sido atingida no pé por uma das balas de borracha da PM.
Outros protestos e bloqueios da pista foram realizados pelos moradores no decorrer do dia, inclusive com pneus e lixo sendo queimado na BA-526.
A ação que culminou com a morte de Beatriz se junta a outras abordagens da PM que resultaram em mortos ou feridos. Em reportagem de 7 de junho de 2018, o CORREIO divulgou dados da Corregedoria Geral da Secretaria da Segurança Pública (SSP), referentes aos anos de 2016 e 2017, que dão conta de que na polícia baiana, entre militares e civis, acontecia ao menos uma exoneração de policial por semana.
Nesses dois anos, 33 PMs foram expulsos da corporação por cometer crimes ou por desvios de conduta. *Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro