'Hora do Mamaço' conscientiza sobre a liberdade para a amamentação
Evento integra o calendário nacional da Semana Mundial do Aleitamento Materno
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Da Redação
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Seios à mostra, mulheres reunidas e crianças alimentadas. Mães se encontraram neste domingo (4) para debater a importância do aleitamento materno e da liberdade da mulher durante a 8ª edição da Hora do Mamaço, no Salvador Shopping. O evento, que contou com uma amamentação coletiva, integra o calendário nacional da Semana Mundial do Aleitamento Materno e ocorreu simultaneamente em diversas cidades do país.
"Durante muito tempo a mama só foi vista como algo sexual, ou algumas vezes relacionada ao câncer de mama. Nós promovemos a amamentação em público para mostrar que a mama também tem essa importância para o aleitamento materno e abordar a importância da amamentação para a criança", explicou a psicóloga, doula e assessora em amamentação, Tarsila Leão.
O evento começou a ser realizado em Salvador em 2012, motivado por uma mãe que foi impedida de amamentar em público em São Paulo. "Tivemos por muito tempo mulheres negando o corpo, a questão do feminino para se adequar ao mercado de trabalho e se assemelhar aos homens. É um resgate desse feminino e dessa cultura", ressaltou a psicóloga. Tarsila Leão amamentou sua primeira filha até os 5 anos e amamenta seu segundo filho, que tem dois anos (Foto: Evandro Veiga / CORREIO) O pequeno Bernardo, de 1 ano e 6 meses, nasceu prematuro e teve que ficar oito dias na UTI. Durante esse tempo, a mamãe Renata Maia, servidora pública de 39 anos, sofreu por não poder amamentar o filho. Ela teve mastite (inflamação do seio), o peito empedrou e ela ficou com febre.
Depois desses oito dias na UTI, não teve um dia em que Bernardo não mamasse - mesmo com todas as dificuldades que Renata enfrentou ao amamentar. Isso foi uma escolha de Renata, que já tem uma filha de 22 anos que mamou até os seis anos, quando o peito dela secou.
"Quando ele saiu da UTI, eu disse que ele ia mamar exclusivamente no peito como a minha primeira filha até os seis meses com demanda livre, na hora que ele quisesse mamar. E assim foi. Ele mama até hoje por opção minha porque ele gosta, está pedindo peito mesmo se alimentando muito bem", explicou a servidora.
A justificativa não poderia ser melhor: amor e afeto. "Percebo um vínculo maior com ele e cada dia eu aprendo uma coisa com o meu filho. Acredito que a amamentação ajuda bastante por conta desse vínculo que é criado entre mãe e filho", disse.
A pequena Bella, de 2 anos e 7 meses, também mama. A mãe Grasiela Gomes, de 36 anos, explicou que o leite não é o principal alimento, mas tem um papel muito importante para sua filha. "Ele é aconchego, colo, segurança, carinho, vínculo. Eu acho super importante. Até os 2 anos e 6 meses fiz livre demanda total e agora fui restringindo mais para os períodos de manhã ou de noite", conta. Bella, de 2 anos e 7 meses, sendo amamanentada pela mãe Grasiela Gomes (Foto: Evandro Veiga / CORREIO) Para a mamãe de primeira viagem Lorena Pena, de 38 anos, o aleitamento está sendo uma das partes mais difíceis da maternidade. Ravi, filho de Lorena, tem três meses. "Com o parto e o puerpério, é uma das partes mais difíceis. A gente não sabe amamentar direito, tem diversas dificuldades com a pega da criança no peito e muitas pessoas ainda nos desmotivam", contou.
O peito dela também já empedrou, ela já teve febre por conta disso e sentiu bastante dificuldade com a amamentação do filho. "Foi muito difícil, mas com muita paciência e apoio da família eu não desisti. Eu ia desistir mesmo, mas o meu marido ficava em cima de mim me incentivando, dizendo que eu ia conseguir, que ele ia pegar", disse.
Já a museóloga Leane Gonçalves, de 30 anos, que teve sua segunda filha, Maria Flor, há três meses, está achando a amamentação ótima, mas nem sempre foi assim. Com a filha mais velha, Laine, de 14 anos, a experiência foi "sofrida", conta ela. "Foi dolorosa e acabou me fazendo desistir da amamentação por falta de informação. Eu caí na história de que o meu leite era fraco, que não era suficiente e eu acabei inserindo a fórmula e ela não aceitou mais o meu peito com três meses", conta ela.
Para amamentar Maria Flor, Leane fez consultoria de amamentação, estudou bastante e ela não se arrepende de nada. "Ninguém diz para a gente que amamentar não é só tirar o peito e colocar na boca da criança. É muito importante que as mães busquem informações sobre isso", contou.
"É claro que existem dificuldades, a privação do sono, ficar com a criança o dia inteiro no peito, mas foi muito mais fácil do que antes e eu fiquei muito mais segura sabendo que o meu peito é suficiente e que eu ia conseguir amamentar. O importante é que ela está sendo amamentada e sendo nutrida do melhor alimento que ela poderia ter", acrescentou.
Padrão ouro A vice-presidente da Sociedade Baiana de Pediatria, Ana Paz, explicou que o aleitamento materno é o "padrão ouro" de alimentação infantil e é suficiente e adequado para o bebê exclusivamente até os seis meses e indicado até os dois anos de idade. "Além da questão nutricional, tem a imunológica e a questão de vínculo. É uma das formas de fortalecer o vínculo entre a mãe e a criança, além de trazer benefícios para a saúde da criança e da mãe", destacou.
Ela ressaltou que até os seis meses os bebês só devem ser alimentados com leite materno e não precisam de qualquer complemento. "Nem água, nem chás, nem vitaminas, absolutamente nada, só leite materno", disse.
Outra questão importante do aleitamento materno é o desmame que, segundo Ana Paz, deve ser resolvida entre mãe e filho a partir dos dois anos de vida.
"Às vezes existe uma dificuldade da própria mãe em fazer o desmame. Ela precisa analisar até onde está sendo bom para ela e para a criança. Não faz nenhum mal amamentar a criança prolongadamente, o leite não vai perder as qualidades por isso", ressaltou, destacando que o processo não deve ser brusco.