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Da Redação
Publicado em 21 de março de 2023 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Mais da metade da água tratada pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) não chega ao consumidor que paga suas contas corretamente em Salvador. O ranking anual de saneamento do Instituto Trata Brasil, divulgado na segunda-feira (20), aponta que 57% da água potável é desviada por dois caminhos: ligações irregulares e problemas na rede de distribuição. No decorrer de um dia inteiro, é como se o volume de 487 piscinas olímpicas não fosse devidamente entregue aos clientes.
Os dados indicam que as 100 maiores cidades do país perdem, em média, 36% de água tratada. Já em Salvador, o Indicador de Perdas na Distribuição é de 57%. De todos os municípios pesquisados, a capital baiana figura em 11º lugar no ranking de cidades que mais perdem água. Na primeira posição está Porto Velho (RO), com 77% de perdas, e na última, Nova Iguaçu (RJ), com apenas 7,9%. As informações utilizadas na composição do ranking são de 2021.
A perda de água em Salvador está acima da média nacional desde o início da série histórica, em 2010. A menor perda registrada pelo instituto foi em 2015, quando 46% de toda a água potável não chegou aos consumidores que arcaram com as contas. Desde 2016, o índice fica acima de 51%. Para realizar o levantamento, foram utilizados dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis). Vale lembrar que a perda de água não deve ser confundida com desperdício, que ocorre quando os consumidores deixam uma torneira ligada por muito tempo, por exemplo.
Especialistas em recursos hídricos consideram que existem dois tipos de perda de água. Um deles é a perda aparente, consequência dos roubos e ligações irregulares, popularmente conhecidas como “gatos”. Do outro lado, existem as perdas reais que acontecem por problemas nas redes e às quais os consumidores não têm culpa.
“A diferença entre o volume de água que sai da estação de tratamento e o que chega nos hidrômetros é a perda. No caso das perdas físicas, podem ser vazamentos ocultos que estão debaixo do pavimento ou aqueles que afloram na superfície”, explica Luana Pretto, presidente do Trata Brasil. O instituto é uma organização da sociedade civil de interesse público e atua desde 2007.
Segundo dados do levantamento, aproximadamente 879 litros não chegam diariamente a cada ligação de água de consumidores que arcam com suas contas mensalmente. Ao todo, existem 1.048.358 ligações de água em Salvador. A multiplicação entre os dois números leva à conclusão de que mais de 921,4 milhões de litros de água deixam de chegar pelas tubulações aos consumidores por furtos e problemas na rede.
Para se ter noção do tamanho do problema, a quantidade de litros corresponde a aproximadamente 487 piscinas olímpicas, como aquela instalada na Avenida Octávio Mangabeira, na Pituba. A perda de água vai ao encontro do que é previsto pelo Marco Legal do Saneamento - Lei nº 14.026 - sancionado em julho de 2020. O novo marco estabeleceu que o índice de perda de distribuição de água seja reduzido para 25% até 2033.
A responsabilidade de fiscalizar os serviços prestados pela Embasa é da Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa), que foi procurada para informar quais medidas tem realizado para garantir que a empresa cumpra os requisitos do marco legal. No entanto, a Agersa não se pronunciou até o fechamento desta edição, às 22h
Vazamentos Uma das perdas reais mais emblemáticas da cidade ocorreu na quinta-feira (16), que marcou o início do Carnaval, no mês passado. Na ocasião, uma adutora rompeu na Avenida Reitor Miguel Calmon, engoliu um carro e desperdiçou milhares de litros de água. Outros três rompimentos significativos ocorreram ao longo de fevereiro em três bairros da cidade: Ondina, Fazenda Grande IV e Federação.
Vazamentos menores ocorrem com ainda mais frequência na rede de distribuição hídrica. A própria Embasa admite que acontecem 30 vazamentos diários nos 7,8 mil quilômetros de extensão de rede de distribuição em Salvador e Região Metropolitana (RMS). A média é considerada satisfatória pela empresa e por especialistas.
O levantamento do Instituto Trata Brasil não especifica quanto das perdas acontecem por problemas de vazamento e quanto é consequência de “gatos”. Porém, dados do Plano Municipal de Saneamento Básico de Salvador, de 2020, indicaram que 55,9% do recurso tratado é perdido na cidade. Desse total, 32,3% são causados por perdas reais (vazamentos) e 23,6% por perdas aparentes (o que não é pago por quem utiliza).
A Embasa foi procurada para comentar o assunto e não informou o quanto deixa de faturar pelas perdas de água na rede de distribuição. A empresa informou apenas que as ligações irregulares - “gatos” - correspondem a 30% do volume não contabilizado em Salvador.
Como solucionar o problema? Para evitar as perdas que ocorrem por vazamentos, é preciso que investimentos sejam feitos na rede de distribuição hídrica, como indica o engenheiro sanitarista Jonatas Sodré, membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA). “Uma série de fatores podem ser levados em consideração para evitar as perdas reais. É preciso realizar manutenção com frequência, melhorar a qualidade das tubulações”, afirma.
Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil, analisa que a diminuição da perda de água passa pela setorização da distribuição hídrica. “É preciso ter um programa estruturado de redução de perdas. Para fazer isso, é preciso dividir a cidade em pequenas partes e colocar hidrômetros nas entradas para saber o quanto de água está chegando para cada morador”, defende. Válvulas redutoras de pressão também deveriam ser instaladas para evitar vazamentos, de acordo com a presidente.
Procurada, a Embasa informou que atua em duas frentes para evitar as perdas de água. Por um lado, a empresa diz que realiza um “adequado controle operacional e manutenção do sistema, por meio de equipamentos de controle de vazão e pressão, e orientado por tecnologia de monitoramento remoto, para reduzir a ocorrência e o tempo de correção dos vazamentos".
Já para conter as perdas comerciais (furtos), a Embasa afirma que investe constantemente na renovação de hidrômetros e relacionamento com usuários, proporcionando a renegociação de dívidas para evitar os “gatos”. Um trabalho também é realizado em conjunto com forças policiais para desfazer ligações clandestinas, informa a Embasa.
*Com orientação de Fernanda Varela.