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Força-tarefa já prendeu 58 policiais por extorsão e envolvimento em grupos de extermínio na Bahia


 

Foram realizadas 14 operações e cumpridos 118 mandados de busca e apreensão

  • Bruno Wendel

Publicado em 18/12/2020 às 05:45:00
Atualizado em 21/04/2023 às 22:04:04

(Foto: Divulgação/PRF) Criada em maio deste ano, a força-tarefa da Corregedoria-geral da Secretaria de Segurança Pública (SSP) já prendeu 58 policiais civis e militares acusados pelos crimes de extorsão e envolvimento em grupos de extermínio na Bahia. Até agora, já foram 14 operações fruto das investigações em conjunto do órgão com as Corregedorias das polícias Civil e Militar e com os órgãos de inteligência. Segundo dados da Corregedoria-geral da SSP, já foram expedidos e cumpridos 118 mandados de busca e apreensão no estado. “Isso é uma resposta das instituições que não compactuam com os desvios de conduta. Na Bahia, temos cerca de 30 mil policiais militares e 6 mil policiais civis e o número de presos é ínfimo ao contingente das tropas. Ou seja, esses desvios não representam todo o efetivo, que é formado por bons policiais”, declarou o corregedor-geral da SSP, Nelson Gaspar Alvares Pires Neto, na manhã desta quinta-feira (17). A Corregedoria-geral da SSP informou que a força-tarefa foi criada para apurar os crimes mais graves, dentro das corporações, principalmente os casos de extorsão e grupo de extermínio. Um dos trabalhos da força-tarefa resultou na prisão de 11 PMs durante a Operação Alcateia. Nesta terça-feira (15), todos os envolvidos foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público do Estado (MP-BA).   Os PMs são acusados de assassinarem a tiros Cícero Santos Ramos, no dia 21 de abril de 2018, no município de Glória, e Fabiano Silva Santos, em 2 de dezembro do mesmo ano, no município de Paulo Afonso. As denúncias foram oferecidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que apontou que os acusados fazem parte de uma milícia. 

Pelo homicídio de Cícero Santos Ramos, foram denunciados: Sandro José de Oliveira, Wesley Amorim Bulhões, Júlio João Castor Júnior, Márcio André Ferreira Vaccarezza, Geovane José Santos Silva, Luís Alberto França Santos, Pedro Guipson Júnior e Aislan de Andrada Cavalcante. Já pelo homicídio de Fabiano Silva Santos, foram denunciados: Valmir Dantas Félix, Cícero Santos Silva e Robério Alves da Silva. Em relação aos milicianos, a Corregedoria-geral da SSP reconhece os casos, mas ressalta que a criação da força-tarefa foi exclusiva para as situações mais graves, mas que, em alguns casos, acabam chegando às denúncias relativas às milícias. Operações De maio até agora, a força-tarefa da Corregedoria da SSP já realizou 14 operações, sendo que a maioria dos presos faz parte do efetivo da Polícia Militar. Isso porque o número de PMs é cinco vezes maior do que a quantidade de policiais civis. No dia 26 de outubro, seis PMs foram presos acusados de extorsão em Salvador.  Além deles, um homem que não atua na polícia também foi preso. 

Os acusados foram presos durante a Operação Batedor. Os mandados de prisão temporária foram expedidos pela Vara de Auditoria Militar e 13ª Vara Criminal. No dia, os sete acusados estiveram na Corregedoria-geral da SSP, em Amaralina, onde prestaram depoimento. Todos eles, no entanto, preferiram ficar em silêncio durante o questionamento dos delegados. 

Entre as ações realizadas, está a Operação Igaporã, em junho deste ano.  Um soldado da Polícia Militar foi preso em flagrante por suspeita de participação em um roubo. A arma do militar foi apreendida em uma casa atacada por criminosos. Segundo as vítimas, três homens vestindo fardas semelhantes à da PM invadiram o imóvel alegando cumprimento de mandado de busca e apreensão. No local, o trio roubou R$ 5 mil em espécie, uma espingarda, joias, um celular e chaves de três veículos. Quando o trio saiu da casa, um dos criminosos deixou cair uma pistola e não percebeu. O armamento está registrado no nome do soldado, lotado em uma CIPM da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Em julho, dois soldados da Polícia Militar foram presos na Operação Renascimento, em Salvador, suspeitos de cometerem homicídios, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP). Os mandados de prisão temporária contra os PMs, que são lotados na Companhia Independente de Policiamento Tático/Baía de Todos-os-Santos, foram cumpridos pela força-tarefa da Corregedoria da SSP.  A Operação Renascimento também cumpriu cinco mandados de busca e apreensão nas casas dos alvos e na sede da CIPT. Foram apreendidos três pistolas, dinheiro, um celular e relógios. Os mandados de prisão, que foram expedidos pela 1ª Vara do Tribunal do Júri de Salvador e têm validade de 30 dias, são referentes à morte de uma mulher e à tentativa de homicídio contra um homem que tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Os crimes ocorreram no dia 1º de maio deste ano.

O casal foi levado para um matagal na BA-528, no bairro de Valéria, e atingido por vários disparos. A mulher morreu e o homem, mesmo algemado e ferido, conseguiu pedir socorro no Hospital do Subúrbio. O grupo era investigado há cerca de seis meses pela participação em outros crimes ocorridos nos bairros de São Caetano, Pirajá, Marechal Rondon, Fazenda Grande, dentre outros.

As outras operações realizadas foram: Assepsia fases 1, 2, 3 e 4, Cocisa, Olho D’Água, Portal, Tuluã, Condado, Alcateia e Squatter (veja abaixo).    

Prisão de quadrilha de policiais militares Quando iniciada a investigação das mortes do soldado da Polícia Militar Ítalo de Andrade Pessoa, 27 anos, e do amigo dele, o ex-fuzileiro naval Cleverson Santos Ribeiro, ocorridas em setembro deste ano no Litoral Norte, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) chegou a cinco suspeitos – todos policiais militares. Mas no decorrer do inquérito, a apuração apontou, até agora, 13 envolvidos, dos quais 10 são também PMs. Assim, com tantos nomes, foi possível chegar à dinâmica do crime. As prisões foram feitas para força-tarefa da Corregedoria-geral da SSP.  De acordo com fontes da SSP, a investigação descobriu não só os responsáveis pelos disparos, mas também a participação de outros PMs, que negaram socorro às vítimas, modificando a cena do crime – arrastaram os corpos na tentativa de simular uma troca de tiros. A apuração apontou ainda que outros policiais presenciaram toda a situação à distância e nada fizeram.  Em setembro, o CORREIO denunciou, com exclusividade, que policiais faziam parte de uma milícia que atuava em um esquema de grilagem em Camaçari. A reportagem teve acesso a uma gravação de um dos herdeiros do Loteamento Hilda Malícia, em Vila de Abrantes, no município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Segundo moradores, os policiais são os mesmos acusado na morte do soldado Ítalo e o amigo. As prisões foram solicitadas pelos Ministério Público do Estado (MP-BA) no dia 28 de setembro.  No dia 17 deste mês, a força-tarefa da SSP   cumpriu seis dos 13 mandados de prisão temporária expedidos pela Vara do Júri e Execuções Penais da Comarca de Camaçari. Entre os presos, estão os acusados de terem efetuado os disparos contra o soldado Ítalo e o ex-fuzileiro naval Cleverson: o sargento Edson Santos Silva e o soldado Alexnaldo Pereira Lopes, ambos da reserva.  Além deles, estão presos: o sargento Jailton Nascimento dos Santos e os soldados Bruno Cézar de Santana Santiago, Lucas Souza da Cruz, Welligton Souza Oliveira dos Santos, Danilton Santos da Silva e Oseas borges de Santana Junior.  Cinco acusados ainda estão foragidos: um tenente PM lotado na 31ª Companhia Independente da PM (CIPM/Valéria), e um subtenente da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT/Central), o filho de um dos militares capturados, um ex-policial e um caseiro que atuava com o grupo completam a quadrilha. O CORREIO recebeu uma lista com os nomes dos policiais acusados e que posteriormente foi confirmada pelo Departamento de Comunicação Social da PM (DCS). “Eles respondem por condutas que somente serão tipificadas pelo Ministério Público no momento da denúncia. As ações praticadas por eles estão em fase de investigação”, diz nota. Perguntado sobre o envolvimento dos policiais nos assassinatos e no esquema de grilagem, a PM respondeu: “Todos os fatos relativos a suposta conduta ilícita dos integrantes da corporação são devidamente apurados” 

Execuções O grupo investigado é acusado de compor uma organização criminosa destinada a invadir terrenos, praticando grilagem de terras, colocando moradores para fora de suas propriedades, utilizando-se de violência e ameaças contra aqueles que atrapalham o interesse da milícia.  As execuções do soldado Ítalo e o amigo dele, o ex-fuzileiro naval Clevérson, ocorridas no dia 11 de setembro deste ano, foram em virtude de disputa por um terreno localizado em Barra do Jacuípe.  Com base nas investigações, ainda em curso, o sargento Edson e o soldado Alexnaldo, ambos da reserva, chegaram ao local do crime acompanhados dos seus seguranças: o tenente 31ª (CIPM/Valéria), o subtenente da (CIPT/Central), o filho de um dos militares capturados e um ex-policial.  Ainda conforme o apurado, caseiro do local, foi quem acionou o grupo após a chegada do soldado Ítalo e o amigo dele no terreno disputado pelos milicianos. Na ocasião do crime, a família do Ítalo disse que o soldado foi ao local acompanhar o amigo que tinha comprado um terreno com a venda de um carro.  Já os demais policiais militares envolvidos estavam de serviço no dia na 59ª CIMP e chegaram ao local a bordo de duas viaturas padronizadas logo após os disparos, acobertando a ação dos envolvidos, deixando que eles fugissem do local do crime, quando deveriam prendê-los. Além disso, alteraram toda a cena do crime com o intuito de forjar uma suposta resistência por parte das vítimas. 

Ainda na investigação, foi constatado que, embora tenham encontrado Ítalo e Cleverson ainda com vida, os policias militares se negaram a prestar socorro, apesar de reiterados pedidos das vítimas, uma delas se identificando como policial militar.

Operação Squatter Por volta das 05h do dia 17 deste mês, a força-tarefa da SSP desencadeou a Operação Squatter com vistas ao cumprimento de mandados de prisão temporária expedidos pela Vara do Júri e Execuções Penais da Comarca de Camaçari, contra policiais militares acusados de cometerem diversos delitos na Região Metropolitana de Salvador.

Foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos endereços relacionados aos investigados, sendo arrecadados munições de diversos calibres, aparelhos celulares, materiais de informática, coletes balísticos, agentes químicos, documentos relacionados a posse e propriedade de imóveis, diversas armas de fogo e simulacros, certa quantidade de maconha, 2549 pinos de cocaína e uma pedra grande de crack. 

A Operação contou com a participação da Corregedoria da SSP, das Corregedorias das Polícias Militar e Civil, Batalhão de Choque, CIPE/Litoral Norte, Companhia Independente de Policiamento Especializado do Polo Industrila (Cipe/Polo),Batalhão Ostensivo Rodoviário (TOR), Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e do Comando de Operações de Inteligência (Coint), além do Centro de Operações Especiais (COE), Departemento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) , Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) e Departamento de Polícia Técnica (DPT), totalizando cerca de 150 policiais.