Em aula pública, reitor da Ufba divulga ações de saúde: ‘Estamos resistindo’
Atendimentos, exames, pesquisas e cirurgias são feitos em 11 unidades de saúde da instituição
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Tailane Muniz
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Aula aberta aconteceu no Salão Nobre da Reitoria (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Mais de um mês se passou desde que o Ministério da Educação (MEC) bloqueou R$ 50,4 milhões do orçamento de custeio da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Mas nas palavras do reitor, João Carlos Salles, a instituição resiste. Em aula pública realizada no Salão Nobre da Reitoria, na noite dessa segunda-feira (10), o gestor mostrou ações realizadas pelas 11 unidades de saúde da universidade.
A intenção foi mostrar às pessoas que a universidade baiana vai além dos muros dos campi. "É uma situação difícil de incompreensão, de ataques, de restrições orçamentários, logo, é nossa obrigação deixar claro, neste caso quanto à saúde, o valor da instituição".
A aula, com tema "A universidade e o direito à saúde", foi aberta por um vídeo em que a cantora Daniela Mercury pede à comunidade acadêmica que "não desista". "Com convicção, foco, força, a gente vai conseguir. Não desistam", afirmou Daniela, pouco antes da exibição de um outro vídeo, com imagens de pessoas que relataram suas experiências em contato com os atendimentos de saúde realizados pelas unidades da Ufba. Reitor reafirmou "momento difícil" (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) De pesquisas a cirurgias, além de exames e diagnósticos, de acordo com o reitor, o compromisso do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), a Faculdade de Odontologia, o Instituto de Ciências da Saúde (ICS), a Faculdade de Farmácia, de Medicina, o Instituto de Saúde Coletiva (ISC), além da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Escola de Nutrição, do Instituto de Biologia, Escola de Enfermagem e a Maternidade Climério de Oliveira, está além de "formar pessoas".
"Seja na pesquisa aplicada, nos serviços de longa duração, ou numa pesquisa que pode ser básica, quanto numa assistência completa e, ainda, numa cirurgia. Também num atendimento simples ou um exame laboratorial. Temos um compromisso com o Sistema Único de Saúde (SUS), com a prática, para além de uma formação de qualidade", explicou o reitor.
'Resposta às ameaças' Ele também afirmou que, mesmo após decisão da suspensão do bloqueio do MEC, por decisão da juíza baiana Renata Almeida de Moura Isa, da 7ª Vara Federal, a "luta não terminou".
"O MEC diz que pode ser revertido [o contingenciamento], desde que haja a Reforma da Previdência. Ele quer negociar o inegociável, então, resistimos. As alternativas que eles têm revelam ignorância, a exemplo de solicitar a Polícia Militar para fazer a vigilância patrimonial".
As dificuldades enfrentadas pela universidade, que, por meio de suas pesquisas, descobriu desde o zika vírus a nano partículas em fungos, no entanto, é um estímulo a mais, de acordo com João Salles, para que a sociedade saiba que, em 2018, o laboratório de análises do ICS realizou 52 mil exames, e a Faculdade de Odontologia, 30 mil atendimentos - entre atenção básica e complexa para adultos e crianças. Diretor do Hupes, Antônio Carlos Lessa comentou contingenciamento (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A Escola de Medicina Veterinária, por sua vez, chegou à marca de 34 mil exames laboratoriais, cinco mil cirurgias, além de 16 mil consultas, atrás apenas do Hupes, que fez um milhão de atendimentos e diagnósticos. Voltada para crianças e gestantes, e que atende também usuários de drogas, a Faculdade de Medicina realizou, no ano passado, 3.400 consultas.
Diretor do Hupes, Antônio Carlos Lemos disse que o contingenciamento afeta diretamente o funcionamento do hospital. "São basicamente três aportes de recursos. O SUS, que é a nossa produção, ou o atendimento. O outro, do MEC e Ministério da Saúde, que contribui com verbas substanciais para que mantenhamos a reforma e até custeios. A outra, são despesas que ainda são pagas pela Ufba, pela organização central, contas de água, limpeza, energia".
O diretor comentou, ainda, que o Hupes atende 40 especialidades e dispõe de 300 leitos. "A população precisa estar mais integrada, ter mais conhecimento dessa área de atenção à saúde. A nossa assistência vai além dos nossos muros, nossos médicos, enfermeiros, psicólogos são formados com excelência para atender aqui ou em qualquer lugar do Brasil e do mundo", destacou. Para Glória Teixeira, academia tem "grande papel social" (Foto: Arisson Marinho) Ensino, pesquisa e extensão Professora de Epidemiologia do ISC, Glória Teixeira disse que as pessoas precisam entender que há um "papel social muito grande" por trás da academia. A pesquisadora comentou que, na aula dessa segunda-feira, a "grande questão é mostrar que a Ufba está além de formar".
"As universidades públicas do Brasil são divididas em três pilares, são eles ensino, pesquisa e extensão. A extensão, como chamamos, é o que faz esse papel social. Um exemplo disso é o Hupes, onde, desde sua inauguração, no início da década de 50, milhares e milhares de pessoas já foram atendidas e beneficiadas. O nosso hospital é uma referência da alta complexidade e tem profissionais que trabalham dia e noite".
Glória acrescentou, ainda, que a Ufba tem cerca de 30 mil alunos, sendo 40% oriundos de escolas públicas. Para o professor Jairnilson Paim, do ISC e um dos 19 pesquisadores da Ufba conceito 1A no CNPQ, é importante que a sociedade tenha "consciência sanitária"."Isso significa dizer que a luta cotidiana pela saúde tem direitos, e também deveres. É uma oportunidade acadêmica de viabilizar à sociedade a ciência, a inovação e, claro, a saúde", disse Jairnilson.Professora da disciplina Saúde da Criança e do Adolescente, na Escola de Enfermagem, Climene Laura de Camargo levou para a Ilha de Maré, em 2006, um programa de desenvolvimento sustentável para comunidades quilombolas. Segundo ela, além de saúde, as atividades promovem também autoestima e a segurança daquelas pessoas.
"Nós abordamos o desenvolvimento sustentável, por exemplo, utilizando o resto dos materiais descartados por artesãos para fazer placas acústicas. Tudo isso é ligado à renda, à saúde, porque é um projeto macro", comentou Climene, ao afirmar que pelo menos 200 famílias já foram alcançadas.
Ela defende que uma aula pública como a que foi realizada nessa segunda pode levar ao conhecimento das pessoas "a grande potência que têm as universidades federais".