Doleira Nelma Kodama é presa pela PF em Portugal por tráfico de drogas
Salvador era usada como ponto para abastecimento em esquema de tráfico internacional
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Sete pessoas foram presas nesta terça-feira (19) em uma operação da Polícia Federal que combate o tráfico internacional de drogas - cinco no Brasil e duas em Portugal, incluindo a doleira Nelma Kodama, ex-namorada do também doleiro Alberto Yousseff, que foi detida em um hotel de luxo no país europeu. Também foi preso o ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Mato Grosso, Nilton Borges Borgato.
Os nomes foram confirmados pela TV Globo. A Polícia Federal diz que não fala na identidade dos presos. O delegado Adair Gregório, responsável pela investigação na Bahia, diz: "São pessoas bem sucedidas, mas que eram lideranças da organização. Todos os presos hoje são peças fundamentais na organização".
A Operação Descobrimento cumpriu mandados, além da Bahia, em outros quatro estados brasileiros: São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco.
As investigações começaram em fevereiro de 2021, quando um jato executivo que pertence a uma empresa portuguesa de táxi aéreo pousou no Aeroporto de Salvador para abastecer. Uma fiscalização encontrou cerca de 595 kg de cocaína na fuselagem da aeronave.
Apesar dessa apreensão, a PF constatou que a mesma aeronave já tinha feito outras cinco viagens semelhantes, o que indica que o tráfico já vinha sendo feito há algum tempo.
Salvador era usada apenas como ponto de abastecimento da aeronave. "A droga saia de São Paulo e aeronave parava em Salvador para repôr o combustível porque é a cidade mais próxima de Portugal", explicou o delegado Adair Gregório.
Em fevereiro do ano passado, quando parou para abastecer, a aeronave apresentou um problema . "Houve uma pane no sistema elétrico por causa da cocaína, o que chamou a atenção e a apreensão do carregamento", disse o delegado. Na ocasião, foi comprovado que o piloto não sabia que estava transportando a droga na fuselagem.
Ainda segundo as investigações, ficou comprovado que a empresa também não tinha conhecimento que a aeronave era usada para o tráfico internacional. "As pessoas que pagaram pelo transporte exigiram à empresa e ao piloto que a aeronave permanecesse em um hangar por uns três dias. O dono da empresa e o piloto comprovaram através de documentos que não concordaram, mas cederam por insistência do contratante", disse o delegado.
As prisões que ocorreram no Brasil foram em São Paulo (2) , Cuiabá (1), Jundiaí (1) e Recife (1). Outros dois mandados não foram cumpridos. Em Portugal, as 2 aconteceram em Lisboa. Todos os presos tiveram prisão preventiva decretada.
Entre os 46 mandados de busca e apreensão, um foi cumprido em Vitória da Conquista. "O mandando estava relacionado a um doleiro. A justiça não decretou a prisão dele porque nessa fase o alvo foram as lideranças", explica o delegado.
Doleira Nelma foi acusada de agir em parceria com Yousseff em um esquema para lavar dinheiro que movimentou mais de R$ 10 bilhões. Ela cumpriu pena de cinco anos por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa, variando entre o regime fechado e o domiciliar. Em 2019, ela parou de usar uma tornozeleira eletrônica, após três anos de monitoramento.
Segundo O Globo, por conta de dívidas, na época a doleira chegou a organizar um bazar em que oferecia peças de várias grifes. Ela chegou a dever mais de R$ 100 milhões em multas por sonegação fiscal e reparação de danos, entre outros crimes investigados pela Lava Jato.
Ela foi presa no âmbito da operação em 2014, quando estava com 200 mil euros escondidos na calcinha tentando embarcar no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Ex-secretário O ex-secretário Nilton Borgato foi preso pela manhã em Cuiabá e está na Polícia Federal. Ele será encaminhado ao Centro de Custódia de Cuiabá enquanto aguarda a audiência de custódia. Ao G1 MT, o advogado dele, Luiz Derze, disse que não teve acesso ao processo e que o mandado de prisão não cita pelo que Borgato é investigado. Disse que o cliente está à disposição da Justiça para esclarecimentos.
O ex-secretário foi preso no apartamento em que mora, no bairro Jardim Aclimação. Ele assumiu a pasta em janeiro de 2019 e deixou o cargo em março desse ano, para se dedicar a uma candidatura a deputado federal pelo PSD.
O PSD divulgou nota afirmando que tomou conhecimento das medidas contra o ex-secretário pela imprensa e que aguarda o desenrolar da investigação para tomar qualquer tipo de decisão.