Déficit habitacional atinge 2,2 milhões de baianos
O estado precisa construir mais de 600 mil imóveis formais
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Da Redação
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A falta de moradia adequada gera, hoje, um déficit habitacional que ultrapassa 600 mil imóveis na Bahia. Trata-se de uma carência de habitação formal - construída com materiais duráveis - que atinge quase 2,2 milhões de baianos. Em meio ao forte crescimento do mercado imobiliário do estado - que apresentou incremento de 179% no volume de lançamentos no primeiro semestre deste ano -, milhares de famílias continuam sonhando na conquista da verdadeira casa própria, sobretudo na região metropolitana de Salvador, onde o déficit é de mais de 150 mil moradias.
O déficit de moradia formal na Bahia, assim como no Brasil, teve forte crescimento na década de 90, saltando de 474 mil para 683 milnoinício deste milênio. A partir de 2000, começou a apresentar queda, chegando aos índices atuais. Hoje, de acordo com dados da Caixa Econômica Federal, 96% da carência de habitação se concentra na faixa de renda de até cinco salários mínimos.
Diante da falta de moradia, muitas famílias, ao longo de décadas, improvisam suas residências em invasões e áreas de risco da cidade. A coordenadora do Labotarório de Habitação da Faculdade de Arquitetura da Ufba, Ângela Gordilho, diz que essas 'ocupações' foram iniciadas no final da década de 40 e são reflexos de uma política ineficaz no setor. 'São áreas informais, sem estrutura, que não possuem projetos urbanísticos. Estavam à margem da atuação do poder público, muitas sem condições mínimas de habitabilidade. Hoje, essas moradias representam 34% do território ocupado de Salvador', diz.
INVESTIMENTOS
Ângela Gordilho explica que somente a capital necessita de investimentos na ordem de R$7 bilhões (até 2025) para enfrentar os problemas relacionados à moradia. 'São recursos que devem ser aplicados em melhorias das habitações informais existentes ou na construção de novas'.
Muito além dos números, a especialista explica que o déficit habitacional qualitativo ultrapassa a marcadas 450mil unidades somente em Salvador. 'São áreas onde faltam infra-estrutura, sistema de drenagem, esgotamento sanitário, regularização fundiária, equipamentos comunitários. E o pior de tudo: são espaços que continuam crescendo à revelia de uma legislação e parâmetros urbanísticos'. Gordilho, que já foi secretária municipal de Habitação, explica que há quase 20 anos foram suspensas as construções de conjuntos habitacionais, como Cajazeiras, que eram voltados para pessoas com renda entre dois e quatro salários mínimos, ou seja, atingidas pelas estatísticas do déficit. 'Isso teveumimpacto muito grande. Apesar de não beneficiar as pessoas que tinham renda inferior a dois salários'.
Faltam espaços na capital
Um dos agravantes para a situação, apontado por Ângela Gordilho, é que Salvador não possui mais espaços vazios para acomodar novas construções. 'O que existe de terreno hoje mal dá para atender a carência existente. Falta espaço para acomodar as 150 mil unidades que devem ser construídas. A cidade não tem mais espaço físico, mesmo se for verticalizar, como está verticalizando.' A especialista explica que existe menos de 10% de área no município passível a construções.' Por isso, tem-se que pensar uma cidade com qualidade ambiental para todos, a curto, médio e longo prazos. Tem-se que pensar, inclusive, na elaboração de um plano metropolitano, já que a população terá que migrar para a área da RMS'.
Outra solução apontada por Ângela Gordilho para enfrentar o colapso habitacional da cidade passa pela constituição das Zeis (Zonas Especias de Interesse Social), que passariam a dar suporte a novos planos urbanísticos.
(Reportagem publicada na edição de 14/10/2008 do CORREIO)
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