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Crime de cárcere privado leva três homens à prisão na Bahia em uma semana


 

Um quarto caso, em Camaçari, foi noticiado pelo CORREIO; jovem foi torturada por seis meses

  • Da Redação

Publicado em 23/03/2019 às 06:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 14:21:06

Apenas um dia depois de a estudante Deisiane Souza Cerqueira, 18 anos, tornar pública as torturas que sofreu enquanto foi mantida em cárcere privado pelo namorado, Marcos Alexandre da Silva, 35, mais dois casos envolvendo o mesmo tipo de crime vieram à tona na Bahia. Em uma semana, foram três casos. A pena para o crime vai de um a cinco anos de prisão.

Nesta sexta-feira (, a Polícia Civil anunciou duas prisões pelo crime de cárcere privado: uma em Salvador e outra em Brumado, no Centro-Sul do estado. No último dia 15, um terceiro homem foi  preso pelo mesmo motivo em Vila de Abrantes, Camaça)ri, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

O caso mais recente é a prisão preventiva de Thiago Barroso da Costa Rocha, 35. Ele foi preso nesta quinta-feira (21) à noite, na Calçada, acusado de manter sua ex-namorada em cárcere privado durante oito dias em Salvador. A vítima de Thiago foi identificada como Mayana Barbosa França, 31, que foi sequestrada por ele no dia 1º de março. Ela ficou desaparecida por oito dias até conseguir fugir e ser socorrida por policiais militares na mesma região em que ele foi preso. Thiago Barroso foi preso no bairro da Calçada após manter a ex em cárcere privado por oito dias (Foto: Divulgação/Polícia Civil) De acordo com a Polícia Civil, ele exigiu dinheiro à família de Mayana para que ela fosse libertada. Ela ficou internada por dois dias com suspeita de envenenamento. Thiago será indiciado pelos crimes de cárcere privado, ameaça e lesão corporal.“Se ficar comprovado o envenenamento, ele também deve responder por tentativa de feminicídio”, explicou a delegada Heleneci Nascimento, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas.Brumado Também nesta quinta-feira (21), Isaías Oliveira Pereira foi preso em flagrante mantendo a ex-namorada de 19 anos em cárcere privado durante 24 horas. O nome da vítima não foi divulgado pela Polícia Civil.

A mulher foi resgatada com vida no Conjunto Habitacional Brisas II, onde morava, em Brumado, por investigadores da delegacia da cidade. Segundo a polícia, Isaías desobedeceu medida protetiva de urgência que determinava que ele mantivesse distância da ex-namorada. O delegado Cláudio Marques afirmou que ele já tinha passagens por tentativa de feminicídio, lesão corporal, furto e roubo. Isaias Oliveira Pereira foi preso na última quinta-feira (21), em Brumado, no Centro-Sul da Bahia (Foto: Divulgação/Polícia Civil) São Tomé de Paripe Já no dia 15 de março, Jucelino dos Santos Correia foi preso acusado de ter mantido sua namorada, que não teve o nome divulgado, em cárcere privado, além de ter agredido, ameaçado e abusado sexualmente dela. Jucelino foi preso em Vila de Abrantes. As agressões, no entanto, aconteceram em 2015 em São Tomé de Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.

“Tomamos conhecimento em janeiro de 2018 e, desde então, o autor estava sendo procurado. Agora, Jucelino está à disposição da Justiça criminal”, acrescentou a delegada Daniele Monteiro, da 26ª Delegacia (Abrantes). Jucelino dos Santos Correia foi preso em Abrantes no dia 15 de março por crime cometido em 2015 (Foto: Divulgação/Polícia Civil) Controle A promotora Márcia Teixeira, coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh) do Ministério Público do Estado da Bahia, afirmou que, embora não considere recorrente, o cárcere é a prática mais radical do controle, utilizada em casos de violência doméstica.

“O cárcere privado seria uma modalidade mais cruel da segregação da rede socioafetiva, que é uma característica do homem que pratica violência doméstica. Normalmente, esse homem usa a técnica para que o controle da mulher fique mais fácil. Ele vai afastando aos poucos a rede familiar, associativa, espiritual dela”, afirmou Márcia, para quem a violência, muitas vezes, é silenciosa.“É muito comum, nos casos de violência doméstica, o controle de ‘não vá, não faça, não estude, não quero, não trabalhe’. O cárcere seria um nível máximo de controle do corpo e do direito de ir e vir”, acrescentou Márcia TeixeiraA promotora ainda destacou que é necessário uma maior atenção para o interior da Bahia, onde há aumento nos casos de feminicídio porque as cidades estão “desguarnecidas de forças de segurança e sociais”.

Violência contra a mulher Na tarde desta sexta-feira (22), uma sessão especial da Câmara Municipal de Salvador (CMS) tratou dos crimes de feminicídio. A sessão, em homenagem ao Dia INternacional da Mulher, foi idealizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, da Câmara de Salvador, presidida pela vereadora Ireuda Silva (PRB).

Durante a sessão, a coordenadora de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde (MS), Mônica Neri, apresentou números alarmantes. Conforme a pasta federal, de 2011 a 2017, 1,5 milhão de casos foram notificados (através da central de atendimento, pelo telefone 180), posicionando o Brasil em quinto lugar na estatística negativa de violência contra a mulher.

Já a titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, a delegada Simone Moutinho, informou que em 2019 já foram instaurados mais de 900 inquéritos só na unidade. “Todo feminicídio um dia foi uma agressão de natureza leve”, alertou.