Coco era um dos últimos dos Floquet no tráfico do Alto das Pombas
O traficante morreu durante um confronto com policiais militares, no domingo (22); 'era um homem destemido', segundo polícial
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Edeilson da Silva Miranda, 22 anos, o Coco, era o único integrante dos Floquet ainda em evidência no antigo ramo família: tráfico de drogas no Alto das Pombas. “Eles já perderam a força aqui. Eram em número bem maior que é hoje. Coco era um dos pouquíssimos que insistiam na permanência aqui. Uns já morreram. Outros saíram daqui”, disse um policial militar, que trabalha na Base Comunitária do Calabar.
Segundo ele, o traficante ainda carregava no sangue a tradição da família, que por anos foi soberana no Calabar e parte do Alto das Pombas. “Era um homem destemido. Enfrentava a polícia sem problema. Não foi à toa que ele morreu em confronto com os policiais. Ele dizia a todo mundo que estava pronto para tudo, que, num confronto, era ele ou ele”, relatou o policial.
Coco foi morto por policiais militares neste domingo (22), no Alto das Pombas. Segundo a Polícia Militar, uma guarnição do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO), em ronda na localidade conhecida como Baixa do Bispo encontrou dois indivíduos em atitude suspeita. Ao avistar a equipe os suspeitos sacaram as armas disparando contra os policiais militares (PM), havendo o revide. Após cessar os disparos, os PMs localizaram um homem no solo que foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde não resistiu aos ferimentos. O outro suspeito foi conduzido para ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), juntamente com o material apreendido.
Fama Em 2011, Coco ganhou fama pela ação de uma de suas primas que, durante incursão policial ao ser perguntada por um repórter do extinto programa de TV Na Mira, onde estava Coco, bateu na genitália, dizendo “Olha Coco aqui ó”. A frase virou hit na internet com mais de 1 milhão de acessos no Youtube.
Quando sua família ganhou espaço no noticiário policial, em 1987, ele nem era nascido. A mãe de Coco, Simone Floquet - que em 16 de abril de 2007 foi condenada a três anos e seis meses de prisão pela 1ª Vara Crime de Tóxicos - decidiu não macular o nome do filho com o estigma.
A ligação dos Floquet com os holofotes do crime começou quando uma guarnição da PM, comandada pelo tenente Paulo Cunha invadiu o Calabar, atrás de ladrões de carro. Três homens foram presos - dois deles apareceram mortos - e o encanador Jorge Luiz Floquet, nunca foi achado, embora um fotógrafo do extinto Jornal da Bahia, Paulo Neves, tenha registrado sua imagem sendo levado pelos policiais.
Desde então, outros membros da família envolvidos em tráfico e roubos a bancos foram mortos. Entre eles, o assaltante de banco, José Floquet, vulgo Negão, e Leandro Floquet, acusado pela polícia de ser o mentor de chacina do Alto das Pombas, em junho de 2008.
Coco foi preso em 2011 sob a acusação de ter matado o taxista Jailson Santos de Jesus, em dezembro de 2010. Contudo, a família e amigos contestam. Testemunhas disseram que hora do crime ele estava na igreja.
Estigma No ano de 2011, o CORREIO entrevistou alguns integrantes dos Floquet. Eles falaram sobre o peso do nome. Na França, no período medieval, quem carregava o sobrenome Floquet podia ostentar até brasão. O sobrenome francês significa penacho ou tufo de plumas, em referência aos adereços que eram usados pelos nobres medievais.
A história nobre do nome, no entanto, não se aplica aos Floquet que moram há mais de 30 anos na Baixa do Bispo, no Alto das Pombas. “Quem carrega o sobrenome Floquet ou mesmo que não tenha o nome, mas pertence à família, é sempre taxado de vagabundo e bandido. Toda família hoje paga pelo erro cometido no passado”, desabafou à época uma tia de Coco, que trabalha como manicure e vendedora.
Ela tem três filhas e conta que elas só conseguiram trabalho por não terem o nome no registro. “Se tivessem iam ser igual a todas nós que colocamos currículos em vários lugares e mesmo com qualificação não somos chamadas”, disse na ocasião.