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Bahia deixará de arrecadar R$ 1,8 bilhão com o cancelamento do Carnaval


 

Entenda os efeitos econômicos do cancelamento da maior festa do planeta

  • Da Redação

Publicado em 24/12/2021 às 06:00:00
Atualizado em 20/05/2023 às 15:26:13
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Agora é oficial: o Carnaval de Salvador, a maior festa de rua do planeta, foi cancelada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), nesta quinta-feira (22), a 59 dias da folia. Ele deu o anúncio durante a entrega da nova ala de emergência do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) e confirmou, horas depois, pelo Twitter. Na postagem, o governador ainda comentou que irá se reunir com os líderes dos municípios para avaliar algum tipo de recurso para as pessoas que dependem do Carnaval.

"Precisamos ter responsabilidade com a saúde e a vida das pessoas. Realizar o Carnaval no modelo tradicional, como uma festa em larga escala, se mostra inviável. Mais pra frente, avaliaremos o que pode ser feito e em que condições", disse. “Hoje temos 2,4 milhões de baianos com a vacina contra a covid em atraso. Além disso, estamos lidando com uma epidemia de gripe, que tem sobrecarregado o sistema de saúde. Precisamos ter responsabilidade com a saúde e a vida das pessoas. Realizar o Carnaval no modelo tradicional, como uma festa em larga escala, se mostra inviável”, declarou Rui Costa, pelo Twitter.  

Até então, a decisão sobre se haveria ou não a festa em 2022 estava suspensa. Entretanto, diversos artistas já haviam se posicionado contra a realização  do Carnaval na capital, ao não disponibilizarem seus trios para o período, como foi o caso de Bell Marques e Gilberto Gil. "Alguém falar de Carnaval a essa altura do campeonato, está querendo ser irresponsável com a vida do outro, não há a mínima condição. Admitir festa com 5 mil pessoas já é difícil, ainda mais com a escala do Carnaval", disse o governador no evento no Roberto Santos.

Com o cancelamento da festa, a Bahia deixará de arrecadar cerca de R$ 1,8 bilhão, segundo o presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Flávio Emanoel. Além disso, 250 mil empregos deixarão de ser gerados.  Ele diz que que não esperava decisão diferente. “O segmento privado já tinha entendido que não teria Carnaval, tanto que os camarotes e bandas venderam para outros estados. O pronunciamento do governador acaba com todas as esperanças do setor, principalmente, da classe trabalhadora, dos ambulantes, cordeiros, seguranças, aqueles cuja a economia do Carnaval é extremamente importante ao longo do ano. Um ambulante consegue juntar dinheiro para oito meses”, avalia Emanoel.  

O setor de entretenimento alerta que a não realização da festa por dois anos consecutivos pode comprometer o legado do Carnaval de Salvador. “O turista e o artista vão aprender um novo destino. Vai haver um esvaziamento não só da quantidade de pessoas nas ruas, em 2023, mas da receita que o turista traz para a cidade”, completa o presidente do Comcar.  

O presidente da Associação de Blocos de Trio, Washington Paganelli, reclama da decisão monocrática do governador. “Não houve diálogo, ele apenas tomou uma decisão monocrática em cima de critérios desconhecidos”, critica Paganelli.  

Em momentos anteriores, o governador e o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), disseram que tomariam a decisão em conjunto sobre a festa. Contudo, o anúncio foi feito somente por ele. Segundo a prefeitura, “o prefeito tirou uns dias para ficar com a família” e só retoma na segunda-feira (27). Até esta data, ele não deverá se pronunciar.  

Desemprego  Paganelli estima que, cada bloco de rua, gere em torno de 3.500 empregos diretos e indiretos e, por trás de cada banda, são cerca de 100 pessoas trabalhando, desde assessoria de imprensa, produtor, músicos, motoristas à pessoa que faz o lanche para a equipe. “Salvador já não tinha como fazer Carnaval porque não tinha mais artista, eles foram para outras cidades. Estamos perdendo espaço e já não somos referência de nada”, completa o presidente da associação.  

Os 15 mil cordeiros que trabalham no Carnaval, por sua vez, deixaram de fazer a grana extra com a festa. Como cada um faz diária de R$ 50 e R$ 100, as perdas ultrapassam R$ 1 milhão. “A classe vem sofrendo por dois anos consecutivos e isso impacta a renda familiar desses trabalhadores, porque sempre consegue fazer a dobradinha, no caso dos blocos pequenos. Então, em uma semana, eles faziam uma média de R$ 400 a R$ 500, o que ele não consegue ganhar em um formato de 30 dias”, explica Matias Santos, presidente do Sindicato dos Cordeiros da Bahia. 

Ele ainda pontua que essa renda fica toda na cidade. “O cordeiro, com esse dinheiro, vira empreendedor, porque vira baleiro, ambulante, compra uma mercadoria para vender ou então paga uma creche, faz um curso profissionalizante e acessa o mercado de trabalho, multiplicando esse dinheiro. Além disso, o jovem pode sair da criminalidade e ir para o mercado informal”, argumenta Matias Santos.  

O presidente da Associação Baiana dos Camarotes, Guiga Sampaio, que é dono do Camarote Harém, pontua que um camarote de porte médio, por conta dos tributos, gera um lucro de R$ 700 mil em arrecadação, para o estado e prefeitura. São mais de 50 licenciados pelo executivo municipal, segundo ele. Ou seja, um prejuízo de R$ 35 milhões. 

Sampaio revela que o Harém já tem outro destino para fevereiro de 2022: Barra Grande. “Está em nosso radar fazer um evento com a chancela do camarote, mas com outro formato. Será um festival de música, com quatro dias, com artistas baianos e com ambiência mais praieira”, conta Guiga Sampaio. Já confirmados na grade de programação, estão Alexandre Peixe, Jau, Filhos de Jorge e Psirico.  

Pelo menos quatro camarotes, no entanto, estão confirmados na avenida. São eles: o Camarote Salvador, com Vintage, Leo Santana, Timbalada; o Camarote Skol, com Claudia Leitte e Wesley Safadão; o Camarote Villa, com Gusttavo Lima e Xand Avião, e o Planeta Band, com Psirico, Parangolé, Luiz Caldas e Harmonia do Samba. No Centro de Convenções da Boca do Rio, haverá Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Margareth Menezes. 

Os hotéis também sofrerão redução na taxa de ocupação. “Os hotéis na linha turística, como em Stella Maris e no Pelourinho, vão receber gente. Mas, os executivos, serão extremamente prejudicados. Calculamos que, para o réveillon, que deveria ser 100%, será 70%, e, no Carnaval, a mesma coisa”, estima o presidente da Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade do Estado da Bahia (FeTur), Silvio Pessoa.