Ana de Xangô faz primeiras obrigações religiosas como ialorixá do Axé Opô Afonjá
Terreiro estava fechado desde a morte de Mãe Stella de Oxóssi; posse deve acontecer em junho
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Da Redação
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A nova ialorixá do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, Ana de Xangô, chegou à Casa, no bairro do São Gonçalo do Retiro, logo depois do sol nascer. Às 6h deste domingo (29), fez suas primeiras obrigações religiosas como mãe de santo do terreiro. Junto a outros filhos de santo, limpou e arrumou a casa de Xangô, fechada desde a morte da última ialorixá, Mãe Stella de Oxóssi, em 27 de dezembro do ano passado.
As casas dos orixás estavam todas fechadas há quase um ano, como ordena os preceitos do Candomblé, em casos de mortes de ialorixá. A obrigação para cada orixá é feita pelos respectivos filhos de santo. “Como ela é filha de Xangô, ela foi para o de Xangô junto aos outros filhos de santo”, contou Ribamar Daniel, presidente da Sociedade Cruz Santa, entidade que administra o terreiro.
A data oficial da posse de Mãe Ana de Xangô ainda não foi decidida. É de praxe, no entanto, que a cerimônia ocorra no Corpus Christis – neste ano, celebrado no dia 11 de junho de 2020 –, quando as portas do terreiro são abertas para festas públicas. Filhos de santo no dia da confirmação de Ana de Xangô como nova ialorixá (Foto: Betto Jr./CORREIO) Ao longo da semana, o único evento confirmado de Mãe Ana como ialorixá acontecerá na próxima quarta-feira (1º). O terreiro será oficialmente reaberto e os filhos de santo servirão o amalá, comida preferida do orixá.
Mãe Ana foi escolhida neste sábado (28) como a próxima líder de uma das casas de Candomblé mais respeitadas do país. A sexta ialorixá da Casa foi anunciada antes das 10h, pelo babalorixá Balbino Daniel de Paula, o Obaràyí, responsável por interpretar o jogo de búzios (ifá) que definiria a próxima mãe de santo. O CORREIO já havia antecipado que o babalorixá, iniciada na Casa, seria responsável pelo jogo.
Sucessão tranquila Ana Verônica Bispo dos Santos é pedagoga, professora da escola particular Rosa dos Ventos, em São Gonçalo do Retiro. É mãe de Rodrigo Carlos Bispo Santos, 26 anos, iniciado em outra casa de axé e que hoje mora no Rio de Janeiro. Há 31 anos, Mãe Aninha foi iniciada por Mãe Stella de Oxóssi. Assume aos 53 anos, quase da mesma idade de Stella quando iniciou sua jornada no cargo que ocupou com 50.
Apesar de considerada jovem para o posto que vai assumir, Mãe Aninha é tida como uma mulher inteligente e de boa bagagem dentro do candomblé. Sua família vem de uma linhagem tradicional na religião. Ana é filha da Iyamorô Deise e do babalorixá Flaviano Santos, o Flaviano de Nanã do Terreiro Obá Nã, uma tradicional casa de axé localizada em Areia Branca, Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Ribamar Daniel, da Sociedade Cruz Santa, garantiu apoio a Mãe Aninha (foto: Betto Jr/CORREIO) Após a escolha de Aninha, a sensação geral era de satisfação. Filhos e filhas de santo se abraçavam, alguns até choravam de emoção. Mãe Aninha é tida como uma mulher conciliadora, que tem boa relação com todas as alas da casa. “É uma pessoa do bem, super querida, maravilhosa. De uma família de tradição”, afirmou a equede de Iansã Silvana Moura.
Sobrinha neta de Mãe Stella de Oxóssi, Reina de Azevêdo Santos, 20 anos, disse que esse é um momento de alívio para a família.“Depois da perda de minha avó e de um ano de axexê, a gente sente alívio, né? Xangô sabe e sempre soube o que tem que fazer. Acho uma grande honra ter uma pessoa de Xangô Afonjá comandando. Aninha é muito querida e inteligente”, elogiou.O presidente da Sociedade Cruz Santa, que administra o Ilê Axé Opô Afonjá, Ribamar Daniel explicou que Mãe Aninha ainda vai definir qual a data de sua posse, quando haverá uma festa pública no barracão. Ele disse que Aninha terá ao seu lado 12 obás de Xangô para tomar as decisões. Eles são os conselheiros da casa. Nas festividades, seis obás sentam à direita e seis à esquerda da ialorixá. Os seis da direita têm direito a voz e voto e os seis da esquerda têm direito apenas a voz.
Ribamar garantiu que Aninha tem o apoio da Sociedade Cruz Santa e da comunidade para que o Afonjá volte a ser um terreiro unido: “Estamos todos com ela pelo Afonjá”.
Representantes de outros grandes terreiros de Salvador, como a Casa Branca e o Oxumarê, marcaram presença na cerimônia de sucessão. Até mesmo um padre - Lázaro Muniz, ex-pároco da Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, hoje na Paróquia Santa Cruz, no Engenho Velho da Federação - esteve na sucessão.