Assine

Aeroporto de Salvador é superado pelo de Recife em passageiros


 

É a primeira vez que a capital pernambucana fica à frente da baiana

  • Gil Santos

Publicado em 14/12/2017 às 22:29:00
Atualizado em 17/04/2023 às 20:43:03
. Crédito: Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO

Que a situação do Aeroporto Internacional de Salvador já não é das melhores, não é novidade, mas o equipamento registrou mais um ponto negativo, nesta quinta-feira (14): perdeu a liderança no número de passageiros para o terminal de Recife (PE). O governo da Bahia alega que a queda no ranking se deve às condições do espaço, já o trade turístico acusa o estado de má gestão.

A questão ganhou repercussão depois que o secretário de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco, Felipe Carreras, fez uma postagem em uma rede social comemorando o resultado.“Ultrapassamos nossos irmãos da Bahia, assumindo pela primeira vez na história a liderança do Nordeste. Num crescimento de 13,04% em relação a 2016, alcançamos a marca de 7.009.895 passageiros em nossos terminais. Nosso novo recorde”, disse. Segundo dados da Infraero, entre janeiro e novembro deste ano, 6.953.015 passageiros circularam pelo aeroporto de Salvador, sendo que 281 mil deles chegaram por voos internacionais. Em Recife, foram 7.009.895, 322 mil deles pousando ou decolando de destinos fora do país. 

A diferença entre as duas capitais no Nordeste é ainda mais acentuada se forem comparados os números mensais. Em novembro, Recife teve, aproximadamente, 667 mil passageiros, enquanto Salvador registrou 610 mil. A diferença de 57 mil pessoas é a mesma quantidade de passageiros regulares que embarcaram, entre janeiro e novembro, no aeroporto de Campina Grande (PB), por exemplo.

[[publicidade]]

Repercussão Para o secretário de Turismo da Bahia, José Alves Peixoto, o resultado é fruto das condições precárias em que o terminal está. Ele acredita que a situação vai melhorar nos próximos meses e estima que 3,4 mil voos extras serão criados na alta estação. No ano passado,  foram 1,5 mil. “A diferença (na quantidade de passageiros) não é muito grande e essa  situação  é momentânea, que ocorreu em função das condições do aeroporto. As empresas de companhia aérea precisam de equipamentos em que possam fazer embarques e desembarques de forma ágil, se o espaço apresenta problemas eles procuram outro, em outros estados. Não tenho dúvida de que vamos retomar a liderança em breve”, disse.

Ele afirmou que o governo do estado tem feito campanhas publicitárias para promover a Bahia como destino turístico, e acredita que a situação vai melhorar em 2018. O secretário atribui a expectativa positiva a dois fatores: a empresa Vinci Airports, que a partir de janeiro assume a administração do aeroporto de Salvador, e à redução do ICMS cobrado sobre o querosene, combustível usado nas aeronaves, o que pode incentivar as empresas aéreas a disponibilizarem novos voos para a capital baiana. Setor de check-in do Aeroporto Internacional de Salvador (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Mas foi justamente esse ponto o mais criticado pelo trade turístico baiano. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), Glicério Lemos, os governos de Pernambuco e do Ceará foram mais ágeis em oferecer vantagens para atrair novos voos. “A redução do ICMS foi muito demorada. Os outros estados foram mais agressivos nesse aspecto, por isso perdemos o hub da Azul para Recife e o da KLM para Fortaleza. Isso tudo contribuiu para a perda de passageiros. É preciso também mais investimentos em divulgação”, afirmou.

O Centro de Convenções voltou à pauta e foi apontado, mais uma vez, pelos empresários como um fator determinante para a queda dos números do turismo em Salvador.

Para a presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Ângela Carvalho, esse é um ponto que precisa ser considerado.

“O estado e a prefeitura têm desenvolvido muitas ações, mas a questão do centro de convenções é crucial para o turismo de negócios. Ele ajuda a atrair turistas e a gerar empregos. A falta desse espaço impacta na economia de uma maneira geral”, disse.

A expectativa do governo é de que 5,6 milhões de turistas visitem a Bahia até março de 2018. A Setur apostou em campanhas publicitárias e eventos para prospectar o público. Mas as ações também não agradaram a todos do trade turístico. O presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, acredita que algumas delas estão ultrapassadas.  “São campanhas antigas, vídeos que não foram gravados também em inglês, francês ou outros idiomas. Distribuir panfleto não basta. O governo precisa oferecer mais incentivos, divulgar melhor a Bahia e resolver a questão do Centro de Convenções”, criticou. 

Salvador também ficou atrás de Recife no número de pousos e decolagens no mês de novembro. Na capital baiana, 6,2 mil aeronaves passaram pelo equipamento, enquanto na capital pernambucana foram 6,4 mil aviões subindo e descendo. 

Procurada para comentar o desempenho do terminal soteropolitano, a assessoria da  Vinci Airports não retornou o contato.

***

Terminal soteropolitano tem histórico de problemas Arrematado em julho pela francesa Vinci Airports, o aeroporto de Salvador coleciona reclamações por parte dos passageiros que desembarcam por aqui e uma série de problemas que a empresa terá que resolver, como banheiros sucateados, ar-condicionado com problemas recorrentes, além de escadas rolantes e elevadores sem funcionar.

O aeroporto da capital baiana é também um dos mais mal avaliados pela Pesquisa de Satisfação do Passageiro do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. No estudo mais recente, referente ao terceiro trimestre de 2017, o terminal soteropolitano foi o único com nota abaixo da média (3,95) entre os 15 pesquisados no país. Em geral, a média do índice de satisfação foi de 4,38 nos 14 aeroportos com resultado positivo.

Apesar de justificar os problemas do terminal e dizer que só assumirá as atividades de fato a partir de janeiro de 2018, a Vinci prometeu obras emergenciais já para o Verão.

A reportagem procurou a empresa para comentar os problemas do aeroporto e o fato de Recife ter ultrapassado a capital baiana em número de passageiros, mas ninguém foi localizado para dar entrevista.

Algumas das exigências do governo no contrato de concessão do aeroporto incluem medidas imediatas como oferecimento de internet gratuita de alta velocidade, melhorias nos banheiros e fraldários, sistema de climatização, escadas e esteiras rolantes. Há também medidas que devem ser tomadas em longo prazo, como a ampliação dos terminais de passageiros, pátios de aeronaves e estacionamentos.