Assine

'Vivi um terrorismo político durante a campanha', diz prefeita eleita de Lauro de Freitas


 

Débora Regis fala ao CORREIO sobre a montagem do secretariado, concurso público e a prioridade da futura gestão

  • Rodrigo Daniel Silva

Salvador
Publicado em 13/10/2024 às 05:01:21
Prefeita eleita de Lauro de Freitas, Débora Regis. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Aos 42 anos de idade, Débora Regis (União Brasil), mais chamada de Debinha pelos íntimos, colocou fim ao reinado de Moema Gramacho (PT) em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. A petista comandou a cidade por quatro mandatos (não consecutivos), por 16 anos. Tentou fazer Antônio Rosalvo (PT) sucessor, mas fracassou.

A vereadora, que disputou pela primeira vez uma eleição majoritária, precisou enfrentar um processo de cassação de mandato e uma campanha marcada por violência antes de sair vitoriosa no dia 6 de outubro. Agora, Débora Regis fala das dificuldades durante as eleições e dos desafios que terá nos próximos quatro anos.

A senhora enfrentou uma eleição dura em Lauro de Freitas. O que foi mais difícil?

Os momentos mais difíceis são quando eles (os adversários) criam muitas mentiras, fake news. E a cada dia a gente tinha que rebater as mentiras, desmistificar coisas absurdas. Por exemplo, diziam que a gente ia vender Lauro de Freitas para Salvador. É uma coisa bizarra que as pessoas acabam até acreditando. Então, nós íamos para a ponta, fazer vídeo, mostrar que era fake news, mentira. Diziam que eu ia tirar o Bolsa Família. Foram muitas mentiras que, para quem está fazendo campanha limpa, transparente, acaba ficando chateado. Eles pregavam que a gente tinha discurso de ódio, mas a todo momento a gente só queria paz. E nós fizemos isso no decorrer da campanha. O bem sempre vai vencer o mal. A verdade sempre vencerá a mentira.

A sua campanha relatou ter tido dificuldades para acessar áreas comandadas por facções criminosas na cidade. Como a sra. lidou com essa situação?

Em Portão (bairro de Lauro de Freitas), de fato, eu fiquei os 45 dias sem conseguir entrar. Mas graças a Deus, o povo de Portão deu uma resposta muito positiva. Foi um resultado muito bom. Eu fiz um plano de governo, propostas voltadas para Portão. São propostas sérias, exequíveis, que isso é importante. Não adianta fazer projetos faraônicos e não entregar para a população. Ainda que eu não tivesse um voto lá (em Portão), eu iria trabalhar por lá. É um bairro que precisa muito, muito carente. E ficou esses anos esquecido e abandonado.

por

Débora Regis

"Sofremos ameaças com mensagens de WhatsApp. Foi sinistro"

Houve ameaça grave à sua família durante a eleição?

Sofremos ameaças com mensagens de WhatsApp. Foi sinistro. Foi um terrorismo político muito grande, onde mexe muito com emocional da gente. A gente tem família e fiz uma campanha propositiva, sem ataques. Eu fiquei em vários momentos receosa. Mas eu sempre pedi a Deus para me proteger, me blindar. E graças a Deus, ele fez isso muito bem.

O que foi preciso fazer diante dessas ameaças sofridas no pleito?

Tudo que depende do homem, eu fiz. Seguranças, carro blindado. Tive que fazer isso. Mas mais forte do que tudo isso é Deus, que me blindou em todos os momentos.

Pensou em desistir?

Desistir não há no meu vocabulário. Até o momento em que houve a cassação do meu mandato, de forma injusta, eu sempre acreditei que seria prefeita de Lauro de Freitas. E olha que houve por trás muito aparelhamento político em nível estadual e federal. Em nenhum dia, me faltou coragem e eu pensei em desistir. Eu sempre disse: ‘vou ser prefeita da cidade que eu nasci, cresci e deixarei um excelente legado’.

Como foi ter encerrado o reinado de Moema Gramacho, que chegou a governar a cidade por quatro mandatos?

Eu sempre quis o melhor para a minha cidade. Independente de questões partidárias. Se você é bom gestor, você merece continuar. Se você não dá uma entrega positiva para a população, você precisa sair. Eu trabalhei muito falando a verdade. No meu coração, eu tinha plena convicção que a população ia dar resposta certa, na hora certa. As pessoas estavam desacreditadas, não queriam mais essa gestão. Ao longo dos meus quatro anos como vereadora, eu sempre fui muito combativa. Denunciei de forma verdadeira, transparente, nunca fiz nenhuma denúncia infundada. Sempre fui muito fundamentada, com fatos e mostrando provas sobre o que estava sendo feito com o dinheiro que pertence ao povo. Se me perguntasse se eu faria tudo de novo, eu faria de novo.

Prefeita eleita de Lauro de Freitas, Débora Régis. Crédito: Marina Silva

Qual será a prioridade agora como prefeita de Lauro de Freitas?

Nos primeiros 100 dias de governo, nós precisamos arrumar a casa. A casa está muito bagunçada. Toda desordenada. A cidade, se você andar 15 minutos nos becos e ruas, verá que precisa de zelo. Não existe limpeza pública, iluminação. Os serviços básicos que a prefeitura dá, infelizmente, não foram dados. Então, nos 100 primeiros dias, nós vamos entregar os serviços básicos para a população. Colocando os postos de saúde para ter remédios, médicos. Dessa forma, nos 100 primeiros dias, nós vamos também fazer o recapeamento de várias ruas. Pela nossa proposta, nos 100 primeiros dias, vamos entregar 50% das ruas recapeadas. Então, vamos trabalhar para arrumar a casa.

por

Débora Regis

"Nos 100 primeiros dias, nós vamos entregar os serviços básicos para a população"

Como será sua relação com o governador Jerônimo Rodrigues? E com o presidente Lula? Os seus adversários diziam que a senhora não teria, se fosse eleita, alinhamento político com os governos estadual e federal.

Moema tem 16 anos governando a cidade com os governos estadual e federal do PT, e o que fez por Lauro de Freitas? Quero que eles (os adversários) apresentem uma obra estruturante que foi feita ao longo dos 16 anos de Moema, que teve o presidente e o governo. Aí eu te apresento várias outras que (ACM) Neto fez em Salvador, quando foi prefeito, sendo o governo do PT em nível estadual e federal. E Bruno (Reis) continuou. A partir de janeiro, eu vou sentar para conversar com Jerônimo, com Lula, porque estou representando o município de Lauro de Freitas. Estou representando o povo de Lauro de Freitas e vou mostrar como se faz.

Os servidores sempre ficam receosos quando há um novo prefeito por medo de serem perseguidos. Como a senhora vai lidar com eles?

Na verdade, eles são perseguidos com essa gestão. Foi uma campanha com muita opressão. Os servidores foram muito oprimidos. Perseguiram os servidores, seja efetivo ou contratado. Nós vamos valorizar os servidores. Vamos dar aos servidores garantias constitucionais que, infelizmente, a prefeita que está, apesar de ser do Partido dos Trabalhadores, não cumpre. Colocou uma cooperativa dentro da cidade, as pessoas têm oito anos que não tiram férias. Os funcionários não podem reclamar se faltar R$ 100, R$ 50, porque têm medo de serem demitidos. Além disso, não tem condições de ter contracheque porque não dão. Recolhem o INSS e não mandam para a fonte. É algo que vamos ter que resolver. Vamos tratar os servidores com seriedade e respeito.

Será feito concurso público?

Ainda não tive um estudo aprofundado. Eu sou adepta do concurso público, mas a gente precisa ver como está a saúde financeira do município. Não temos ainda ideia. E logicamente o que eu puder fazer para criar mais concurso público, eu farei porque tem várias áreas que estão com deficiência e nós vamos fazer esse estudo para um concurso público sério.

Como será a montagem do seu secretariado?

Não tivemos nem tempo ainda nem de respirar. Estamos no processo de agradecer a cidade. Vamos fazer alguns eventos para agradecer a população. Vamos sentar com o nosso vice (Mateus Reis) para fazer o alinhamento e fazermos a reforma administrativa. Tem muitas coisas para serem feitas. E como falei no início: nós vamos administrar a cidade com quem é da cidade. Mas, até o momento, não conversamos nada sobre este assunto.

A sra. terá uma base sólida na Câmara de Vereadores para governar?

Hoje são 21 vereadores. Nós fizemos seis. Irei conversar com todos. Na minha vida, eu sempre construí pontes independentemente da posição política. Tenho colegas e amigos dentro da Câmara. Vou tentar fazer essa construção justamente pelo bem comum de Lauro de Freitas. Aqueles que pensam em melhorias para o município vão caminhar conosco. Aqueles que só pensam no próprio umbigo vão querer colocar uma faca no meu pescoço para continuar as mesmas regalias e desmandos do poder, e aí a população vai saber quem é quem. E no momento oportuno vai dar a resposta a cada um deles.