Paris-2024: Bronze na França, equipe de ginástica artística é inspiração para futuras gerações
Nas arquibancadas da Arena Bercy, pequenas atletas brasileiras acompanharam feito histórico do Brasil
Quando Rebeca Andrade se preparava para o último salto, o Brasil ocupava o sexto lugar no ranking geral. Havia uma tensão no ar, um misto de conformismo de que ficaríamos, mais uma vez, sem medalha na disputa por equipes da ginástica artística com raspas de esperança de que, daquele salto, poderia sair algo espetacular.
Só que, da arquibancada, se havia uma pessoa 100% confiante, essa era a pequena Manuella Pontes, de 10 anos. Já praticante do esporte, Manu havia chegado à capital francesa no dia anterior, acompanhada pela mãe, Aretuza, e pela avó, Sueli, só para acompanhar, de perto, a final olímpica do esporte que mais ama.
“Eu já tinha falado: ‘filha, não dá, né? Está muito longe, acho que vai ser difícil’”, admite a mãe. “Foi a melhor experiência da minha vida até agora. Quando a Rebeca conseguiu a nota mais alta da competição, 15.100, foi uma emoção muito grande”, descreveu a criança, demonstrando dominar o assunto e ter prestado atenção em cada detalhe.
De fato, a Arena Bercy parecia estar dividida entre norte-americanos e brasileiros, que rivalizavam nos gritos de apoio às respectivas equipes. De um lado, a maior de todos os tempos, Simone Biles, que executava movimentos tão incríveis que até o mais patriota dos brasileiros se rendia aos aplausos. A recíproca era verdadeira com Rebeca Andrade, deixando até a própria Biles de queixo caído com a sua performance. Virou meme nas redes sociais.
Mas, para Manu, nenhuma das duas desperta nela um brilho nos olhos como uma terceira. Quando perguntada sobre qual ginasta gostava mais, ela não titubeia e afirma: “Flávia, com certeza”. A explicação é ainda mais surpreendente e, diga-se, técnica.
“O principal aparelho dela é a trave e é um aparelho que treino muito e que eu quero me sair melhor. Porque, se eu der meu melhor na trave, consigo uma nota alta para melhorar a equipe. É o que eu mais gosto, de todos os aparelhos”, explica a garota, animada.
Sonho em dose tripla
A mãe e avó também estavam radiantes. As três voltam para o Brasil na próxima sexta-feira e este foi o único evento que elas puderam contemplar de pertinho. “Sempre quis assistir a um evento desse ao vivo. Ver as meninas e esta conquista foi algo fora de série, a gente fica meio perdido, querendo voar em cima”, conta Sueli Rodrigues que, aos 71 anos, vive a sua primeira Olimpíada.
“Minha mãe queria muito conhecer o Museu do Louvre, a Manuella queria ver a ginástica e eu amo Olimpíadas. Foi o jeito para realizar o sonho das três ao mesmo tempo”, conta a analista de sistemas Aretuza Pontes.
Susto até no repórter
Na saída da Arena Bercy, ainda tomada pela adrenalina do que acabara de vivenciar, Manuella executava alguns movimentos de ginástica, levando o pé à altura da cabeça. Autorizado pela mãe, este repórter que vos escreve pediu para gravar um vídeo da menina fazendo algum dos movimentos, simples mesmo, pois estávamos na calçada. Grande foi a surpresa quando, de repente, a pequena Manu se agiganta e manda uma parada de mãos (a famosa estrelinha) com um mortal para trás.
O vídeo pode ser conferido abaixo e, no que depender de Manu e de sua família, esta não será a única acrobacia dela que o público geral poderá conferir. Quem sabe, dentro de alguns anos, Manuella Pontes seja um nome que brilhe igual brilharam, ontem, Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Lorraine Oliveira e Julia Soares.
Água e sombra contra o calorão
Os torcedores tiveram um grande obstáculo na tentativa de curtir os Jogos Olímpicos de Paris ontem. As temperaturas na capital francesa chegaram à casa dos 36 graus. As cenas de pessoas se abrigando ao primeiro sinal de uma sombra e buscando se refrescar eram comuns em todas as áreas de competição.
Na arena do vôlei de praia, aos pés da Torre Eiffel, o público brasileiro em especial sofreu para acompanhar a derrota da dupla George e André e as vitórias de Carol e Bárbara e Ana Patrícia e Duda, mesmo com vários pontos de aspersão de água foram instalados para o público se refrescar.
“Se tem um povo que sabe lidar com o sol é o brasileiro, né? A gente tem a ‘manha’”, brincou o advogado Thiago Pimenta, que complementou: “É quente, a sensação térmica é muito difícil, mas o sol não é mais forte do que no Brasil”. A amiga, Beatriz Conceição, pernambucana, pondera que “também está bastante seco, o que torna tudo ainda mais difícil”.