Guilherme Caribé quer repetir os ídolos e colocar nome na história do esporte
Frustrado com os resultados negativos, o nadador desistiu do esporte com 14 anos e deu a volta por cima até disputar a primeira Olimpíada
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Alan Pinheiro
alan.pinheiro@redebahia.com.br
Inspirado por nomes como César Cielo, Bruno Fratus e Edvaldo Valério, que fizeram história na natação brasileira, Guilherme Caribé está levando as cores da Bahia - mais uma vez - para fora das fronteiras nacionais. Com apenas 21 anos, o nadador disputa, em Paris, sua primeira Olimpíada.
O jovem, inclusive, chegou à França depois de já ter sido comparado com os antigos representantes do país em suas conquistas. Seja “Novo Bala” ou “Novo Cielo”, o que fica para o nadador é a gratidão das comparações com ídolos e a vontade de fazer o próprio nome para o mundo.
“Minhas expectativas são grandes. Eu estou bem empolgado para encontrar todo mundo, realmente competir no alto nível da natação mundial. Eu já fui em campeonato mundial, não foi uma das minhas melhores experiências, mas acredito que dessa vez vai ser diferente. Então me preparei muito bem pra isso. Vai ser divertido. Indo com o meu objetivo, mas também para me divertir, nadar com o carisma que eu sempre tive, com sorriso no rosto”, disse, antes de chegar à França.
Até aqui, Caribé já fez duas de suas três provas na Olimpíada de Paris. No revezamento 4x100m livre masculino, a equipe brasileira parou nas eliminatórias, encerrando na 10ª colocação. Já nos 100m livre, Caribé avançou até as semifinais, nesta terça-feira (30), mas não avançou à decisão. Nesta quinta-feira (1º), ele cai na piscina da Arena Paris La Défense para mais uma prova, dos 50m livre. As baterias começam às 6h18.
Apesar de ter que superar outros grandes nomes da natação mundial, Caribé se destaca como seu próprio principal adversário. “Acredito que o maior rival seja eu mesmo. Nas raias, estou com outros setes atletas nadando também, mas acredito que o desafio maior é dentro da minha própria cabeça. Temos grandes nomes nas provas, mas, se eu fosse falar, acredito que o meu maior rival sou eu mesmo”.
Em 2023, o baiano disputou pela primeira vez os Jogos Pan-Americanos, em Santiago, onde conseguiu levar três ouros e uma prata. Foi campeão com o time brasileiro nos 4x100m livre masculino e no misto, além de ser vice nos 4x100 medley masculino. Já nas provas individuais, subiu ao topo do pódio nos 100m e ficou em 5º nos 50m.
A quase desistência
O incentivo para seguir a carreira veio do exemplo de dentro de casa. O pai, Matheus Rodrigues, chegou a participar de competições locais - inclusive no ano em que Guilherme nasceu, em 2003. Já como professor, Matheus levou o filho para aprender natação com apenas 2 anos. Quando tinha 7, o jovem passou a receber as lições de Rafael Spínola, antigo treinador de seu pai. Seria um nome importante para o desenvolvimento do Caribé, em especial pelo trabalho nos fundamentos.
Desde as categorias de base, Caribé era acostumado a quebrar recordes. No entanto, a época de glórias da promessa baiana não aconteceu de imediato. Por mais que demonstrasse talento, ainda levou um tempo para que o baiano realmente se destacasse na natação. Ele não teve grandes resultados em competições regionais no início da adolescência.
Com 14 anos, veio a decisão de abandonar as piscinas. A desistência foi motivada pela pressão em torno do jovem, que precisava lidar com a expectativa de não conseguir entregar os resultados que eram esperados dele. As derrotas geraram frustrações, que foram se acumulando até que Guilherme desse um basta. “Cansei de perder”.
Um ano depois, Caribé retornou à natação mais amadurecido. O período sabático era o que ele precisava para “perceber que realmente precisava da natação”. Foi dessa volta que os resultados e conquistas começaram a aparecer para o atleta.
De Salvador para os EUA
Em agosto de 2022, Guilherme levou o tempero baiano para fora do Brasil. A mudança para os Estados Unidos veio com a entrada na equipe de natação da Universidade do Tennessee, onde é estudante de comunicação. Já em janeiro de 2023, assinou como atleta do Flamengo, para defender o clube nos campeonatos oficiais no Brasil.
A incursão na natação universitária dos EUA deu novas bases a Guilherme. Ele entrou em contato com novos métodos e novos equipamentos. Com as diferenças de distância das piscinas em jardas, também passou a trabalhar mais suas viradas e os trechos submersos, quando ele mesmo diz que seu forte é nas braçadas. Também ganhou mais massa muscular. E algo crucial: começou a conviver com uma frequência de competição maior.
Em Salvador, o nadador treinou no Clube dos Empregados da Petrobrás (CEPE), em Stella Maris, e foi lá que se formou como um atleta de alto nível.
O período na Bahia contava com treinos mais longos, séries grandes e ritmo forte. Nos Estados Unidos, Guilherme encontrou um ambiente diferente, com treinos mais curtos e intensos. A companhia de outros atletas também é fundamental para deixar o treinamento mais competitivo. “A natação é um esporte individual, mas, aqui, eles conseguem fazer com que seja coletivo. Você se sente mais parte de um time, que tudo que você faz importa para o time”.
Além de ser o norte para que o baiano seguisse a carreira na natação, a família sempre trabalhou para que Guilherme mantivesse os pés no chão e continuasse a mesma pessoa, seja quais fossem os títulos e recordes que ele conquistasse. Entre as várias lições aprendidas com os familiares, Caribé sabe que não adianta ser um campeão nas piscinas e não ser um bom exemplo fora da água, já que muitas pessoas irão se inspirar nele.
Apesar de ser caseiro e não gostar muito de sair, agora Guilherme nada em Paris para tentar levar mais um “encantado” da Bahia para os holofotes do mundo. E, mesmo se sair da raia nesta quinta-feira (1º) sem uma medalha no peito, o baiano já vai ter feito história. E para comemorar, não vai poder faltar música, surfe, uma partida de vôlei com os amigos, e, claro, saborear a comida da avó.