Virou rotina: ônibus de Vila Verde param de circular por quatro vezes em um mês
Bairro convive com confrontos armados entre facções criminosas
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Wendel de Novais
wendel.novais@redebahia.com.br
Para os moradores da localidade de Vila Verde, que ficou sem circulação de ônibus na manhã desta quarta-feira (8), não ter transporte público à disposição virou rotina. No último mês, por conta de tiroteios entre facções criminosas que disputam o tráfico no local, ao menos em quatro dias os ônibus deixaram de rodar pelas ruas da região. Na falta do transporte, quem vive lá precisa ir até a Estrada Velha do Aeroporto para achar um ônibus. O que precisou ser feito nas manhãs de 11 e 24 de abril, além dos dias 3 e 8 de maio, de acordo com levantamento da reportagem.
No dia 11 de abril, primeiro registro de interrupção da circulação dos ônibus, o condomínio Alphaville Salvador 2, que fica na região da Vila, chegou a emitir um comunicado restringindo o acesso às áreas comuns do empreendimento. Já no dia 24, dois homens foram encontrados mortos. As vítimas foram identificadas como Gabriel Santana da Hora Santos, 16 anos, e Walace Cerqueira dos Santos, que não teve a idade informada.
No dia 3 de maio, os ônibus voltaram a parar de entrar na localidade após uma nova troca de tiros ser registrada e um homem ficar ferido. Dois dias depois, em 5 de maio, fuzil 556 foi apreendido pela polícia após agentes localizarem homens armados na Vila. Ainda assim, na madrugada deste dia 8 de maio, novos confrontos armados voltaram a acontecer, fazendo com que os ônibus parassem pela quarta vez.
Procurada para informar se o problema se repetiu em mais dias, a Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob), não respondeu até o fechamento desta reportagem. Os moradores, porém, garantem que há mais registros. Para eles, os tiroteios entre o Comando Vermelho (CV), que atua na localidade, e o Bonde do Maluco (BDM), que tenta tomar o domínio do tráfico em Vila Verde, são praticamente diários. Além disso, quando os tiroteios são mais longos, acabam por assustar os rodoviários que não entram nas ruas da localidade para se protegerem de balas perdidas.
“Quatro dias é pouco, eu desci várias vezes a pé para levar meus netos à escola porque não tinha ônibus. Eu acho que isso aconteceu umas seis vezes. Aqui não tem sossego nesses últimos tempos”, fala uma moradora que não se identifica e aperta o passo para não ser vista conversando com a reportagem no local. Nesta quarta-feira, os ônibus voltaram a circular às 11h, quando a reportagem estava em Vila Verde.
Questionados sobre as recentes paralisações na circulação, os próprios rodoviários temem falar sobre a situação na localidade. “Direto a gente para [de circular], mas não posso ficar falando aqui. Não leve a mal, por favor”, fala um. Antes que os veículos voltassem a estar nas ruas da Vila Verde, vários moradores caminhavam para as suas residências. A maioria, entretanto, não parava para conversar com a reportagem.
Uma outra moradora, assim como a primeira, foi breve. “Essa caminhada aqui eu já estou acostumada. Até porque não é de hoje que tem esses tiroteios e os ônibus não entram aqui na Vila. Eu compreendo os motoristas, mas é difícil para a gente que precisa caminhar com peso”, lamenta ela, que não se identifica por medo.
O sindicato dos Rodoviários confirmou paralisação na circulação de ônibus nesta quarta e disse que a situação só seria normalizada quando houvesse segurança plena para a circulação dos veículos. A entidade reivindicou ainda uma presença policial mais contundente para garantir a integridade dos rodoviários e passageiros.