Via estreita, fluxo alto e volume de pedestres: por que tem tantos acidentes na Suburbana?
Avenida registrou acidente com duas mortes após moto atropelar pedestre na altura de coutos
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Wendel de Novais
wendel.novais@redebahia.com.br
Colisões como a que acabou na morte de duas pessoas na segunda-feira (24), na Avenida Suburbana, não são incomuns na via. A avenida, uma das maiores de Salvador, vive uma alta de registros com 49 acidentes em 2024. No ano passado, esse número chegou a 142. Entre as justificativas, motoristas, moradores e comerciantes que vivem na região citam uma série de fatores. Os principais deles são o grande fluxo de veículos e pedestres, imprudência de quem dirige e quem caminha e a estrutura.
Moradora do bairro de Periperi, Rosana Paz, 53 anos, dirige pela avenida cotidianamente e até já sofreu um acidente, quando um entregador bateu em seu carro. Ao falar sobre o motivo das ocorrências, ela fala que há uma série de fatores, como a falta de educação no trânsito, mas destaca a falta de espaço da via para um volume muito alto de veículos e pedestres que circulam por lá.
“Falta educação, tanto do pedestre como de quem conduz os veículos. É um problema, acima de tudo, porque se trata de uma avenida muito movimentada, com gente rodando o tempo todo. A Suburbana serve de trajeto para algumas empresas e cresceu de maneira desordenada, com comércio às margens que não para de ampliar. Tudo isso aumenta o fluxo de pessoas e carros na região e isso influencia”, conta ela.
Em 2023, a via liderou em número de acidentes com óbitos em Salvador, mesmo sendo a terceira em acidentes com pessoas feridas, atrás das avenidas Luís Viana (285 acidentes com feridos, quatro com vítimas fatais) e Antônio Carlos Magalhães (178 acidentes com feridos, dez com vítimas fatais).
Segundo o titular da Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), Décio Martins, os acidentes na Avenida Suburbana não se restringem a um ponto específico. Ele afirma que costumava ser assim, mas depois da implantação das faixas elevadas e com ações fiscalizatórias, esse cenário tem mudado.
“Nós tomamos diversas medidas, como a instalação de radares e a implantação de faixas elevadas por sentido, e estamos fazendo a requalificação completa da Avenida Suburbana neste momento, inclusive com a construção dessas faixas elevadas que reduzem a velocidade naquela região”, diz. Ainda segundo o superintendente, não há planos de instalar mais radares na avenida no momento.
Nelson Oliveira, 51 anos, que mora em Praia Grande, também dirige rotineiramente na avenida. Além de destacar o fluxo de carros, ele chama a atenção para a falta de cuidado com a própria segurança por parte dos pedestres. Segundo ele, muitas pessoas atravessam de maneira inadequada, fora da faixa de pedestre, e acabam causando acidentes.
“Há muita imprudência dos pedestres, que atravessam em qualquer lugar. Eles não atravessam somente nas sinaleiras. Claro que não pode ter sinaleira em todos os lugares e sei que existem moradias próximas da pista ao longo de todo o percurso. No entanto, essas ações dos pedestres contribuem muito para os acidentes”, pontua ele.
Uma questão que é endereçada por Rosana é o papel das motos, que são, em geral, as principais envolvidas em acidentes. Tanto é que a via já chegou a liderar a capital em colisões que envolvessem motocicletas. Para a moradora, é importante uma política direcionada para os motociclistas, que pilotam em condições irregulares.
“O fluxo de motos é muito grande e precisa de uma política específica para isso. Há muitas pessoas que só pegam a moto, sem qualquer condição e andam sem capacete, de chinelo e que se expõem a um risco até por acelerarem demais e não respeitarem o limite de velocidade. Toda hora a gente fica sabendo de uma batida”, completa ela.
Marcos Sampaio, 63 anos, dirige diariamente há 30 anos na via por morar em Paripe. Ele reclama dos mesmos pontos citados por Rosana e Nelson, mas acrescenta um. “Acredito que a via ficou pequena, principalmente, com o canteiro largo instalado ali. Então, com muita gente rodando, imprudência e uma pista de tamanho aquém do que é necessário, fica mais fácil que ocorra acidentes. Eu mesmo dirijo sempre tenso, esperando qualquer coisa acontecer. É muito difícil rodar na Suburbana”, lamenta ele.