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Versão das testemunhas afirma que policiais perseguiram vítimas na Chacina da Gamboa


 

Os três oficiais foram afastados por 180 dias

  • Da Redação

Salvador
Publicado em 24/11/2023 às 21:47:31
Jovens foram mortos por PMs na Gamboa. Crédito: Marina Silva/Arquivo CORREIO

As testemunhas da Chacina da Gamboa, responsável pela morte de três jovens no dia 1º de março de 2022, afirmam que os policiais chegaram no local e passaram a abordar e perseguir as vítimas Alexandre Santos dos Reis, Cléverson Guimarães Cruz e Patrick Sousa Sapucaia. Segundo documentação do Ministério Público, as testemunhas relatam que os gritos de Alexandre, Cleverson e Patrick, que estavam participando de uma festa, alertaram a comunidade de que o trio estaria sendo perseguido pelos policiais.

Moradores e familiares das vítimas foram ameaçados para não se aproximassem do local, inclusive a mãe de uma das vítimas foi obrigada a se afastar, sob a mira de uma arma.

A companheira um dos jovens mortos menciona em depoimento registrado pelo MP que Cleverson, um dos mortos na Chacina, não era desconhecido de Thiago Leon, um dos policiais envolvidos. De acordo com o material produzido pelos promotores, ela relata que um ano antes da morte de seu companheiro, em março de 2021, policiais militares invadiram sua residência em busca de Cléverson e, após torturá-lo por algumas horas exigindo-lhe dinheiro, conduziram-no à Delegacia Territorial de Periperi.

Para o coordenador do Instituto Ideas, Wagner Moreira, a decisão reforça a importância de lutar pela justiça e memória do povo negro “fazer com que as mães tenham minimamente esse momento de poder dizer ‘o meu filho não é um bandido, o meu filho não trocou tiro com a polícia’ e resgatar a memória afetiva das mães, além da memória afetiva comunitária com esses sujeitos que foram imaculados por dizerem que estavam em um contexto que foi forjado”. Além disso, o coordenador também reforçou a importância da atuação coletiva da Defensoria, da Assessoria Popular, dos familiares, do Ministério Público, na figura do Geospe, e Segurança Pública do Ministério Público do Estado da Bahia.

Os três policiais militares foram denunciados nesta quinta-feira (23) pelo Ministério Público estadual (MP-BA) e vão responder pelo crime de homicídio qualificado cometido por motivo torpe e abuso de autoridade/adulteração da cena do crime. Um quarto policial acompanhou os PMs envolvidos nas mortes, mas na função de motorista da guarnição, e por isso não foi indiciado pelo primeiro crime.

A defensora pública e coordenadora da Especializada de Direitos Humanos, Eva Rodrigues afirma que a Defensoria Pública acompanha o caso da chacina da Gamboa desde o início, prestando orientação às mães e familiares dos jovens mortos pela polícia. “Estamos atentas, vamos acompanhar o processo, da mesma forma que acompanhamos as investigações e os familiares nas oitivas, nos depoimentos, na corrigiria, na própria reconstituição de fatos produzida pelo Ministério Público, e a gente espera que o processo tenha um desfecho positivo e que essas mães possam finalmente ver os responsáveis pelas mortes dos seus filhos devidamente responsabilizados”, relatou.

Laudo pericial

A denúncia aconteceu após laudo da perícia contestar a narrativa de confronto, Ministério Público indicia os três policiais envolvidos no caso, os cabos da Polícia Militar Tárcio Oliveira Nascimento, Thiago Leon Pereira Santos e Lucas dos Anjos Bacelar Dias.

A versão dos policiais militares Tárcio Oliveira Nascimento, Thiago Leon Pereira Santos e Lucas dos Anjos Bacelar Dias é de que eles foram recebidos a tiros na comunidade e as mortes ocorreram durante confronto. Mas, de acordo com os peritos, os indícios encontrados no local e os laudos das armas e corpos descartam a narrativa de legítima defesa. Para o MP, o que houve foi “execução sumária contra as vítimas, com a utilização do aparato policial”. O laudo da perícia aponta que Alexandre e Patrick foram atingidos fora da casa e arrastados para dentro, e que as poças de sangue deixadas pelas vítimas alvejadas na escadaria da Gamboa foram lavadas, no intuito de esconder os vestígios. Os corpos dos três jovens foram levados ao hospital, mas suas fichas apontam que chegaram já sem vida. A cena do crime teve armas de fogo e outros objetos acrescentados para sustentar a narrativa do confronto, mas a perícia não encontrou nenhum vestígio de resíduos de disparos de arma de fogo nas mãos dos mortos.

O processo de judicialização, tanto na Justiça Civil pelo homicídio quanto Militar pela adulteração da cena do crime, será acompanhado por Wagner Moreira e pelos familiares.

A mãe de Alexandre Santos dos Reis, Silvana dos Santos, foi procurada pela reportagem, mas não retornou.