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Valéria vive clima de tensão um dia após operação que causou morte de PF


 

Moradores relatam medo, e comerciantes contabilizam prejuízos com comércio fechado durante operações

  • Bruno Wendel

Publicado em 16/09/2023 às 13:07:25
Valéria tem dia de tensão um dia após morte de policial federal em confronto. Crédito: Bruno Wendel

Aos poucos, os moradores do bairro de Valéria vão retomando a rotina neste sábado (16) ainda em meio ao clima de tensão. O bairro parou na última sexta-feira (15) depois de uma megaoperação das policiais Civil e Federal ter resultado na morte de um policial federal e que deixou também outros dois agentes feridos. Quase 20 linhas de ônibus foram suspensas e o comércio fechou as portas.

Na Rua da Matriz, a principal do bairro, o comércio voltou a funcionar, e os ônibus circularam sob os olhares de equipes do Graer (Grupamento Aéreo da Polícia Militar) e das viaturas da Patamo, unidade do Batalhão de Choque da PM. "Mesmo assim a gente ainda está muito assustado. Ontem, muita gente com medo. Além do clima de terror, tive prejuízo", disse o dono de uma lanchonete. Nas entradas do bairro pela BR-324 e Estada do Derba, viaturas estavam posicionadas, com o grupo de quatro a seis policiais.

Porém, até às 12h30 deste sábado, a reportagem e nem os moradores e comerciantes viram os agentes especiais da Polícia Federal de Brasília, que aterrissaram na noite desta sexta na capital baiana. Mais de vinte homens que integram grupos especiais, como o Grupamento Aéreo e o Comando de Operações Táticas, além de veículos blindados enviado pelo Distrito Federal, chegaram na noite de sexta.

Mesmo a presença da PM na via principal não foi suficiente para garantir a sensação de segurança para quem vive e trabalha na extensão da Rua Boca da Mata - via que dá acesso às localidades consideradas mais perigosas, onde estão concentradas as áreas de confronto entre facções e a polícia, como: a Rua Penacho Verde, Rua da Palmeira, Nova Brasília de Valéria e a Rua do Lavrador, que faz ligação com a Estrada do Derba, onde ocorreu os policiais foram baleados na sexta.

Valéria tem dia de tensão um dia após morte de policial federal em confronto. Crédito: Bruno Wendel

"Ainda estamos apavorados. Nunca vi tanta polícia junta, como ontem. Só abri por uma questão de sobrevivência! As contas chegam. Preciso garantir o sustento não só dá minha família, mas da equipe que trabalha comigo", disse a dona de um restaurante. "Com medo, alguns funcionários não vieram", emendou.

Embora a normalidade no bairro ainda pareça tímida, não havia ônibus circulando na manhã deste sábado. "Só está passando os 'amarelinhos' (Subsistema de Transporte Especial Complementar, o STEC) que vão para Itapuã", disse um morador. "Eu acordo cedo. Desde a 5h só tá rodando aqui o 'amarelinho'", completou o vizinho.

Quem vem da Estação Pirajá tem que descer no Largo de Valéria e seguir andando por quase dois quilômetros. "Eu moro no 'Campo' (Nova Brasília de Valéria) e já andei uns 25 minutos e ainda vou percorrer mais para chegar em casa. Acredito que mais uns 15 minutos. Isso é horrível porque acabei de sair do trabalho e esperava descansar quando chegasse aqui", disse uma senhora enquanto caminhava carregando duas sacolas de compras. Ela, que trabalha como doméstica no Caminho das Árvores, tinha acabado de passar em frente do Colégio Estadual Noêmia Rêgo, situado na metade da Rua Boca da Mata de Valéria, onde uma base da PM está instalada.

"Só tem polícia lá na frente porque aqui não passou uma viatura sequer. A gente está com medo. Eu só saí de casa porque precisava vir ao mercado. Mas é daqui pra casa", disse uma senhora enquanto pagava as compras.

"Ontem, isso aqui estava estupido de polícia. Hoje, nada. Olha que cheguei cedo pra trabalhar, às 6h", reforçou a operadora do caixa.

Na Rua Penacho Verde, a presença da polícia foi sentida na noite deste sexta. "Os policiais chegaram atrás dos caras que mataram o policial e só encontraram dois carros roubados dentro de uma casa, mas até agora nada de viatura", relatou um morador.