SSA Mapping une arte e arquitetura com projeções na Igreja do Bonfim
De 2 a 8 de outubro, festival contou com mostras de obras visuais, passeios guiados e performances
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Raquel Brito
mrbrito@redebahia.com.br
Cores vibrantes, tons psicodélicos e críticas sociais: nos dias 7 e 8 de outubro, a Igreja do Bonfim se transformou numa verdadeira tela para a exibição de obras visuais. As artes fazem parte do festival SSA Mapping, no qual foram projetadas 58 obras durante o fim de semana. No domingo (8), último dia de festival, a Colina Sagrada recebeu cerca de sete mil pessoas.
Um dos videomappings apresentados na mostra principal foi “Eu não sou um robô”, dos VJs Eerms, Panick e Paulo Cantowitz. Na obra, os artistas brincam com a materialidade da igreja, fazendo dobras e tornando-a fluida como uma rajada de ar. As tradicionais fitinhas do Bonfim também marcaram presença, ocupando por completo o formato da estrutura em movimentos harmonizados à música.
Em “Rito”, também da mostra principal, os VJs (artistas que fazem projeção mapeada e performance visual em tempo real) Lê Pantoja, Letícia RMS e Kambo unem elementos de religiões de matriz africana às cores e formatos extravagantes que se adaptavam às janelas e portas da Igreja do Bonfim, em sintonia com trilha sonora de DJ Doni e Kambo.
Cláudia Souza, vendedora autônoma de 56 anos, diz ter ficado encantada com as apresentações. “É tudo muito bonito. É cultura e a gente precisa disso. Eu me sinto jovem num lugar desses, assistindo uma coisa tão linda”, diz. Para ela, que foi assistir às mostras com a amiga e o genro, o único arrependimento foi não ter levado o filho adolescente, que, segundo ela, adoraria ver as animações.
No domingo (8), último dia de festival, 30 obras foram exibidas nas paredes, com autoria dos VJs Ani Ganzala, Erms, Isabela Seifarth, Kambô, Kauê Lima, Lê Pantoja, Letícia RMS, Não Consta, NTHLCRVLH, P4nick, Paulo Cantowitz e Vi Amoras. Para assistir ao show audiovisual, os visitantes puderam acomodar-se em cadeiras de praia posicionadas em frente à igreja.
Antes da exibição das projeções, o padre Edson de Menezes, pároco da Basílica do Senhor do Bonfim, falou sobre a importância de levar a arte para o ambiente da igreja e de celebrar a diversidade.
“Este lugar é o lugar da convivência com o diferente. Aqui, pulsa o sincretismo religioso, que faz parte da nossa cultura, da nossa vida, da nossa religiosidade. Viva a Bahia de todos os santos, viva a Bahia de todos os orixás”, disse.
Esta edição foi a primeira a sair da região central da cidade. O SSA Mapping teve sua estreia em 2017, na Praça Municipal, projetando imagens sobre o Palácio Rio Branco. No ano seguinte, foi no Campo da Pólvora, com projeções no Fórum Ruy Barbosa. Em 2021, a tela foi o Arquivo Público da Bahia, na Baixa de Quintas, numa edição virtual.
Para Enrique Iglesias, um dos idealizadores do projeto, levar o festival para o Bonfim ajuda a democratizar a arte do videomapping. “A gente observa que conseguiu trazer muita gente da região do Bonfim, da Ribeira, do Uruguai, que ficaram sabendo pela divulgação. A gente conseguiu atingir um público que não seria atingido se fosse do outro lado da cidade, então foi ao mesmo tempo surpreendente e gratificante”, diz.
Uma dessas pessoas foi Nívea Maria, de 43 anos, que mora perto da igreja. Neste domingo, ela aproveitou o tempo livre para levar a filha, Maria Alice, de sete anos, para ver as projeções. “A gente não tem esse tipo de produção disponível facilmente pela cidade, então eu achei a iniciativa interessantíssima. Ela adora luzes, música, então eu a trouxe”, diz.
Além da exposição das obras, o SSA Mapping contou com uma feira de artes, uma feira gastronômica e uma área com performances interativas para pessoas de todas as idades, localizadas na Colina Sagrada.
Apesar de ter ido para a Cidade Baixa no fim de semana, a programação do festival começou bem antes: de segunda (2) a quinta-feira (5), o SSA Mapping ocupou o Doca1 – Polo de Economia Criativa, no Comércio, e investiu em ações formativas para iniciantes e intermediários da arte de vídeo-jockey, ou VJ.
*Com orientação da chefe de reportagem, Perla Ribeiro