Sobe para 13 o número de denúncias contra ginecologista em Salvador
Até a última quinta-feira (27), 10 denúncias haviam sido feitas
-
Da Redação
redaçao@redebahia.com.br
Subiu para 13 o número de denúncias registradas na Polícia contra o médico ginecologista Elziro Gonçalves de Oliveira, de 71 anos, em Salvador. Ele é acusado de cometer crimes sexuais contra as pacientes.
O caso é investigado pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas. Ao longo da semana, estão sendo realizadas oitivas de vítimas e testemunhas ligadas às clínicas nas quais o profissional prestava serviço.
Até a última quinta-feira (27), 10 denúncias haviam sido feitas. A Polícia Civil da Bahia salientou, através de nota, que a Deam de Brotas está à disposição de outras eventuais denunciantes.
Dessas 10 ocorrências, apenas quatro também foram levadas, pelas vítimas, ao Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) até agora, segundo o órgão.
Relatos das vítimas
Entre as três denunciantes que conversaram, em anonimato, com o CORREIO, a que mais recentemente passou por situações consideradas crimes sexuais foi a comunicóloga Suzana (nome fictício), de 24 anos. Ela era paciente de Elziro na clínica CAM, no Itaigara, desde 2020 e, em 2021, sentiu dois toques que a deixaram desconfortável. A jovem, porém, entrou em estado de negação e se manteve em silêncio. Foi numa nova consulta, no ano passado, que ela se deu conta de que o desconforto tinha fundamento.
"Fui ao consultório dele apenas para solicitar o requerimento de exames; não houve exame físico. Mas, do momento que eu sentei na cadeira até o momento que saí, ele não tirava os olhos de meus seios. Ficou os cerca de 15 minutos da consulta olhando fixamente", recordou Suzana. Ao fim do atendimento, o suspeito, então, teria pedido que ela abaixasse a máscara que usava, a fim de ver seu rosto.
"Eu me neguei e disse que não iria tirar, por causa da Covid, e ele adotou uma postura extremamente agressiva, pedindo que eu tirasse e [dizendo] que era besteira minha e que ele não estava com Covid. Eu continuei negando e fui embora", contou ela, que registrou queixa na ouvidoria da clínica. "Cerca de três dias depois, eles [a unidade] retornaram falando que haviam investigado e que esse não era o comportamento do médico, que ele era antigo na casa e que eles queriam me oferecer uma consulta gratuita com qualquer outro médico, para reverter a situação. Um total descaso com o ocorrido comigo", lamentou a jovem.
Em contato com a CAM por telefone, a reportagem foi informada de que a assessoria de comunicação da clínica já tinha encerrado o expediente e, por isso, poderia atender a solicitação somente a partir desta sexta-feira (28) pela manhã.
Já a técnica de enfermagem Rebeca (nome fictício), 47, assim como a maioria das vítimas cujos casos vieram a público, era atendida por Elziro na Casseb, em Brotas. Segundo a mulher, o tratamento lhe dado nas consultas antes de ela ter se divorciado do esposo era um e, depois do divórcio, passou a ser outro. "Fui fazer um preventivo entre 2017 e 2018, quando já estava divorciada. Enquanto estava sendo examinada, ele falou: 'Como uma mulher bonita e gostosa está sem namorado?!'", relatou a técnica de enfermagem.
Rebeca estranhou o comentário, que foi seguido de outros, como se ela "sabia onde era seu 'ponto G'" e se já tinha praticado sexo anal. Diante do silêncio da paciente, o suspeito teria perguntado se ela "gostaria que ele lhe masturbasse". "Então, eu falei, num tom mais alto, que 'não'", relembrou a vítima. Tensa, ela se sentou na maca. "Ele deve ter percebido e me fez uma massagem nos ombros, dizendo para relaxar, porque 'o que acontece no consultório ginecológico fica no consultório'", detalhou a mulher, que não retornou à clínica para buscar o resultado do exame. Por medo e vergonha, ela veio a denunciar o caso apenas neste mês.
Também em atendimento na Casseb, a auxiliar administrativa Queila (nome fictício), 56, afirma ter sido vítima do ginecologista há 12 anos, em julho de 2011 — apesar do longo tempo passado, as memórias do que aconteceu durante as revisões de cirurgia permanecem bem vivas. "Convivi com essa angústia e medo esses anos todos", desabafou, muito nervosa.
Queila teve sua intimidade invadida pelo suspeito com perguntas relacionadas a frequência e práticas sexuais e sobre o 'calibre' do pênis de seu esposo. Em conversas com o próprio cônjuge e com um colega de trabalho, a mulher foi vista sob desconfiança e orientada a ficar em silêncio e buscar outro profissional. Apenas nos últimos dias, ela levou o caso à polícia e ao Cremeb. "Tive coragem de denunciá-lo porque tinha ouvido dizer que a paciente [que fez a primeira denúncia] estava mentindo", explicou.
A defesa de Elziro Gonçalves de Oliveira foi procurada, mas não deu retorno à reportagem até o momento desta publicação.