Só este ano, 10 localidades ficaram sem ônibus em Salvador por causa da violência
Tancredo Neves lidera número de casos
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Pelo menos 10 localidades de Salvador ficaram sem transporte público por conta da violência em 2024. O caso mais recente ocorreu nesta segunda-feira (19), no bairro de Tancredo Neves. No local, a ausência de ônibus nas primeiras horas da manhã não apenas deixou os pontos vazios, como também refletiu a insegurança sentida pela população após outro episódio de medo. Desta vez, um tiroteio ocorrido na madrugada, durante uma operação policial, matou a principal liderança do tráfico de drogas na região.
João Pedro Prates dos Santos, vulgo “JP”, além de liderar o tráfico em Tancredo Neves, era apontado como autor da tentativa de homicídio contra um policial militar em Ibicaraí, no ano de 2020, e investigado como o responsável por diversos "bondes" na capital. Segundo a polícia, com o suspeito, foram encontrados uma pistola calibre 9 mm, uma gandola camuflada, um colete balístico e um artefato explosivo. Na operação, um investigador da Polícia Civil também foi baleado, mas não corre risco de vida.
Essa foi a terceira vez neste ano que os moradores de Tancredo Neves ficaram sem acesso ao transporte público por conta da violência. No dia 19 de junho, devido às ameaças de ataques após a morte de um traficante na região, os rodoviários suspenderam a circulação na localidade, bem como nos bairros de Águas Claras e Arenoso, e só voltaram a atuar no dia seguinte. Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Fabio Primo, à época os trabalhadores receberam intimidações com relatos de que homens ateariam fogo aos coletivos.
Já no dia 3 de julho, um ônibus foi incendiado em Tancredo Neves, como forma de protesto pela morte de um adolescente no bairro durante uma operação policial, e os coletivos pararam de circular na região por um dia. Segundo o Sindicato do Rodoviários de Salvador, os manifestantes obrigaram o motorista do coletivo a atravessar o carro na via, mandaram os passageiros descerem e atearam fogo no veículo. No momento, havia cerca de 30 passageiros no ônibus.
No dia 5 de agosto, o transporte público foi suspenso após o sequestro de uma mãe e um bebê, que terminou com a mulher baleada e o sequestrador morto, no bairro da Engomadeira. O homem invadiu a casa e fez a família refém. O bebê, de 1 ano e 3 meses, foi resgatado sem ferimentos do local. O restabelecimento do transporte aconteceu três dias depois, após reforço do policiamento no local.
Em São Marcos, moradores ficaram sem ônibus por três dias, também devido à queima de um ônibus, no dia 31 de maio deste ano. Segundo informações da TV Bahia, o ataque ao coletivo teria ocorrido após a morte de uma pessoa no bairro. A Polícia Civil não confirmou a informação ao CORREIO. Por sua vez, policiais militares da 50ª CIPM, que foram até o local para averiguar a denúncia, fizeram buscas na região, e, na localidade de Bosque Real, ouviram tiros e identificaram um homem correndo, que teria as características de um dos suspeitos de incendiar o coletivo, conforme relatos de testemunhas. Ele foi levado para a Central de Flagrantes.
Outros dois ônibus foram incendiados no dia 3 de maio, em Pernambués. O caso aconteceu após uma ação policial no bairro que deixou um morto. Os ônibus atingidos foram um veículo da concessionária Plataforma, que fazia a linha 1673 – Shopping da Bahia x Fazenda Coutos, e outro da concessionária Ottrans, que operava a linha 1249 - Jardim Santo Inácio x Shopping da Bahia. Os coletivos mudaram o itinerário e fizeram o final de linha na Rua Conde Pereira Carneiro, onde está localizada a 1ª Companhia Independente, unidade da Polícia Militar do bairro. O itinerário normal foi restabelecido no dia 6 de maio.
Uma troca de tiros entre facções rivais durante a noite fez com que a localidade Vila Verde amanhecesse sem ônibus no dia 11 de abril deste ano. De acordo com a Secretaria de Mobilidade (Semob), os ônibus estavam circulando por meio da Estrada Velha do Aeroporto, evitando o acesso à localidade. Por volta das 11h, o transporte já havia sido regularmente retomado.
No dia seguinte ao episódio em Vila Verde, os ônibus suspenderam a circulação em parte de Mirante de Periperi, no Subúrbio de Salvador, por conta de uma operação policial na região que visava alcançar membros das facções do Bonde do Maluco (BDM) e do Comando Vermelho (CV). Ambas, à época, estavam em intenso confronto na região. Segundo a secretaria de Mobilidade (Semob), foi suspenso o atendimento dos coletivos que fazem a linha 1620 - Alto de Coutos/ Paripe X Hospital do Subúrbio (Via Mirantes de Periperi) na Rua Ambrosina Arruda.
Em março, foi a vez do bairro de Fazenda Coutos ter o serviço de transporte público suspenso após troca de tiros entre as organizações criminosas do Bonde do Maluco (BDM) e do Primeiro Comando da Capital (PCC) na localidade. A suspensão durou dois dias. Um mês antes, os ônibus tinham ficado sem circular durante uma manhã em Fazenda Coutos, devido à morte a tiros de um jovem no bairro. Na ocasião, o retorno do transporte público ocorreu com auxílio de policiamento reforçado.