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Sequestros, execuções e tortura: como a facção MK atua em Camaçari


 

Líderes são apontados como responsáveis pela morte de guitarrista do Afrocidade

  • Wendel de Novais

Publicado em 27/11/2024 às 11:25:38
Meiquinho é líder da MK e envolvido em diversos crimes violentos em Camaçari. Crédito: Reprodução/SSP-BA

Não é à toa que integrantes da facção MK, de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), passaram a integrar o Baralho do Crime da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP). Após a ação da facção em diversos casos de mortes violentas na cidade, as autoridades de segurança se voltaram à organização criminosa que tem um modelo de atuação específico. A MK realiza sequestros, tortura e execuções para espalhar medo e mostrar ‘força’.

As ações de Jonathan Santana Valverde, conhecido como Dom e um dos integrantes que foram adicionados ao Baralho, são exemplos desse modus operandi. Dom não é um líder da facção, mas uma figura de rua da MK que é responsável por ações violentas. “Ele não manda na facção. O próprio nome já dá conta de que as ordens são ditadas por Meiquinho, o M da sigla, e Kila, o K. No entanto, é o homem forte que executa os crimes, sendo violento e perigoso”, conta um policial, sem se identificar.

Tanto é que, só em 2023, Dom foi denunciado por dois homicídios. O primeiro deles ocorreu no dia 2 março, na região do distrito de Parafuso. De acordo com processo do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ), Dom matou a tiros o motorista de aplicativo Rodrigo Costa Araújo. O corpo da vítima foi encontrado carbonizado por familiares, na madrugada do dia 3 de março, dentro do carro em que Rodrigo trabalhava. No entanto, a investigação policial mostrou que a vítima teria sido queimada depois de morta.

“O laudo necroscópico aponta que o ofendido faleceu de traumatismo crânio encefálico por projétil de arma de fogo. Da mesma forma, o laudo de exame pericial de local do crime aponta que o veículo se encontrava afastado do ponto onde houve derramamento de sangue, sendo movido até o local onde foi queimado a 200 metros”, aponta o inquérito policial que baseou a denúncia.

Dom lidera bondes e execuções a MK. Crédito: Reprodução/SSP-BA

A motivação do crime seria o fato de Dom acreditar que Rodrigo tinha furtado drogas da MK e, por isso, atraiu a vítima alegando que teria corrida no local onde ele pôde praticar o crime, configurando uma ação de emboscada. Cinco meses depois, já em agosto, Dom, na companhia de comparsas, matou também Evaristo Barbosa Neto no bairro Alto da Cruz, em frente a um depósito de bebidas. A vítima estava de costas quando foi atingida por disparos dos criminosos na cabeça e no peito.

Além dos homicídios citados, a SSP informou que há mais duas acusações contra Dom por assassinatos. No caso de Kila e Meiquinho, mandantes das ações, chama a atenção a ordem de castigos e torturas contra alvos da facção, como conta o policial. “Eles promovem espancamentos, sequestros e chegam a torturar pessoas que, às vezes, são mortas. É uma lógica que, ainda que em menor escala, é 'importada' de facções maiores”, fala a fonte.

Kila divide o comando da MK com Meiquinho. Crédito: Reprodução/SSP-BA

Esse foi o caso de Keven Silva Moreira e Isaque Santos da Silva. Os dois foram sequestrados, torturados e mortos em 2021, de acordo com denúncia contra Meiquinho, Kila e outros integrantes da MK. No caso, as vítimas foram levadas para um local de armazenamento drogas e armas da facção, onde sofreram agressões, tortura e acabaram mortos a tiros. Os dois foram encontrados nas imediações da rotatória da Ford, próximo ao Parque das Palmeiras.

"O crime foi praticado por motivo fútil, já que se concretizou pela subtração de uma bicicleta, fato praticado pelas vítimas, em região em que os acusados detinham o controle do tráfico de drogas, e com emprego de meio cruel, visto que os ofendidos foram capturados, levados a local ermo, torturados e posteriormente mortos”, apontou o inquérito policial que antecedeu a denúncia.

Mesmo com todos os crimes, Meiquinho, Kila e Dom continuaram a promover ações violentas e espalhar o medo em bairros de Camaçari. Por isso, passaram a estar na prioridade das ações de autoridades de segurança na Bahia.