Secretária é alvo de racismo em festa no Hotel Catussaba
Olivia Santana registrou queixa na Central de Flagrantes contra as duas agressoras que seguem presas na unidade
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Priscila Natividade
priscila.oliveira@redebahia.com.br
A secretária do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do governo do estado, Olívia Santana, foi vítima de agressões racistas na tarde deste sábado (03), no Hotel Catussaba, em Salvador. Ela participava do Baile de Carnaval do Rallye do Batom, quando uma mulher se dirigiu até ela como se fosse cumprimentá-la, quando disse que Olivia não deveria estar no Hotel Catussaba e que tinha que voltar para a favela por ser comunista. A secretária Olivia Santana divulgou a foto de uma das agressoras em sua rede social (Foto: Reprodução/ Facebook) Outra mulher, que também estava presente na festa começou a xingar a secretária e a gritar que o regime militar estava voltando para “colocar ela no lugar certo”, conforme contou uma testemunha que presenciou a agressão. Olivia Santana chamou a polícia, que lavrou o flagrante e as conduziu para a Delegacia de Flagrantes, na região do Iguatemi, onde foi registrada a queixa. No entanto, o nome das agressoras ainda não foi divulgado.
“Elas certamente vão ficar detidas e terão que responder pelo crime que cometeram. Não tenho nenhuma dúvida que foi uma situação de racismo e vindo de alguém que visualmente é de pele negra. O racismo não é só cometido por brancos. Mesmo aqui na delegacia na frente do delegado, elas insistiram que não era nenhum problema me mandar de volta para a favela com a certeza de impunidade. Eu espero que a justiça seja feita”, afirmou a secretária ao CORREIO, após prestar depoimento.
No vídeo divulgado pela assessoria da secretária (assita logo abaixo), a mulher de óculos vermelho (foto) continua as agressões, mesmo dentro da viatura: "A intervenção militar vai vir para acabar com essa mordomia toda. Tudo que eu falei foi a verdade. Mas gosta do socialismo? Por que que não vai fazer Carnaval no MST?", ironiza. Outra mulher, no video a seguir, reforça os comentários: "Não quer chorar não? Quer chorar, chore. Vocês não deveriam estar aqui porque vocês defendem a favela. Aqui é o capitalismo".
Ainda de acordo com Olívia, além de racismo, o caso pode ser tipificado também como injúria e preconceito. “O Ministério Público, o Judiciário, a polícia. Vamos recorrer a todos estes órgãos. Racismo é crime”, acrescentou.
Repercussão
Em nota de repúdio, o PC do B, o partido da secretária manifestou solidariedade e exigiu punição às agressoras “para que fatos dessa natureza não se repitam”, escreveu. Na saída da delegacia, um manifestante vestido com uma camisa em propagava a volta da ditadura militar discutiu com integrantes do movimento negro, que acompanhavam Olívia. “Não cabe mais isso nos dias de hoje. São pessoas fascistas”, defendeu a assessora da secretária e membro da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Luciana Emblina.
A Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados da Bahia (OAB) também manifestou repúdio: “Não podemos tolerar o questionamento de identidade étnica, sexual, de gênero, religiosa ou de qualquer natureza com atos ofensivos e criminosos. Neste sentido, a Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial da OAB/BA, se solidariza com a Secretária Dra. Olivia Santana e com todos e todas que têm sofrido algum tipo de constrangimento e discriminação racial”. A entidade, inclusive, indica o telefone de contato para denúncias que podem ser feitas no através do telefone (71) 9 8764-4604 / 3329-8901 ou pelo e-mail igualdaderacial@oab-ba.org.br.
A vice-presidenta da Federação Nacional de Automobilismo, Selma Morais, responsável pela organização da Folia do Batom, Selma Moraes, lamentou o acontecimento. “Eu sou totalmente solidária a Olívia. Fico muito triste com tudo isso. A gente faz uma festa para todo mundo se divertir e acontece uma estupidez dessa. Olívia frequenta todos os rallyes e é parceira das mulheres. Como é uma festa aberta, eu não sei que são estas pessoas nem o que motivou elas a fazerem isso. Estamos com ela até o fim”.